Capítulo 17

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Os passos arrastavam-se pelo piso. Alguns cansados, outros apreensivos. Paredes brancas eram emolduradas com quadros de flores e com panfletos de sensibilização para rastreios. Haviam rostos, que tal como ele, estavam assustados e preocupados com as notícias que receberiam.

Big não conseguia dizer o que o irritava mais. Se era pela falta de notícias da equipa cirúrgica ou se os seus colegas lhe diziam, constantemente, que Ken era forte e que iria ficar bem. Então e o seu filho? Ficara extasiado com a possibilidade de ser pai e criara planos para o seu futuro, para agora o perder? Era como estar num filme dramático que passavam na televisão ao final da tarde.

Houve uma comoção ao seu lado e todos se tinham levantado. O seu coração apertava-se loucamente e a sua respiração acelerara. Quando viu o cirurgião coberto de sangue, tentou se preparar para o pior.
Não conseguia suportar a ideia que Ken morrera para o salvar.

"Fizemos todos os possíveis para salvá-lo, mas não conseguimos!"

As suas emoções estavam em frangalhos e as lágrimas deslizavam livremente pelas suas faces, enquanto era amparado por Arm e por Pol.

"Ele não resistiu aos ferimentos da bala. Estava em risco desde que o pai tinha os hematomas."

Então, seria assim? Num dia, recebia a melhor alegria que poderia ter e no dia a seguir ficaria sem ela? Pareceu-lhe muito injusto! Também ficaria sem Ken?

Não sabia o que o porquê, mas estava transe desde que se aproximara de Mark e o encostava à parede.

- Eu não quero saber se tu me prendes ou não, mas tens que me deixar matar James!

- Não, Big! Eu percebo-te... mas não é assim que as coisas funcionam! É tempo de deixar a justiça funcionar.

- Justiça? Que justiça? - perguntou incrédulo. Mark parecia-lhe tão estúpido que só lhe apetecia bater-lhe. - Eu perdi o meu bebé e agora posso também perder o Ken!

- E isso não os vai trazer de volta, pois não? - Mark esperou para ver a reflexão de do guarda-costas. - Matar o James, não vai trazer nenhum de volta! - Mark disse aproximando-se de Big com os olhos embargados. - A raiva e a vingança podem parecer que vão ajudar a sentires-te melhor, mas não vão! Só vão fazer com te sintas pior.

Big recuou chorando silenciosamente e abanou a cabeça em descrença.

- Isso não é verdade! Tu não sabes do que falas!

- Infelizmente, sei!

As mesas do refeitório do hospital estavam lotadas, quer fosse pelos profissionais de saúde, quer fosse pelos visitantes. Mark e Big estavam sentados num lugar ao fundo com jarras com flores brancas depositadas num móvel ao seu lado.

- Eu tinha uma irmã mais velha, a Madison. Estávamos sempre a discutir por coisas fúteis, mas éramos unhas com carne. - bebeu um gole do seu café e sorriu com as lembranças, enquanto Big anuiu em concordância. - Tens irmãos?

- Não, sou filho único. Os meus pais nunca quiseram ter filhos... não eram muito presentes. - esboçou um sorriso triste e melancólico. - Então, fui sempre uma criança sozinha e tentavam me compensar com prendas.

Mark devolveu-lhe um olhar empático. Perguntara-se como seria o passado dos guarda-costas. Teriam traumas e frustrações? Teriam perdido qualquer esperança nas pessoas e estariam tão revoltados que a única alternativa era o submundo? Ou seria uma forma de sobrevivência?

Big dançou com o dedo por cima do rebordo da chávena, sentindo as suas defesas em baixo.

- Eu não sou mau, sabes? Eu só fiquei perdido... sempre tentei ser um filho exemplar e deixar os meus pais orgulhosos, mas eles sempre me mantinham à distância... - bebeu um gole do seu chá e sentiu a ponta da língua queimar.

BigKen - Depois da traiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora