Bora

8 1 0
                                        

– Respeitável público, com vocês a mais nova sensação em termos de banda nesse país! Aqui, na minha lanchonete! – Seu Xisto não cabia em si de tanta felicidade. As portas do lugar estavam todas abertas para a rua, que havia sido fechada com antecedência para receber o evento, e mesmo assim, o estabelecimento nunca esteve tão cheio. Havia mesas espalhadas pela pista e calçadas, viradas para um palco de quermesse montado ao lado da lanchonete. Os funcionários do lugar fizeram hora-extra decorando tudo na noite anterior, incluindo Milena. Mas seus colegas de trabalho, atendentes, não faziam ideia de que também a veriam no palco naquele show.

Nas coxias, ela tremia de nervoso.

– Não sei se vou conseguir. – Ela dizia para Marizete, que obviamente foi convidada para o evento. A senhora, colocou a mão no ombro da cantora, e sorriu docemente:

– Claro que vai. Veja bem, você já está até conseguindo compor sozinha! Aquele outro menino simpático da sua banda me mostrou agora há pouco... Qual é mesmo o nome dele?

Sem pensar, Milena respondeu desatenta:

– O Ricardo?

A senhorinha estreitou os olhos:

– Não... não era esse o nome dele...

Antes que a conversa continuasse, gritos começaram. Eram os fãs que já chegavam, tentando aparecer em uma matéria gravada ao vivo por uma equipe de jornalistas artísticos da TV:

– Estamos aqui onde em breve vai acontecer o show dos Desqualificados, e olha, o público está muito empolgado, não é sempre que uma banda famosa faz um show acessível para o povo, não é mesmo?!

Mais berros ao fundo:

– É barato, sim! Desq, a gente te ama!

Marizete, lá de dentro, perguntou outra coisa:

– Aqueles arruaceiros... críticos nojentos... Será que vão aparecer aqui hoje?

Era a terceira vez que a idosa perguntava aquilo para Milena no dia. Levando em consideração seu estado mental quando se conheceram, a senhora estava até muito bem. A mais nova atribuía isso ao menor estresse na vida de Marizete depois dela ter saído das ruas. E de qualquer forma, sabia que a outra se referia ao que houve no outro show em que os fãs de Graziele atacaram o público da banda.

– Fica tranquila. O Magno já mexeu os pauzinhos dele entre os críticos e a Graziele, bem... Ela não tem mais a mesma influência desde que parou a polícia na casa dela.

A senhorinha ficou pensativa por um tempo. Depois disse:

– Não sei quem é esse Magno que você está falando, mas acredito em você... Porém, tadinha da Graziele!

Aquilo surpreendeu Milena.

– Ué, você... lembra dela?

– Como não lembrar? Parece comigo quando era mais nova... Tão jovem, mas nem tão pequena... Podia até ser minha filha..

Marizete disse isso com um sorriso tão perturbado que até desconcertou Milena. Parando para a reparar, as duas realmente tinham o mesmo olhar. Mas... Marizete tinha problemas mentais, e além do mais seria muita coincidência... não seria?

De qualquer forma, a conversa das duas foi novamente interrompida agora por Ana e Patrick que chegaram juntos na coxia. Os músicos vestiam roupas pretas e roxas, nas cores da logo da banda.

– Estamos prontos. – Ana falou, cruzando os braços.

– O Ricardo tá no palco, ajustando o som. – Patrick explicou logo, sem graça, analisando timidamente Milena enquanto falava. Ela percebeu e se perguntou se ele já sabia de alguma coisa além do climão com o baterista.

Os DesqualificadosOnde histórias criam vida. Descubra agora