Um Empoderamento

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Nos enfiamos em becos onde nunca havíamos passado. Mas as esquinas foram se tornando cada vez mais familiares. A altura das varandas, o tipo dos telhados de cerâmica, a quantidade de carroças. Não havia dívida, estávamos indo para o centro da aldeia.

Padre Amilton disse que o lugar para onde foi trouxe revelações que ninguém seria capaz de esclarecer. Nem mesmo ele. E que todos deveriam passar pelo mesmo processo de transformação, e que Olivia era a chave para isso.

Ele gesticulava muito, tentando ser didático e acolhedor, mas Olivia parecia desinteressada e envergonhada. "Ele sabe que todos os membros da igreja estão mortos? Que a Cúpula das Nuvens o considera um herege?", deveria estar se perguntando. Ou talvez simplesmente não sabia como dizer que sua liderança abandonou quase que por completo as pregações e demais ritos da igreja, se concentrando apenas em questões políticas. Pensava, quem sabe, que talvez fosse, aquela altura, uma mulher sem fé.

- Chegamos - disse o padre Amilton, colocando o capuz sobre a cabeça.

- Por onde vamos entrar? - Perguntou Olivia.

- Por onde eu saí ou... por aqui - disse o padre Amilton, golpeando o muro de madeira com a sola do pé e abrindo assim uma pequena entrada. - E isso que acontece quando você usa soldados como construtores. Vamos!

- Espera! Não sei se estou tão forte pra isso. Espiritualidade. Padre, eu fiz muitas coisas sem buscar a anuência de Coraci. Peço perdão, mas coloquei os desejos bélicos do meu Bradador acima da suprema ordem de benevolência Dele. Só não quero que ninguém pague pelo meu erro, entende?

- Então por isso se aproximou de uma Assinalada? - disse Patrick, ao entrar no beco, empunhando uma espada militar e com suas as vestes ensanguentadas.

- Como disse, Patrick? - perguntou alarmando o padre Amilton.

- Não entendo - disse Olivia.

- Como não entende, ora. Eu o segui até seu quarto a poucos dias, eu me escondi de baixo da cama dele. Baguete nunca se importou com a nossa causa ou com os desígnios do Bradador. Ele sempre foi, ainda é e sempre será um desapadrinhado. Quem tem te apoiado, quem deu a vida só pra te defender do punhal do silêncio em sua execução foi uma puta assinalada. E não quero nem imaginar por qual motivo imundo ela fez isso.

- Não tenho motivos pra acreditar em você.

- É verdade - disse Mima.

- Mas o que uma Assinalada faz aqui? - Disse o padre Amilton, paralisando Mima e se aproximando do nosso corpo para examiná-la fase a fase.

- O que você quer com ele e comigo? - Perguntou Olivia, quase tão irada quando Patrick.

- Não temos tempo, Olivia. Essa aldeias vai ser invadida por centenas de cavaleiro em poucas horas, e nós e os aldeões devemos estar prontos para recebê-los. O empoderamento precisa ser realizado agora! Deixe que nosso amigo Patrick de conta dela.

- Não! Não se o baguete puder ser salvo.

- Ele não pode. Se você não vai tomar a cabeça dele, eu vou.

- Ele pode - disse Mima.

- Pronto. Agora os dois estão paralisados. Vamos terminar o ritual, depois damos conta dos dois. Dos três, melhor dizendo.

Antes de atravessar o buraco aberto no muro, Olivia disparou-nos um breve olhar que era quase um pedido, indecifrável contudo. E uma vez lá dentro, com o padre, não demorou mais do que alguns segundos para que Patrick recuperasse o controle do seu corpo, com um impulso violento.

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