Ao acordar na manhã seguinte, o Arthur já havia se levantado e ouvi uma música que vinha da sala. Ainda sonolenta, tratei de me levantar, pois tinha que ir trabalhar, mas também estava curiosa com a melodia que tomava conta do apartamento.
Chegando a sala, encontrei meu maninho sem camisa, dançando de braços abertos, como se saudasse o sol da manhã. Assim que me viu, ele me puxou para acompanhá-lo em uma valsa improvisada. Rindo, não pude deixar de perguntar:
- Bom dia, meu príncipe. Qual o motivo de tanta alegria logo cedo?
- Hoje eu vou atrás do meu sonho.
- É mesmo? Que maravilha!
- Hoje à noite, vou me apresentar naquele clube de comédia no centro da cidade. Sei que é só para amadores, então...
Arthur sempre quis se apresentar nesse clube, mas nunca teve coragem, por achar que o público não iria gostar de suas piadas. Vê-lo tão alegre e confiante me deixou muito feliz, tanto que o beijei no rosto e disse:
- Hoje você vai brilhar, maninho e eu estarei na primeira fila para te aplaudir.
Nada me fazia mais feliz do que vê-lo sorrir daquele jeito. Eu queria muito ficar em casa para ajudá-lo a se preparar, mas tinha minhas próprias obrigações. Felizmente, eu voltaria antes do jantar e poderia dar uma mãozinha antes da apresentação.
Passando pela loja de discos, eu mesma acertei a demissão do meu maninho. O dono não queria pagar os direitos dele, mas ameacei chamar a Polícia e tudo foi resolvido rapidinho.
Confesso que fiquei contando os minutos até o fim do expediente por causa do compromisso mais que especial daquela noite. Chegando ao apartamento, Arthur já estava quase pronto. Logo após o jantar, fui me trocar, ele pegou seu inseparável caderno de piadas e saímos.
Tivemos que pegar um ônibus até o centro e durante todo o trajeto, percebi os olhares de todos sobre o coitado que estava sentado do lado de uma das janelas, conferindo as piadas que queria contar. Qual era o problema daquela gente? Eles não tinham nada melhor pra fazer do que ficar olhando a vida dos outros? Por acaso estava escrito "anormal" na testa dele? Todos se achavam perfeitos, mas não passavam de um bando de hipócritas preconceituosos que não enxergavam mais nada além do próprio umbigo.
Chegando ao nosso destino, percebi que o Arthur estava com a mão gelada de tanto nervosismo, mas o encorajei a ser ele mesmo e mostrar seu talento no palco. Ele seria o terceiro a se apresentar naquela noite e enquanto esperávamos, ficou anotando algumas coisas para enriquecer seu repertório.
Depois de duas apresentações totalmente sem graça, finalmente chegou a vez do meu querido irmão. Ele voltou a ficar nervoso, mas segurei sua mão por um momento, sorri e isso o fez se sentir melhor.
Quando subiu ao palco, ele deu uma risadinha e cumprimentou o público, mas logo na primeira piada, começou a rir sem parar. Mesmo tomando todos os remédios direitinho, ele ainda tinha essas crises e quase sempre em momentos inapropriados. Por mais que tentasse, ele não parava de rir, chegando a tossir e ficar sem ar.
Para piorar, todos começaram a vaiá-lo e não aguentando mais, resolvi intervir. Subindo no palco, tentei dar uma ajudinha, mas como não sou comediante, não deu muito certo. Sem outra alternativa, começamos a rir da situação e nos retiramos como se nada tivesse acontecido.
Enquanto esperávamos o ônibus para casa, Arthur finalmente conseguiu parar de rir e me disse com tristeza:
- Eu estraguei tudo...
- Claro que não. Só adquiriu experiência.
- Mas tudo o que eu fiz foi rir sem parar.... Como posso me tornar um bom comediante, se nem consigo contar uma piada sem rir desse jeito? Essa doença só atrapalha minha vida...
Antes que eu pudesse responder, o ônibus chegou e resolvi terminar aquela conversa em casa. Assim que chegamos, meu maninho sentou no sofá e ficou de cabeça baixa, mas logo me sentei ao seu lado e disse:
- Meu querido, não veja isso como um defeito...
- Como assim?
- Sua risada te torna especial. As outras pessoas querem que você esconda sua doença mental, mas ela faz parte de você e ninguém tem o direito de criticá-lo por isso. Você já nasceu assim.
Tive medo de estar me perdendo nas palavras, mas tudo o que eu queria era que ele se aceitasse do seu jeitinho, sem se importar com o preconceito dos outros. Durante mais um de nossos abraços calorosos, comecei a lhe fazer cócegas para que sorrisse e fiz um pedido:
- Arthur, me prometa que você nunca vai desistir de seus sonhos, não importam os obstáculos ou as pessoas cruéis que atravessarem seu caminho.
- Eu prometo, desde que você sempre esteja comigo.
- Claro que prometo, seu danadinho.
Começamos a brincar um com o outro e aquela noite humilhante terminou com muitos risos e alegria.
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POR TRÁS DE UM SORRISO
FanficA pequena Elizabeth vê sua vida se transformar para sempre quando seu irmãozinho Arthur vem ao mundo. Ao contrário de sua mãe, a menina o ama desde o primeiro momento e não demora muito para que ela se torne responsável pelo menino. Tudo fica ainda...