PAIXONITE SEM SENTIDO

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Até esse momento, só falei sobre meu irmão e vocês podem pensar que não tenho vida própria. Como fui obrigada a me tornar adulta cedo demais, não pude curtir a adolescência, por isso, nunca namorei. Isso nunca me fez falta, mas eis que o destino resolve aprontar comigo para bagunçar tudo na minha vida.

Uma semana após o episódio do clube de comédia, ganhei um novo colega de trabalho. Seu nome era Marco e ele chamou minha atenção assim que o vi. Alto, corpo magro, pele clara, cabelo curto e castanho-claro com uma pequena franja sobre a testa e para completar, tinha lindos olhos verdes como esmeraldas...

Só em vê-lo, já fiquei toda encantada, mas quando ele veio falar comigo... Ele me cumprimentou em Italiano e como aquela voz era linda.... Fiquei com as pernas bambas e percebendo meu embaraço, minha colega do lado tomou a frente da situação, se apresentando ao novato.

Ele também parecia meio sem jeito e começou a falar nosso idioma, explicando que tinha chegado da Itália fazia menos de uma semana e estava aliviado por conseguir um emprego tão depressa.

Enquanto ele falava, meu coração batia acelerado. O que estava acontecendo comigo? Será que estava ficando doente? Ou será que era a tal "paixão à primeira vista" de que tanto ouvi falar? Seria possível?

Logo ele se voltou para mim e quis saber o meu nome, mas eu parecia anestesiada e depois de gaguejar um pouco, finalmente consegui dizer que me chamava Elizabeth, mas a conversa parou por aí, pois começaram a chegar os primeiros clientes do dia.

Para minha sorte, o Marco seria o novo entregador e como o movimento estava intenso, ele mal tinha tempo para respirar entre uma entrega e outra. Se ele ficasse mais tempo por lá, eu mal conseguiria me concentrar no meu próprio serviço. Como um desconhecido podia provocar tantas sensações estranhas em mim? Mal tínhamos nos falado!

Durante o intervalo para o almoço, acabamos nos encontrando em uma lanchonete na esquina e tornei a ficar tímida na frente dele, mas logo começamos a conversar e me senti muito mais à vontade. Descobri que mesmo sendo de continentes diferentes, nós tínhamos muito em comum, o que me deixou chocada. A gente se encaixava direitinho!

Quando cheguei em casa, contei tudo o que havia acontecido ao Arthur e ele me perguntou se eu sentia alguma coisa pelo Marco. Fiquei toda sem jeito, dizendo que tínhamos acabado de nos conhecer, mas meu maninho é esperto demais e logo percebeu o que estava acontecendo. Com aquele sorriso sapeca, ele deduziu que eu estava apaixonada.

Achei essa ideia completamente absurda e tratei de mudar de assunto, perguntando se ele tinha escrito alguma piada nova enquanto estive fora, mas na hora de dormir, fiquei me revirando na cama, lembrando de tudo o que havia acontecido naquele dia. Não conseguia parar de pensar naquele italiano charmoso e a ideia de estar apaixonada por ele começou a fazer sentido para mim. Em 29 anos de vida, será que finalmente tinha encontrado a minha metade?

Tudo aconteceu muito rápido. Em apenas duas semanas, já estávamos namorando e finalmente o apresentei ao Arthur, que sempre me incentivou a investir nesse romance. Tivemos um jantar bem agradável, onde meu maninho testou suas novas piadas, mas senti que o Marco não curtiu muito, pois só fingiu rir delas.

Terminada a refeição, o Arthur se ofereceu para lavar a louça, só para que ficássemos sozinhos na sala. Sorrindo, eu quis saber:

– O que achou do meu maninho?

– Ele gosta muito de rir, do jeitinho que você disse. Mas...

– Mas o quê?

– Como você aguenta?

– Do que está falando?

– Como consegue conviver com alguém tão esquisito?

Isso era sério mesmo? Ele tinha acabado de insultar meu irmão dentro da minha própria casa? Não dava pra acreditar! Meu sangue ferveu feito lava de vulcão, mas antes de cometer uma loucura, quis ter certeza do que tinha acabado de ouvir:

– Mas que loucura é essa?

– Não é loucura. Você é jovem bonita, cheia de potencial.... Quer mesmo passar o resto da vida presa a um maluco que ri sem motivo, só porque é seu irmão? Deveria mandá-lo para um sanatório, onde seria melhor tratado. Seria o melhor para os dois.

Isso foi a gota d'água! Enfiei a mão na cara dele com tanta vontade, que quase quebrei meus dedos, mas valeu a pena, pois ele caiu do sofá como se fosse um saco de batatas. Sem explicação, comecei a rir sem parar, enquanto ele tentava se recuperar sentado no chão.

– Você é louca?

– Não. Eu só estou defendendo quem amo.

– Pensei que também me amasse!

– Amar? Só estamos nos conhecendo!

– Você me pareceu ser tão legal quando nos conhecemos.... Acho que me enganei.

– Fui eu que me enganei com você, seu canalha!

– É mesmo?

– Não se faça de besta! Você já sabia que meu irmão era diferente! Por que o trata com desprezo agora?

– Porque não pensei que ele fosse tão estranho desse jeito. Conta umas piadas sem graça e quer que todos riam! Agora posso ver que você é tão esquisita quanto ele.

– Prefiro ser "esquisita" do que idiota como você!

– Não acredito que me interessei por você.

– Pois eu digo o mesmo!

A briga ficou mais séria quando ele quis me agredir, mas nesse momento, o Arthur apareceu e o nocauteou com um único soco. Voltei a rir escandalosamente e o abracei emocionada.

– Sempre soube que havia um grande guerreiro aí dentro, maninho.

– Eu não podia deixar que ele te machucasse.

Beijando aquele rostinho lindo, declarei:

– Ninguém mais vai ficar entre nós. Você sempre será o único amor da minha vida. Quase quebrei minha promessa por causa de um otário qualquer... Bem dizem que "quem vê cara, não vê coração".

– Tudo bem, Lizzie, você só estava buscando sua felicidade.

– Minha felicidade é você, meu anjinho...

A gente se abraçou com todo o carinho, até que o Arthur olhou para o chão e me perguntou sorrindo:

– Será que podemos jogar o lixo fora?

Tivemos uma crise de riso juntos enquanto chutávamos aquele safado para fora do apartamento, trancando a porta em seguida. Pensamos em jogá-lo pela janela, mas achamos que seria muito drástico. Bem que ele merecia isso.

Meu maninho tinha ouvido toda a nossa conversa antes da briga e tornei a me desculpar por ter deixado uma criatura tão vil quase entrar em nossas vidas. Aquele canalha devia estar planejando me arrastar para Roma após o casamento, largando meu maior tesouro em algum depósito de loucos aqui em Gotham. NEM SONHANDO!

Como ele podia ser tão cruel? Na verdade, a maior pergunta era: como pude me enganar assim? Como fui me enfeitiçar por um par de olhos bonitos? Eu me senti uma completa imbecil, mas como sempre, meu doce Arthur estava comigo para me alegrar. Naquele momento, descobri que a paixão era só para os fracos, ou seja, não era pra mim.

POR TRÁS DE UM SORRISOOnde histórias criam vida. Descubra agora