HUMILHAÇÃO NACIONAL

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Na manhã seguinte, temi encontrar o Marco no trabalho, mas ele nem deu as caras. Talvez estivesse morrendo de vergonha por ter apanhado de uma mulher e um doente mental. Eu esperava nunca mais ter que cruzar nem com a sombra dele.

Quando voltei para casa à noite, o Arthur já tinha preparado nosso jantar, me recebendo com aquele doce sorriso que só ele sabe dar. Mais tarde, fomos relaxar assistindo o programa do Murray Franklin. Éramos fãs desse cara desde pequenos e meu maninho sonhava em ser entrevistado por ele, para contar suas piadas, mas tudo mudou naquela noite.

Estávamos nos divertindo como sempre, mas de repente, o Murray mostrou um vídeo do nosso vexame no clube de comédia no mês anterior! Por que ele fez isso? Como tinha conseguido essas imagens? Nem sabia que tinham filmado!

Com um sorriso idiota na cara, ele criticou a risada descontrolada do Arthur e zombou da minha tentativa de ajudá-lo no palco, nos chamando de "coringas". Na mesma hora, desliguei a TV e ao olhar para meu maninho, vi que ele estava pálido e em estado de choque. Quando falei com ele, só conseguiu murmurar:

– Ele não podia ter feito isso com a gente...

– Eu sei, meu anjo, mas somos mais fortes do que ele pensa.

Não tive tempo de arranjar argumentos melhores, pois ele se retirou depressa, indo tomar um banho para esfriar a cabeça. Fiquei muito ofendida com o que o Murray fez, afinal, ele não tinha o direito de ridicularizar os outros em rede nacional daquele jeito e minha vontade era dizer umas boas verdades na cara dele, mas sabia que o estrago no coração do Arthur era muito maior que meu sentimento de revolta.

Depois do banho, ele foi para o quarto, onde o encontrei já de pijama deitado na cama e agarrado a um boneco de palhaço que lhe dei quando ainda era criança. Isso não era bom sinal, pois ele só o abraçava daquele jeito quando estava muito triste ou assustado, por isso, sentei ao seu lado e tentei animá-lo, mas nada parecia surtir efeito.

De repente, uma frase veio ao meu coração e achei que seria perfeita para tirá-lo daquela depressão:

– Meu amor, a vida pode até te derrubar, mas é você quem escolhe continuar no chão ou levantar outra vez.

Não sei explicar qual foi o impacto dessas palavras no coração do meu querido irmão, só sei que na mesma hora, ele me encarou com os olhinhos brilhando e um sorrido alegre, o que tirou um peso dos meus ombros. Logo estávamos rindo e conversando como se nada tivesse acontecido e descobri que ele era como uma fênix, pois sempre conseguia se recuperar, não importando o quão doloroso fosse o golpe.

No dia seguinte, eu estava de folga e aproveitei para fazer faxina. Enquanto eu espanava os móveis da sala, o Arthur separava a roupa para lavar, quando o telefone tocou e fui atender. Do outro lado da linha, estava um produtor do programa do Murray, convidando nós dois para uma entrevista na sexta-feira (dali a 6 dias, já que era sábado).

No primeiro momento, pensei em dizer um monte de baixarias e desligar o telefone na cara dele, mas logo pensei melhor e aceitei o convite, pois já tinha um grande plano em mente.

Arthur não gostou muito da novidade e disse aflito:

– Ele só nos convidou para servirmos de piada outra vez!

– Sei disso, mas está na hora de todos saberem quem somos de verdade. Não vamos deixar mais ninguém rir às nossas custas.

– O que está tramando, maninha?

– Uma apresentação que ninguém esquecerá.

Percebi que ele estava muito confuso, mas logo expliquei minha ideia. Já que o Murray tinha nos apelidado de "coringas", era assim que nos chamaríamos e para completar, nos vestiríamos de palhaço, mas não como os de circo. Seríamos palhaços elegantes e refinados.

Ao ver o amado palhacinho do meu irmão sobre sua cama, resolvemos nos inspirar no visual dele. Ele usava terno vermelho, camisa verde e colete amarelo, o rosto pintado de branco, sobrancelhas, nariz e boca em vermelho e os olhos verdes com uma pintura azul ao redor. Para completar, o cabelo era verde-escuro. Era o visual perfeito para nós dois.

O Arthur adorou a ideia. Por sorte, ele já tinha a maquiagem e algumas peças de roupas para compor o visual, mas ainda tivemos que sair para comprar o que faltava. Depois que acertamos cada detalhe dos nossos figurinos, começamos a planejar nossa apresentação. Estávamos ansiosos.

POR TRÁS DE UM SORRISOOnde histórias criam vida. Descubra agora