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LIZ

Solto o ar preso em meus pulmões, estava prendendo a respiração por tanto tempo que nem percebi quando parei de contar, meu recorde era cinquenta e cinco segundos, foi na última visita de mamãe ao hospital onde fiquei internada durante as três sem...

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Solto o ar preso em meus pulmões, estava prendendo a respiração por tanto tempo que nem percebi quando parei de contar, meu recorde era cinquenta e cinco segundos, foi na última visita de mamãe ao hospital onde fiquei internada durante as três semanas, quando ela falou sobre o enterro da minha irmã, aquele que eu não pude ir por não saber que estava acontecendo. Ouvir quem compareceu e quem não foi,  as homenagens e lidar com as lágrimas e seu tom choroso me levou ao meu máximo. Traição. Foi o sentimento que queimou no meu peto. Negaram-me a chance de despedida da pessoa que mais amei em toda a minha vida. Morta

Pérola estava sem vida e eu sem direção. 

 A merda do carro foi destruído por completo e nem a chave foi encontrada. A vida me tirou você, P, mas nossos pais me tiraram o direito do adeus.

O que eu faço agora? 

Libero meus lábios da posição de prisioneiros entre meus dentes, aliviada e anestesiada, encaro meu reflexo no espelho e questiono mais uma vez o motivo de ter entrado naquele carro e ter deixado minha única irmã dirigir no estado transtornado que se encontrava. Arremesso meu corpo ao encontro do colchão macio, esvazio os pensamentos e mergulho no buraco negro acoplado em minha mente, desvio minha atenção de tudo que ocorreu no último mês e foco nas boas lembranças, quase posso sentir o gosto do sorvete de chocolate que comemos escondidas na madrugada do meu aniversário de oito anos. As gargalhadas, os sorrisos, o olhar cúmplice e o medo de ser descobertas nos tornaram mais unidas e destemidas, éramos corajosas juntas e aventureiras o suficiente para espantar qualquer valentão que se metesse com as irmãs Flores e suas agregadas. 

Você não possui mais energia vital e eu não pude me despedir. Só tenho as boas lembranças para me reerguer.

O que eu faço agora?

Toc toc.

É ele, no fim ela sempre o envia para tentar terminar o que começou. No caso, me tirar do quarto.

—Filha, posso entrar? — a batida é suave e eu sei que ele vai esperar minha permissão mesmo possuindo uma cópia da chave. 

— Estou dormindo.

— Sei que está acordada, abelhinha, só quero falar com você por um minuto. —a voz de papai parece melancólica e com um gigante contraste de cansaço. Ele também precisa dormir.

— Estou dormindo. — Repito.

— Tudo bem, quando você pretende acordar?—Eu gostaria que fosse agora, no entanto, sempre que mantenho os olhos abertos acontece algo pior.

— Eu... — travo e fecho os olhos. — Pai?

— Sim, querida?

— Estou dormindo?

Ele suspira, exausto e vencido assim como eu.

— Não, princesa. Infelizmente não.

— Isso dói, por que eu não pude me despedir dela?

ARVORE DESPIDA [2024]Onde histórias criam vida. Descubra agora