LIZ
Eu sabia que eventualmente teria que voltar para a escola, mas não imaginei que seria tão cedo. Minhas mãos estão suadas, e mesmo que eu tente limpá-las na calça enquanto olho pela janela do carro, é inútil. Saulo está dirigindo em silêncio desde que saímos de casa, as mãos firmes no volante, a mandíbula contraída. Ele mal trocou uma palavra desde o jantar, o que talvez fosse até um alívio. Eu ainda me sentia exausta e... perdida.
Pérola costumava dizer que não importa o quão difícil fosse uma situação, você sempre pode respirar e enfrentar de cabeça erguida. Mas é mais simples falar do que fazer, certo?
Eu não queria estornar para a escola agora, preferia continuar desconectada da realidade. Afinal, por que eu iria ficar onde todos estariam me observando com pena ou fingindo entender a dor que só eu conhecia? Bem, eu não quero. Fui forçada, praticamente empurrada para o matadouro pelos meus pais e a novo psicóloga que eles estão frequentando. Eu queria me misturar ao fundo como antes, mas sabia que cada olhar, cada sussurro no corredor, seria sobre mim e sobre ela.
A única presença que poderia tornar esse retorno um pouco menos insuportável era Aiden. Ele e Pérola... eu ainda não sabia o que pensar sobre ele estar aqui. Parte de mim o via como um lembrete doloroso de tudo o que ela perdeu. Mas outra parte... outra parte estava grata. Ele me entendia, de alguma forma. Talvez até melhor do que eu gostaria de admitir.
— Você está pronta? — A voz de Saulo rompe meus pensamentos, fria e direta. Ele nem ao menos olha para mim enquanto fala, mas há um tom desafiador ali, como se estivesse me testando.
— Claro que sim — respondi, mais para me convencer do que a ele.
Ele soltou uma risada seca e, pela primeira vez, virou-se para me encarar com aquele olhar de quem sabia algo e eu não.
— Você diz isso, mas não é o que seu rosto mostra, Florzinha.
Fiz uma careta, frustrada com a insistência dele. A música alta e irritante que ele tinha escolhido não ajudava em nada.
— Sério, Saulo? Essa música é insuportável. Você realmente acha que isso vai me animar? — Reclamei, tentando manter o tom leve, mas era difícil disfarçar a irritação.
— O que você esperava? Um concerto de piano? — Ele arqueou uma sobrancelha, desafiador. — Às vezes, você precisa de um pouco de barulho para esquecer as coisas.
— Não é barulho, é poluição sonora! — Retruquei, mas no fundo, percebi que ele tinha razão. O que eu realmente queria era um pouco de silêncio, uma pausa da pressão que sentia no peito.
Ele desviou o olhar, mantendo os olhos na estrada, e o silêncio caiu novamente, mas era um silêncio mais confortável desta vez. Algo havia mudado, como se a tensão entre nós estivesse prestes a explodir ou se dissipar.
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ARVORE DESPIDA [2024]
Ficção AdolescenteARVORE DESPIDA - segredos de família. [2024] Liz perdeu sua irmã em um acidente de carro e precisará lidar com uma nova realidade, uma que possui alguém do passado que ela pensou ter imaginado, segredos, desejos proibidos e o ex da sua irmã que el...