Apenas negócios

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Com a chegada do crack as coisas mudaram completamente. Por ser uma droga bem mais acessível e barata que a cocaína -embora fosse produzida a base dela- eles começaram a atrair mais clientes. A estratégia de Big Dope parecia ser arriscada porém estava dando certo. Estava vendendo uma droga pela metade do preço que vendia a cocaína, porém em maior quantidade. E por ser mais em conta, não tinha a possibilidade de malandro querer pagar depois. Sendo assim os calotes acabaram. Todos tinham dinheiro pra pelo menos uma pedra, nem que fosse algumas moedas. Porém nunca ficava em apenas uma pedra. O crack era viciante. Quem usasse imediatamente queria mais. E quanto mais compravam, mais dinheiro Big Dope faturava. Uma estratégia que ele adotou foi espalhar bancas pelas ruas ao redor da cidade para aumentar o alcance das vendas. Lil, Z e Mike -por serem os de mais confiança de Big Dope- haviam sido mandados para trabalharem no centro da cidade, próximo a área dos Bloods, onde o fluxo era maior.

Big Dope não queria respeitar e muito menos provocar os rivais, pois sabia que qualquer conflito poderia prejudicar seu negócio. Porém ele havia os aconselhado que agissem em sua legítima defesa caso fosse necessário. Portanto estavam sempre armados. Nos primeiros dias tudo ocorreu bem. Conseguiram fazer uma boa grana sem imprevistos. Porém, com o passar dos dias começaram a sofrer alguns ataques isolados de malucos tentando roubar suas drogas ou então apenas matá-los. Eles haviam completado sua banca com mais alguns manos, porém após alguns ataques fatais acabaram restando apenas os três novamente. Era até melhor já que ele davam conta do recado. Ao final de todos os dias eles levavam todo o dinheiro que conseguiam para Big Dope e eram recompensados todo final de semana com uma boa quantia -muito maior do que quando vendia apenas o pó.

Após um fim de mais uma semana, eles recebem o pagamento e então decidem sair para curtir. Lil estava cansado, só queria ir pra casa. Z dá uma carona para ele. Ao chegar em sua casa, Z para o carro em frente e desliga o motor.

-É, que semana hein -diz Z suspirando e escorando um braço no volante- O trampo realmente ficou mais corrido por conta das mudanças.
-Nem me fale. Tô todo quebrado -diz Lil levando a mão ao pescoço- Não vejo a hora de deitar na minha cama e descansar.
-Descansa mesmo, nego. Aproveita que amanhã a gente entra mais tarde pra dormir um pouco mais.

Lil se vira para Z e o vê com uma expressão de indiferença, como se não se importasse tanto se não tivesse descanso ou não.

-Você gosta do que faz? -pergunta ele em tom solene.
-Não é questão de gostar ou não, mas sim de ser necessário.
-Tá, mas o que o seu coração diz?
-Eu sei lá, não tenho tempo pra ouvir meu coração. Mas se eu parasse para ouvi-lo, com certeza não escutaria vozes e sim pulsações constantes.

Z não era o tipo de cara que demonstrava seus sentimentos e suas emoções para ninguém. Parecia ser uma pessoa cheia de barreiras internas. Lil percebe isso e então desiste de tentar acessá-lo. Porém, quando estava abrindo a porta do carro, Z continua a dizer.

-Eu não sei se essa é a melhor vida que eu poderia escolher. Mas se eu optasse por seguir o mesmo caminho que meu irmão seguiu... -ele aperta o volante ao lembrar de seu irmão- Jamais seguiria seu caminho...
-Você tem irmão? -indaga Lil até soltando da maçaneta da porta e se voltando para a conversa.
-É... Pode se dizer que sim -Z dizia aquilo em tom frio como se acumulasse uma raiva dentro de si- Fui conhecê-lo apenas depois que fugi de casa. E de quebra acabei conhecendo minha outra família. Nós crescemos juntos e sempre compartilhamos os mesmos ideais. Até que ele se tornou o orgulho da família -diz Z apertando ainda mais o volante como se estivesse apertando o pescoço de seu irmão. Lil percebe isso.
-E por que isso te incomoda tanto?
-Porque ele se vendeu! -exclama Z socando o volante- Virou um verme, um lixo, e seguiu o caminho totalmente contrário daquele que estávamos caminhando. Pra família ele se tornou um herói, mas pra mim... Pra mim ele agora não é nada... -o ódio entalado em sua garganta deixava evidente o quanto de rancor ele acumulava de seu irmão.

DopemanOnde histórias criam vida. Descubra agora