Ambições de um vilão

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-E então ele foi embora -finaliza Lil, dando uma garfada no macarrão em seu prato.
-Pff... Covarde do caralho -diz Z com a boca cheia. Estava cheio de fome- Mas que se foda, ele não fazia diferença mesmo. Foi só um peso morto a menos para nós -diz em tom de desprezo.

Duas semanas haviam se passada desde que Mike havia deixado a gangue e se mudado para Hortocity. Desde então, aquela era a única vez que Lil havia visto Z após um bom tempo. Eles então aproveitam o pouco tempo juntos que tinham para trocar uma ideia.

-E então, como estão as coisas no novo cargo? -diz Lil.
-Corridas pra um caralho. Eu não paro. Agora mesmo eu deveria estar fazendo uma entrega pra um cara do outro lado da cidade, mas meu estômago tava gritando de fome e aí tive que parar aqui pra me abastecer.
-O que você tá fazendo, exatamente, agora?
-Faço de tudo. Mas principalmente, todo o trabalho sujo acabou caindo na minha responsa.
-Trabalho sujo? Que tipo de trabalho sujo?
-Você sabe... -diz Z fazendo sinal com a mão como se estivesse apertando um gatilho acompanhado de um sorriso sagaz.

Ao ver aquilo, Lil passa os próximos segundos observando sua feição e nota que ele havia mudado. Continuava com seu mesmo jeito inicial, porém parecia mais frio. O fato de dar risada após dizer que estava sendo pago para matar era muito assustador. Lil então começa a imaginar o tanto de vítimas que ele já havia feito. Provavelmente o aumento dos corpos no chão da Green Leaf (rua em Compton na qual as pessoas deixam os corpos que foram executados) se deviam por conta dele, já que o aumento coincidiu com a promoção de Z. A naturalidade da qual ele falava aquilo sem perder o apetite era assustadora.

-E você, como tem passado? -pergunta Z.
-Tenho andado bem pensativo ultimamente -diz Lil- Refletindo e repensando muita coisa.
-Só planejando o próximo golpe, huh? Hehe! É isso aí, negão. Mente de vilão... Mente de vilão -diz Z todo empolgado cumprimentando ele com um aperto de mão. Lil completa porém bem contrariado.
-Você não pensa em largar tudo as vezes e mudar de vida? -indaga ele.

Ao ouvir aquilo Z acaba deixando escapar o resto de comida que havia em sua boca e cai na risada. Lil fica olhando para ele sem esboçar reação como se quisesse ser levado a sério. Assim que Z se recompõe e percebe isso ele diz:

-Tá brincando? Largar dessa vida pra qual outra?
-Eu sei lá... Pra alguma vida digna e honrosa.
-Não tem nada mais honroso do que manter sua honra no meio de desonrados. Dá só uma olhada ao seu redor -diz Z quase sussurrando, se aproximando da mesa- Olhe só para a cara de cada um aqui -ele então, junto de Lil, passa o olhar pela sala analisando a expressão de cada um que ali trabalhavam- Estão todos movidos pela mesma motivação medíocre.
-Qual?
-O dinheiro -diz Z dando ênfase como se contasse uma história- São todos escravos do dinheiro. Não há honra nenhuma nisso.
-E o que nos faz diferente deles?
-Nós somos completamente diferentes deles -exclama Z, ainda sussurrando- Almejamos o dinheiro? Sim. Mas não nos contentamos com isso. Não é da nossa natureza se contentar com pouco. Nós dois, eu e você -diz Z reforçando com as mãos- nascemos para liderar. Essa é a nossa natureza. Talvez seja por isso que você esteja tão indeciso ultimamente pois não está realizando aquilo que foi feito para fazer.

De fato, aquilo poderia ser verdade. Lil então cessa as perguntas e começa a pensar sobre.

-Mas fica tranquilo -diz Z levando uma garfada de macarrão até sua boca- Logo, logo as coisas mudarão pra gente...
-Como você sabe?
-Eu só sei -diz ele de forma convicta. Parecia estar certo daquilo- Espere e verá...

Lil não argumenta, embora tivesse muitas perguntas a serem feitas.
De repente, a porta se abre subitamente -como se tivesse sido chutada- e Big Dope entra por ela todo alterado chutando tudo o que havia em sua frente. Ao ver Z sentado na mesa ele se surpreende e então logo começa a atirar ordens.

DopemanOnde histórias criam vida. Descubra agora