Cicatrizes

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Com Big Z no comando do tráfico a situação começou a ir de mal à pior nas ruas. O que antes parecia um cemitério lotado de zumbis agora parecia mais um inferno, cheio de demônios enlouquecidos. Os crimes haviam aumentado drasticamente e a taxa de morte ainda mais. Pessoas morriam todos os dias por diversos motivos. O crack estava deixando as pessoas muito violentas -até mesmo aqueles que eram mais calmos-, gerando assim muitos conflitos pelas ruas, por motivos, as vezes, banais. Qualquer coisa era motivo de se iniciar uma briga -que terminaria em morte. Amigos de infância estavam se matando -até mesmo familiares- por conta dos efeitos da droga. Estava impossível andar na rua sem sofrer algum ataque, assalto ou, na pior situação, acabar sendo alvejado por alguma bala perdida. Compton havia se tornado um palco de guerra, e enquanto a chacina acontecia descontroladamente pela cidade, Big Z lucrava mais do que nunca, afinal a cidade inteira estava sob os efeitos do crack. Isso era bom para os Devil Bloods, mas principalmente para Big Z.

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5 MESES DEPOIS...

Lil havia subido de patamar e se popularizado ao lado de Big Z cada vez mais, porém estava cada vez menos de acordo com as atitudes dele, que a cada dia que passava se tornava cada vez mais frio e cruel. Não tinha empatia nenhuma por seus funcionários e muito menos respeito. Os tratava como bem entendia e quando não via mais utilidade neles dava cabo como se fossem objetos descartáveis. Isso ia contra os valores de Lil e o fazia repensar todos os dias se realmente deveria estar ali.

Era apenas mais um dia normal -em meio às circunstâncias. Big Z estava em sua sala com Lil organizando o dinheiro quando de repente um de seus peões aparece na porta dizendo que havia uma mulher na porta dando trabalho. Big Z se levanta e vai até lá para ver o que era. Lil vai logo atrás.
Assim que abre a janelinha no topo da porta ele encontra uma mulher bem magra, com a roupa toda rasgada e o corpo todo marcado por hematomas e sujeira.

-O que você quer? -pergunta Big Z, olhando pelo buraco da porta.
-Eu quero uma pedra... -diz a mulher tomada por calafrios, com a cara toda desfigurada por conta dos efeitos da pedra.
-Quanto você tem? -pergunta Z.
-Tenho isso aqui... -diz a mulher mostrando uma moeda pra ele.
-Uma moeda? O que eu vou fazer com essa moeda, vadia? -indaga Big Z, irritado.
-É tudo o que eu tenho -diz a mulher- P-pode me dar qualquer coisa... pedra, pó... O que der pra comprar...
-Com essa moeda você não consegue porra nenhuma! -exclama Big Z irritado.
-Por favor... Me dá qualquer coisa... por favor... -implora a mulher.

Nesse momento, Big Z olha uma tatuagem no pescoço dela que desperta algo dentro dele. Ele então começa a analisá-la de cima pra baixo, de baixo pra cima, e assim que olha no fundo de seus olhos ele entra em choque e fecha o buraco da porta subitamente.

-Não pode ser... -diz ele de costas pra porta, com os olhos arregalados.
-O que foi, Z? Quem é? -pergunta Lil.

Big Z conhecia aquela mulher que estava na porta. Era a mesma mulher que o mandava para as ruas quando era criança para pedir dinheiro pra ela poder comprar drogas. A mesma mulher que havia tentado matá-lo inúmeras vezes desde o ventre e até depois de ter dado a luz a ele. Aquela mulher era sua mãe, e ao reconhecê-la, Big Z entra em choque. Não via ela desde os sete anos de idade, quando fugiu de casa após ela tentar matá-lo com uma faca. Desde então ele nunca mais ouviu falar dela, e agora ela estava ali, parada em sua porta pedindo droga.

-Quem é, Z? -indaga Lil novamente com mais veemência.

Big Z começa a suar frio e engole seco. Seu coração dispara. Não sentia aquela sensação há muitos anos atrás, quando ainda era pivete. Aquela reação deixa todos ali confusos e intrigados. Afinal de contas, o que aquela mulher havia feito para deixar Big Z naquele estado de pânico? Quem era aquela mulher? Essas são as perguntas que eles fazem para si mesmo enquanto o observavam tremer feito um animal encurralado. Sua visão fica turva por alguns segundos após rever alguns flashbacks de sua infância, e então ele se recupera e respira fundo. Assim que ele recupera sua postura ele se põe a caminhar em passadas largas e firmes até a cozinha. Lil é o único que tem coragem de segui-lo -e o único que poderia. Ao chegar na cozinha Big Z coloca uma panela no fogão e começa a jogar vários ingredientes dentro. Os mesmos ingredientes necessários para fazer o crack. Lil observa tudo aquilo muito confuso, porém todas suas perguntas são ignoradas. De repente, quando a mistura parecia estar pronta Big Z aparece com um ingrediente surpresa em um frasco e o esvazia dentro da panela. Lil pega o frasco vazio e aproxima de seus olhos para ter certeza se aquilo que via era real e assim que se certifica ele se espanta e olha imediatamente para Big Z, pronto para indagá-lo com uma pergunta. Pergunta essa que ele desiste de fazer ao ver lágrimas caindo de seus olhos diretamente na panela, se misturando com os outros ingredientes. Lil fica ainda mais intrigado mas logo liga os pontos ao relembrar de uma conversa que tivera com ele outro dia e então se dá conta do que estava acontecendo.

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