Cruzada do Deserto: Campanha

0 0 0
                                    

Um silêncio sepulcral dominava o ambiente, e a areia vermelha, carregada pelos ventos, formava pequenas névoas. O teto celeste, em toda sua graça, firmava um negro opaco. Pontos distantes piscavam como vaga-lumes, garantindo que viajantes se orientassem.

Mesmo de noite, o deserto emanava um calor ardente, capaz de confundir os desavisados e atordoá-los. As mantas de areia retinham o mormaço, fenômeno inexplicável para muitos. Especulava-se que a maldição do deserto o mantinha febril durante o anoitecer.

Na encosta de um rochedo, um pequeno grupo de andarilhos desfrutava de uma pausa. Sobre o pedregulho, fitando o longínquo horizonte a ser desbravado, flutuava uma garota de cabelos loiros com dois rabos de cabelos e olhos azulados, puros como safira. Excêntrica, a armadura rosada a rejuvenescia mais alguns anos.

— Sarash, o que lhe atormenta? — perguntou um homem atrás de si.

— A inquietação de um novo mundo — expôs, virando-se com os braços para trás.

— As fadas encontrarão um novo lar — confortou, jurando pelo seu machado na cintura. — Expurgaremos as trevas.

Diferente da garota, a raça do homem o tornava uma mistura entre humanos e dragões. Chamados de Drakinianos, a espécie impunha ordem e representava ideais de justiça, queimando as atrocidades do caos, pelo menos em um momento da história. Gozavam de duas asas dracônicas, uma longa cauda forte o suficiente para quebrar o pescoço, patas em vez de pés e chifres na cabeça.

Escamas de dragão mesclavam-se com a pele, garantindo uma vantagem defensiva contra seus adversários. Mesmo diante de vantagens genéticas, o rapaz trajava armaduras, reforçando a proteção. Moreno, com os cabelos castanhos, seu charme encantava pela masculinidade.

Abrindo as colossais asas, apontou para o leste, direção pela qual prosseguiriam. Depois arremessou-se em direção ao pequeno acampamento onde mais duas pessoas recolhiam o restante dos pertences.

Reunindo-se com os demais, a fada apagou o fogo por entre os gravetos. Uma figura baixa, de barbas longas entrelaçadas, a entregara um cantil de metal, alegando que o estoque de água acabara. Dentro do recipiente, continha um chá feito com ervas e outras especiarias que auxiliavam na conservação dos níveis de água do corpo.

— Agradeço, Frold. — Ela bebericou, consumindo o restante do conteúdo.

— Guarde seus agradecimentos para o menino alto — referiu-se ao elfo de armadura branca e azul. — Apenas fervi os ingredientes.

— Rapaz — retrucou o elfo, subindo a duna. — Aliás, Isriel o nome, velho amnésico.

Batendo na barriga pançuda, o anão gargalhou intensamente, engolindo grande quantidade de ar, se engasgando. Sarash guardou os demais pertences, já o drakiniano voou alto na intenção de avistar o objetivo da missão.

— Cerca de três horas de caminhada, meus companheiros — anunciou, jogando-se contra o chão e abrindo as asas instantes antes do impacto, cobrindo com areia os dois colegas que permaneciam no acampamento.

Livrando-se dos grãos de areia impregnados em sua cabeleira, a fada pressentira um abalo no campo mágico que envolvia o deserto. Voou em direção ao elfo, na intenção de confirmar a sensação.

— Compartilho da mesma angústia — comentou Isriel, tensionando os dedos em sua lança. — Desde nossa chegada ao deserto, essa sensação de desprezo impregna o ar.

Não havia indícios do que poderia ser aquilo. Porventura, a maldição do deserto existia e confrontaria forças obscuras pelo caminho. Emoções negativas contaminavam o ar, causando receios na fada e no elfo. Liderados pelo drakiniano, mantinham a boa-fé, na expectativa de aniquilar a fonte do perigo.

Crônicas de Ríthia - Vol. 1 (Pergaminhos do Multiverso)Onde histórias criam vida. Descubra agora