Parte 7

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Tragédia

Annabelle Pereira


E teve aquela vez em que VC quiz fechar os olhos para esquecer, quis com tudo mas nunca resulta... Está tudo marcado a ferro e fogo no coração da sua alma!

— Vamos, por favor, Belle.
— Não, estou muito ocupada. Já disse! Respondo exasperada — que nada, VC já fez tudo que tinha de fazer, é seu dia de folga, não pode o estar desperdiçando procurando trabalho imaginário na sua casa impecável.
— Por que VC não fala para um de seus amigos pedir para alguém, outro adulto... — não, além de VC ser a pessoa mais responsável que conheço, estou fazendo isso porque não posso deixar VC se trancar mais, tem desenove, Belle, viva. — Paro de limpar a estand, que sendo sincera nem estava suja. Dou um olhar para Pepe, ele estava muito bonito e perfumado. A puberdade chegou com tudo para meu amiguinho que agora pode levar sem problemas o sufixo “ão,” ele não aparenta ter apenas quinze anos, muitas vezes quando paceamos juntos, quem não nos conhece desde os tempos em que morávamos no prédio de seu Jó pensa que temos a mesma idade e muitas vezes até que ele é o mais velho, culpa do Criador, não fui abençoada em altura nem corpo mas tenho a alma velha, muito velha. — Hum... Tem certeza que não é só para seus amigos o virem acompanhado de uma garota, que por sinal é gira e madura? Pisquei os olhos sucessivamente — por favor, Belle, sou melhor do que isso... Por isso esclareço tudo no final do filme, quando eles já tiverem morrido de inveja. — Ri  mas logo se recompõe. — Quero mesmo tirá-la daqui, precisa sair, antes eu não sabia bem como fazer uma garota se animar e sair de casa mas eu cresci nesses dois anos e agora posso cumprir a promeça que fiz quando te vi se fechar aí dentro — aponta para meu peito — não vou deixar que tenha medo de viver, VC merece viver e... quero muito ver aquele filme, os zombies... Angelina Jolie está lá como a gostosa que sabe bater e Dwan Johnson também, me leva vai, por favor
— faz olhos de caixorrinhho pidão — Tá bom! — Sério? — Sim. Ele me abraça eufórico — mas não vou lavar o cabelo. Solto o pano do pó e me preparo para ir me arrumar — fixe! E relaxa, sobre o cabelo, um passo de cada vez não estou a espera de um milagre. — O fulminei antes de me dirigir para o quarto.
— Vamos! — O que? VC já está pronta, vestida assim? — Ergo uma sombrancelha para ele que suspira e murmura um “devia ter insistido mais com a Aninha” — por favor, se esforce um pouco mais, Belle, VC é bonita mas não me envergonhe vestindo-se como uma avozinha — Fala sem julgamento, é mais com um lamento mas mesmo assim me irrito.— É meu vestido de sair. Defendo.
— VC usa esse vestido todos os domingos, pra servir comida aos sem abrigo — como eu disse: meu vestido de sair. — Por favor...
— Pepe, não faço mais do que isso. Achei que era por mim que estava fazendo tudo, falei botando as mãos na cintura, — é deste geito que me sinto confortável. Baixa a cabeça — VC está certa, sorry, além do mais, VC continua bonita... De um geito clássico e mediaval.
Saímos de casa. Ele havia chamado um Uber, chegamos no local combinado e logo três jovens vieram ao nosso encontro, dois rapazes e uma garota, nos saudamos e logo nos dirigimos para bilheteria — O filme é para maiores de 18, ou pelo menos precisa estar acompanhado de um adulto que se responsabilize — tenho desenove, aque meus documentos. Cinco bilhetes, para mim e meus primos. O homem me olha demoradamente mas logo o desdém dá as caras e somos dispensados com um“ próximo..."
— Não faça isso, não faça...ha! Fez, idiota!
Digo antes de enfiar uma quantidade generosa de pipoca na minha boca e ouvir o coro de “ shiii”. O filme até que era bom, mas alguns personagem parecem ser mais zombies do que os ditos tais, não aparentam ter um cérebro que preste — com licença... Com licença...— Pedia a amiga de Pepe que antes de abrir caminho foi puxada por ele, que falou algo no ouvido dela que sorriu segurando a bexiga — eu sei, mas estou apertadissima, aquela cola está se vingando.— Diz e sai, olho para a tela e logo o idiota que disse para o grupo se separar, é cercado e desmembrado por uma quadrilha de zombies.
— Eu avisei! Esbravejo, Pepe segura minha mão — Grite mais alto que os da última fileira não ouviram bem — debocha — se me pagarem bem... Enfiou mais pipoca na boca, logo a garota que lembrei chamarem de Sabrina voltou e em menos de vinte minutos o filme acaba. Já no lado de fora, decidimos pegar o ônibus, então matamos tempo conversando, os rapazes sempre tentando insinuar algo, agiam de modo muito gentil, exagerado é melhor. O ônibus finalmente chegou e por sorte tinha muito lugar vazio, eu não ia aguentar andar em pé depois deste dia, me sentei no banco e quis relaxar mas como as “ crianças” não chegavam, tive de espreitar em direção a porta, Pepe me chamou e suspirando fui até ele — que foi,  porque não sobem? Perguntei cansada — Sabrina esqueceu o celular no cinema...— acho que foi no banheiro, em cima do lavabo.
— Disse ela com a voz embargada, — sinto muito pela sua perda... Fomos interrompidos pelo motorista que perguntou se iríamos subir ou não, preparei-me para entrar mas — então é isso, eu vou lá, preciso pelo menos tentar ou falar com um dos funcionários a cerca dos achados e perdidos, talvez alguém pegou e... — nem ela acreditava, mas eu entendia seu lado — preciso mesmo tentar, minha avó deu muito duro para me dar aquele celular — a gente vai com VC, nunca que íamos te deixar sozinha nessa. — Arregalei meus olhos, quis mesmo dar uns cascudos em Pepe, porque mesmo sendo tão inteligente ele às vezes agia tão estupidamente? — Isso não vai rolar, VCs não vão! Fui firme, eles me olharam surpresos e chateados e foi a garota quem falou:— Olha, Annabelle, muito obrigada pelo cinema e tudo, mas cinseramente, VC não é minha mãe não pode me impedir de fazer ou deixar de fazer qualquer coisa — Deus me livre! Não estou querendo mandar em VCS, sei que sabem pensar mas sei também que mesmo eu tendo entrado nessa para vos ajudar, isso não me isenta de ser a responsavel por VCS no aqui e agora. Eu sou a adulta e do mesmo geito que me empurraram para comprar seus bilhetes, eu os empurro para dentro deste autocarro...
— por favor, preciso achar — tudo bem, vou procurar, ela me olha de um geito estranho, sorrio — sozinha? — Não se preocupe, tenho uma alma velha, sei de muitos truques de raposas. Agora, Pepe, vão para casa e esperem meu sinal. Ele estava preocupado mas apoiou, o resto subiu e ele ficou pendurado na porta — e eles ainda duvidaram que VC era a pessoa mais responsavel que eu conhecia... Boa sorte e não demore. Logo o ônibus parte e começo a caminhar de volta ao cinema, é isso que ganhamos ao sair da rotina, dores de cabeça...

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