Capítulo 11.

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𝙃𝙚 𝙆𝙣𝙤𝙬𝙨.

Permito-me cair na areia, um pouco tonto com a revelação, o cansaço me derrubando, o chão quente ia me aquecendo à medida que eu organizava todos os acontecimentos estranhos em minha mente. Tudo parecia ter um motivo, um motivo que eu desconhecia, e não sabia se queria conhecer. Jack se senta ao meu lado, puxando algo de dentro de sua blusa e amarrando o cabelo em um rabo de cavalo. Ele tremia um pouco e eu não sabia dizer se o motivo dos tremeliques era o frio ou medo, ou ambos. E aquilo me aterrorizava um pouco também. Jack com medo era algo que eu tinha medo.

- Jack. - Chamo, ele me olha, o mesmo olhar intenso de sempre. Por um momento me perco totalmente e não sei o que dizer, mas ele parecia saber. De alguma forma ele sabia o que eu ia dizer antes mesmo que eu soubesse. Ele mantém um esforço para parar de tremer e logo sua postura está como de costume.

- Alex. - Ele fala, acho que foi a primeira vez que ele me chamou pelo meu apelido, ou, pelo menos, a primeira vez que fala como se estivesse falando com um velho amigo. O observo atentamente. - Você disse que ia me dar um voto de confiança, se lembra disso?

Aceno positivamente, a contragosto, eu não estava gostando muito do rumo que aquilo estava tomando. Ele desvia o olhar para o mar, as ondas traziam um som agradável, o tempo ia se fechando lentamente, trazendo uma brisa suave.

- Acho que chegou o momento em que vamos precisar novamente daquele voto. - Ele afirma, a voz era tão calma que parecia estar vindo de algum lugar distante, junto com as ondas, junto com a brisa.

- Isso quer dizer... - Começo, mas ele me corta.

- Sem muitas perguntas sobre meu passado. - Ele completa, a voz assumindo um tom levemente áspero. Ele balança a cabeça e volta a me encarar. - Pelo menos enquanto estivermos nessa ilha, certo? Quando formos embora, prometo responder todo seu interrogatório.

Ele me estica a mão, com o dedo mindinho levantado. Ergo as sobrancelhas, surpreso. Ele abre um sorriso travesso.

- Promessa de mindinho? - Questiono, não conseguindo conter um leve sorriso.

- Promessa de mindinho. - Ele confirma, balançando a mão e me incentivando a aceitar. Cruzo nossos dedos, o sorriso dele cresce. - Quando formos embora, certo?

- Quando formos embora. - Concretizo nosso acordo, ainda sorrindo. A última promessa de dedinho que fiz foi com a minha mãe, não me lembro o que prometemos, nem o que nos levou a prometer aquilo, mas eu sabia, de alguma forma, que aquela era uma boa lembrança. Uma das poucas. Eu podia não me lembrar do acontecimento em si, mas o sentimento era o mesmo. Esperança.

Separo nossas mãos, o sorriso de Jack foi lentamente desaparecendo e seu rosto voltou a mesma expressão de sempre, mas eu ainda podia ver um relance da alegria momentânea em seus olhos. Era estranho ter um momento assim com Jack depois de tudo, principalmente depois dele acabar de me fazer prometer algo que sei que sou incapaz de cumprir. Uma hora ou outra as perguntas chegariam, e quando chegassem, não sei se conseguiria impedi-las de saírem. Percebo o quanto a cena ficou, de repente, um pouco tensa. Nós dois estávamos sérios, nos encarando, e eu não me dei conta de a quanto tempo aquilo estava acontecendo. Eu queria saber o que Jack estava pensando. Ele me pediu para não perguntar sobre seu passado, não sobre seu presente. De uma forma ou outra, seria uma boa fuga do silêncio desconfortável.

- No que você tá pensando? - Questiono, ainda encarando o rosto de Jack, ele abre um sorriso de canto, foi tão sutil que quase não consegui ver.

- Perdi minha cartola. - Ele fala em um suspiro, havia uma tristeza genuína em seu rosto e em sua voz.

The Liquid of Omnia.Onde histórias criam vida. Descubra agora