Capítulo 17.

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𝙏𝙝𝙚 𝙗𝙖𝙡𝙖𝙣𝙘𝙚.

A dor não chegou. Abro meus olhos a tempo de conseguir ver o cabo da espada se tornando cinzas na mão do soldado. Ele estava com os olhos arregalados, assustado, eu também estava. Assim que a espada tocou minha pele, ela se desintegrou em poeira, então, eu não precisava necessariamente tocar em algo para destruí-lo, bastava que isso se aproximasse o suficiente de mim. O homem começa a correr, fugindo de mim. Logo os outros soldados saem de trás das árvores, se aproximando de mim com as espadas preparadas, os olhares assustados.

- Alexei, Alexei... - A voz de meu pai ressoa, ouço os passos arrastados dele se aproximando, aperto o cabo da minha espada, mas não ouso posicioná-la. - Você me deu um enorme trabalho, garoto. Sabia disso?

Não respondo. Os soldados abrem o espaço para ele. Ele estava com as habituais roupas de soldado, o mesmo rosto carrancudo de sempre, a perna que eu havia ferido parecia praticamente curada. Ele era o único que não estava empunhando uma espada, mas ele não precisava, tinha milhares de pessoas para fazer isso por ele. Tinha milhares de pessoas sujando as mãos, enquanto as dele permaneciam limpas.

- Você sabe que não tem como sair dessa, não sabe? Você pode ter destruído aquela espada, mas meus soldados ainda estão encantados, um encanto da poção de Omnia não pode ser vencido, Alexei. - Ele fala lentamente, o tom ameaçador, ele queria que eu me rendesse, que começasse a implorar, isso fazia algo dentro de mim queimar. Estico uma mão em sua direção, ele franze o cenho ao ver as pontas dos meus dedos.

- Você quer testar? - Pergunto, me arrependo no segundo em que as palavras saem. Era como se não fosse eu falando, como se fosse outra coisa. Alguns soldados pareciam ter ficado mais agitados.

- Ah, pare com isso, filho. Nós só viemos te levar de volta para casa. Eu já estou sabendo o que seus amigos não-humanos estavam planejando pelas nossas costas, você não acha que vai conseguir sair dessa situação sozinho, acha? Eu ficaria muito feliz em ter meu melhor soldado do meu lado de novo. - Ele propõe, eu não sabia dizer qual era a parte mais irônica e falsa desse discurso, ele me chamando de filho, querendo minha ajuda, ou querendo me ver do lado dele "de novo", como se eu já tivesse ficado alguma vez, cerro os punhos. Tento me controlar para não falar nenhuma besteira, mas as palavras simplesmente pulam da minha boca, contra minha vontade, sem que eu queira realmente dizê-las.

- Eu nunca vou te ajudar. Você pode me matar se quiser, comparado a ficar do seu lado, a morte é uma dádiva. - Fecho a boca com força assim que termino de falar, mas a essa altura já não adiantava mais, o estrago já estava feito, o rosto de Anatoly permaneceu estático por alguns segundos, provavelmente decidindo se deveria ou não me matar.

- Peguem ele. Vivo. - Anatoly ordena, a última parte me surpreende um pouco, mas não tenho tempo para pensar.

Assim que os soldados começam a se mover, eu começo a correr. Provavelmente eu não poderia matá-los, mas se pudesse, isso só pioraria minha situação. Talvez seja exatamente isso que minha parte não-humana queira, e se eu der isso a ela, talvez seja a chave para tomar o controle. A chave para que eu perca o controle.

Enquanto eu corria, desejei nunca ter feito isso. Nunca ter aceitado entrar nessa missão. Assim, Dalya ainda estaria no castelo, meus poderes ainda estariam controlados, Jack ainda estaria vivo e Jasper não estaria correndo perigo. Às vezes você tem que deixar as coisas como estão, porque, às vezes, é assim que elas devem estar. No meio da minha corrida desesperada, acabo tropeçando em algo. Tudo fica escuro de repente.

The Liquid of Omnia.Onde histórias criam vida. Descubra agora