09; CAPÍTULO NOVE

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VESTIDA COM UM VESTIDO SIMPLES para uma rainha, Vigga não se preocupou em agradar olhares ou alterar suas vestimentas, apesar do título não lhe permitir ser uma mulher comum, ainda sim, não se desprendeu dos vestidos longos com cores claras. Desde sua chegada à Kattegat dias atrás, ela se concentrou em observar o movimento da cidade, prestando atenção no estilo de vida, na forma como as pessoas se vestem e acompanhou os treinos dos guerreiros que, na maior parte do tempo, focam em gastar dinheiro com bebidas e prostitutas. Um pouco decepcionante, a loira pensava, mas em compensação, sua curiosidade sobre o governante das terras não diminuiu como esperava, visto que Ragnar Lothbrok parecia estar cada vez mais próximo de Ulfhild, mais próximo do que sua caçula havia lhe informado através de soldados, e como mãe, se preocupou.

Admirando o mar e sua imensidão azul, Vigga se pega pensativa quanto aos assuntos tratados nos últimos dias, visto que sua filha caçula parece estar interessada no planos de ataque à Paris, uma cidade belíssima na qual ambas lutaram bravamente no intuito de conseguir ouro e prata. Ciente do que os aguarda, a loira continuou observando os construtores realizarem os acabamentos finais dos navios, e contando cada um mentalmente, ela sabia que não seria o bastante. Suspirando por sentir-se um pouco insegura, mesmo sabendo que gerou guerreiros talentosos no ventre, não pôde deixar de sentir hesitação, afinal, quem está no comando da missão não é Bjark, e sim alguém que ainda não conhece tanto quanto gostaria.

Entretanto, como rainha de Wulfstan e representante política do marido em terras desconhecidas, Vigga teria de se esforçar mais para enxergar as mesmas oportunidades que os filhos, este por sua vez, parecem seguros de que a invasão trará o resultado esperado, e conhecendo bem as pessoas que colocou no mundo, a loira não se opôs em momento algum. Pensando nisso, ela deu meia-volta e caminhou na direção da cidade, chamando a atenção de todos ao redor como naturalmente faz, logo, depois de alguns passos, ela encontra seus filhos dentro da casa de Ragnar Lothbrok.

— Bom dia a todos. — ela diz.

— Bom dia. — respondem em uníssono, porém em níveis diferentes de voz.

— Minha mãe, quero que conheça uma pessoa. — diz Ulfhild, que traz consigo uma pequena menina loira de olhos azuis vibrantes, que olhava para mais velha de maneira curiosa, visto que não a rainha de Wulfstan não costuma se aproximar tanto da menor. Sorridente, Ulfhild as apresenta. — Vigga esta é Siggy, filha de Bjorn Ironside e Porunn, e Siggy esta é minha mãe, Vigga, rainha de Wulfstan e uma grande guerreira.

— É um prazer conhecê-la, Siggy. — colocando um joelho no chão e se apoiando no outro para conseguir olhar nos olhos da criança, a rainha percebe uma trança feita na lateral do cabelo dela, o que lhe despertou uma certa curiosidade. — Quem lhe deu isso? — perguntou, Siggy logo apontou para Ulfhild que dá de ombros quando é encarada por sua progenitora, que pergunta: — Deu uma trança para ela?

— Ela mereceu uma. — respondeu a princesa. — Siggy pode não ser tão forte para matar e transformar animais em casacos de pele, assim como eu na idade dela, mas ela conseguiu proteger o broche da nossa família. — um tanto orgulhosa, Ulfhild acrescenta: — poderiam tê-lo tirado dela no momento que vissem o broche, mas ela continuou com ele em todos os momentos, e isso para mim é um ato de coragem, principalmente vindo de uma criança.

— Uma criança que não é sua para bajular com nossos costumes, Ulfhild. — ofendida com a história contada, Vigga respirou fundo e percebeu ter irritado um pouco a filha caçula, que honestamente, só queria alegrar um pouco uma menininha tão carente. Fitando a mais nova, a rainha diz: — Mas tudo bem, se como guerreira você a julga como merecedora de uma trança, então ela é merecedora.

— Por que nós não recebemos tranças? — Ubbe pergunta.

— Porque são homens e sua obrigação é serem bravos guerreiros, não precisam provar sua força como as mulheres para poder fazer parte de um exército. — aproximando-se do menor, Ulfhild curva o tronco para frente, ficando bem próxima dele na intenção de dizer com clareza: — Vocês serão grandes guerreiros, disso tenho certeza, até mesmo você, pequeno Ivar. — piscou para o mais novo sentado dentro de seu carrinho de mão.

— Eles são filhos de Ragnar, ser grandes guerreiros está no sangue. — diz Bjorn.

— Vai começar. — comentou Agner, servindo um pouco de cerveja para si mesmo e bebendo alguns goles.

— Diz o filho primogênito que foi embora criança e voltou um homem... oh não, espere, ainda continua uma criança. — provocando-o propositalmente, Ulfhild foi fuzilada por um olhar que se aproximou em passos pesados, mostrando que Bjorn estava mais do que irritado, parecia um animal focado na caça, e como uma ótima domadora e caçadora, ela não recuou. — Ofendido, filho de Ragnar? — perguntou.

— Parece que situações assim fazem parte da rotina de vocês dois. — afastando a filha caçula do rapaz, antes que ambos partirem para violência diante das crianças e dos demais, Vigga rapidamente se coloca na frente e pergunta: — Será que as duas crianças poderiam guardar os comentários um sobre o outro para si mesmos?

— Fique longe de mim, Bjorn Ironside. Não vou me conter numa próxima vez, e acredite, não haverá ninguém capaz de me impedir de acabar com você. — dito isso, Ulfhild esboça um sorriso falso quando pousa o olhar em Ragnar, que retribui com um sorriso ladino, logo a princesa mira com afeto a pequena Siggy, que tenta segui-la mas é impedida por Ubbe. Ficando próxima da saída, ela olha por cima do ombro e diz: — Antes de ir, queria dizer que estou ciente sobre seu passado como fazendeiro, Ragnar. Por ter experiência com animais, peço para que controle seu cão. — referindo-se ao primogênito que fica mais irritado, Ulfhild sorri debochadamente e parte em seguida.

Observando a filha caçula caminhar para fora, sem dizer onde vai e se precisa de companhia, Vigga olhou na direção de Agner para conseguir compreender a situação, visto que ameaças de agressão física entre Bjorn e Ulfhild nunca ocorreram diante dela. Dando de ombros no intuito de mostrar também não estar ciente sobre o que se passa no coração da irmã, Agner continuou bebendo enquanto a progenitora respira fundo, massageia as têmporas e abre os olhos depois de colocar as ideias no lugar, assim poderia encarar o filho primogênito de Ragnar Lothbrok, pensando em como poderia iniciar um diálogo sem parecer invasiva demais, afinal, como mãe, tinha de saber o porquê das desavenças recorrentes.

Pensando em dizer alguma coisa, talvez perguntar os motivos para tanta ira partindo de ambos, Vigga recuou quando notou a saída de Ragnar, que parecia ter um destino bastante certo, e levando em consideração o quão próximo este é de sua filha caçula, não demorou para ela segui-lo. Caminhando alguns metros de distância, sem perder o governante de vista, Vigga chegou em uma cachoeira, lugar belíssimo e onde com certeza Ulfhild estaria, já que além de amar a luz do luar, águas doces costumam ser o segundo lugar favorito da princesa. Aproximando-se um pouco no intuito de ter visão completa da área, ela encontra Ragnar sentado em uma grande pedra, observando Ulfhild nadar um pouco, mas ao invés de ficar apenas admirando, ele acertou algumas pedras na água para chamar atenção, e quando conseguiu, não tardou em dizer:

— Estamos aqui mais uma vez, princesa. — sorriu.

— Eu estava nadando tranquilamente, você quem decidiu vir para me espionar. — vestindo suas roupas, Ulfhild torceu os cabelos longos e negros, em seguida ajeitou cada acessório e o tecido vermelho que sempre carrega com sigo, prontamente caminhou na direção do mais velho e perguntou: — Chamaria isso também de coincidência?

— Você mesma disse que não acredita nesse tipo de coisa, mas está errada, estou aqui para admirar a beleza da natureza como costumo fazer. — diz Ragnar, que observa a mais nova sentar-se ao seu lado na pedra e perguntar:

— Desde quando faço parte da natureza, Ragnar Lothbrok? — o mesmo sorri e responde:

— Todos fazemos parte dela, alguns mais do que outros. — olhando no fundo dos olhos verdes da princesa, Ragnar percebe uma oportunidade de tocar num assunto importante, que precisa ser debatido antes que seja tarde demais. Limpando a garganta para sua voz não falhar, ele pergunta: — Quer mesmo ir para Paris?

— Preocupado comigo, Rei Ragnar? — ela brinca, fazendo-o sorrir um pouco antes de ouvi-la responder sua pergunta com mais seriedade, afinal, este assunto diz respeito à ambos. — Eu quero ir para Paris apoiar sua causa, pois é algo que me interessa também, por isso estou lhe oferecendo mais guerreiros no intuito de garantir uma vitória.

— Uma vitória? — perguntou confuso.

— Conquistaremos muitas coisas lá. — dando um sorriso ladino, Ulfhild passa a admirar as águas doces da cachoeira, respirou fundo e tornou seu olhar para o mais velho e acrescentou: — sinto que muitas coisas nos aguardam em Paris, muitas coisas, Ragnar Lothbrok.

𝐋𝐔𝐀 𝐒𝐀𝐍𝐆𝐔𝐈𝐍𝐄𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora