Karila Aistarabaw

ريبة

Um metro e setenta e cinco.

Setenta e dois quilos.

Dr. Charles repetia a informação e fazia uma troca concentrada com Dr. Maxime, ambos olhavam para Normani com atenção, o consultório do psicoterapeuta Charles recebia a mulher e sua acompanhante do Marrocos, parecia prevalecer em um silêncio de análises profundas. Maxime era um ortopedista especialista em traumas e próteses, sabia que a intenção de Dayna a princípio era que a saudável mulher recebesse uma aquisição biônica, precisava de força agregada em suas atividades, mas Maxime pediu que fossem cautelosos.

Music on* Alone - Burna Boy

— Precisamos analisar, se puder retirar a camisa. - Dr. Charles pediu gentilmente à Normani, notando o olhar cerrado da mulher à Dayna, que estava paralisada no oposto da sala, acompanhando sua consulta.

Sua relutância em retirar a camisa perdurou por pouco tempo, olhando para o sutiã exposto diante dos olhos averiguadores dos médicos e da marroquina intrometida. Com cuidado, Maxime analisou seu ombro esquerdo, onde havia ocorrido sua amputação recente, seus olhos não deixando de se impressionar com a quantidade excessiva de cicatrizes que ela tinha nos cotovelos, nas costas e no abdômen.

— As cicatrizes não parecem ser recentes... algo muito sério aconteceu com você antes desse incidente? - Ele perguntou verdadeiramente preocupado. Normani engoliu a saliva com força, os olhos focados na feição do médico, parecia ser uma preocupação médica, mas não deixou de se incomodar com o questionamento, sabendo que tinha que falar sobre aquilo em voz alta com tantas pessoas no ambiente.

Dayna notou seu desconforto, moveu o corpo recostado na porta do consultório.

— Precisamos entender como está de fato para ajudar... - Pediu tomando a atenção dela.

Normani fez uma careta desviando o olhar para a ponta de suas botas.

— Fui treinada em Córsega, com as Forças Especiais da França, nossos treinamentos eram baseados exclusivamente em ações de tortura, amarravam nossos pulsos e nos afogavam no oceano, as correntes em que nos amarravam cortavam, era pra machucar, saiamos sangrando da água salgada e devido a isso as cicatrizes pioraram o suficiente para ficarem assim, mas isso faz muitos anos já, fim de história. - Falou apertando os lábios logo em seguida, os olhos mantidos no chão. Dayna se moveu incomodada, com os olhos focados no corpo da mulher, observando cada cicatriz assustadora que sua semi desnudez expunha.

Imaginar cada ação de tortura para cada cicatriz como aquilo a fazia nausear.

— Tem uma resistência física impressionante, isso pode te ajudar com próteses mais pesadas, que poderão replicar a força que tinha anteriormente no braço esquerdo, porém há alguns testes que precisamos fazer para entender como seu corpo funcionará com variadas versões de próteses até encontrar aquela que lhe fará sentir maior conforto em seu próprio corpo, essa escolha depende de você. - Maxime falou, movendo ela para que pudesse voltar a sentar na maca. O psicoterapeuta Charles sabia que estava lidando com um desafio que nunca lidou antes, não havia recebido ex militares como sua esposa, que lidava com soldados lotados de traumas de pós guerras. Normani seria sua primeira ex militar da carreira, e aquilo parecia lhe trazer uma necessidade maior em ser cuidadoso, ela estava lidando com um processo de recuperação de sua estima, que estava amplamente ligada a sua capacidade de estar por aí empunhando uma arma e agindo com amplo vigor físico, sendo uma imparável máquina de matar, como eram tantos homens e mulheres nas guerras.

Notar seu comportamento irritadiço e a maneira como parecia desconfiada ao olhar para sua anfitriã o fez agir com mais cuidado, a ajudando a se cobrir assim que não precisavam mais analisar seu físico àquela altura. Ela pareceu o observar com mais atenção depois daquela ação, ficando em seu completo silêncio por toda a análise dos médicos em suas informações físicas.