Conservava em mim a obstinação de me enfiar de cabeça nos trabalhos daquela expedição. Talvez fosse a minha maneira de sabotar meus pensamentos, sempre fui uma especialista nisso, se eu não pensasse tanto talvez não me incomodaria e os ciclos se seguiriam como deviam seguir.
Não era tampouco fácil, naquela específica situação, esquecer do quão bondosos foram os sentimentos causados pelas ações de uma noite como a que se passou ontem. Talvez porque não tivesse nada que pudesse comparar com uma experiência anterior, a ausência daquelas compreensões comparativas que sempre foram tão fortes para estabelecer as minhas convicções dessa vez não existia. Podia ser pela falsa sensação que sempre imperou em minha vida de ter tudo, o que não era de fato uma verdade, eu nunca tive tudo, não tinha como comparar.
Depois de me enfiar em minhas vestes de proteção térmica, realmente focada em trabalhar com o que podia, eu me dei a dose suficiente de coragem para encarar o mundo fora da minha tenda.
Meus pensamentos desprevenidos caminharam pelo corredor, parecia um pouco avoada até perceber que eu estava a sua presença. Seus passos se tornaram lentos e seus olhos perdidos em mim me fizeram sentir a pressão interna de meus lábios comprimindo ao receber sua atenção.
— Bom dia... - Saudou me fazendo mover as mãos para prendê-las em minha blusa, dentro dos bolsos, trabalho... se nós pensarmos sobre o trabalho e não sobre a presença uma da outra...
— Bom dia, Senhorita Jauregui... Vejo que começou a trabalhar cedo. - Perdi os olhos em suas mãos segurando alguns livros, ela pareceu seguir o meu olhar e assentiu perdendo-se no ato me fazendo elevar o queixo tentando transparecer tranquilidade.
— Muito otimismo que vamos sair daqui no prazo certo, alteza. - Sua zona de conforto parecia ter sido atingida, me olhou com mais convicção do que no primeiro momento. Olhei para além dela, pensando que talvez estabelecer uma amistosa proximidade de trabalho deixasse aquela situação em termos mais tranquilos. Eu não pretendo me auto sabotar.
— Quero me inteirar do que estão fazendo e do estágio em que se encontram, se puder me ajudar, serei extremamente grata. - Afirmei olhando para sua feição parecendo surpresa. Seus olhos verdes pareciam muito compenetrados em minha face, o vinco suave na testa me demonstra que se esforçava sobre seja o que fosse. Queria tanto entender o que isso significa, tudo isso é tão estranho, essas sensações e reações e tudo que existe em torno dessa mulher... é... tão...complicado.
— Eu apenas preciso vestir minhas roupas para proteger do sol, alteza. Se não se incomodar de esperar... - Ela sugeriu atenciosa, sua relutância em ir para a tenda ou esperar alguma negativa minha.
— Não é problema, estarei ali fora. - Garanti a olhando em seu caminhar relutante, como se estivesse calculando não fazer um movimento brusco diante de mim. Me mantive silenciosa ao sair das tendas dos quartos, olhando adiante para o grupo de historiadores em confraternização naquela manhã em uma animada discussão sobre explorações na imediações.
— Bom dia, alteza. - A voz de Normani me fez olhar em direção a seu corpo se alinhando ao lado do meu na entrada das tendas, seu rosto protegido só me entregava os olhos brilhantes. Ela sabia o que eu havia feito, algo em sua postura e seus olhos me entregavam que sim. Normani me conhece como ninguém.
— Bom dia, quero trabalhar um pouco na expedição com eles, esquecer um pouco de Cairo. - Pedi notando sua surpresa ao meu pedido.
— Nenhum aviso deve ser feito durante o dia sobre nada? - Ela pediu, me fazendo assentir.
— Desde que não seja grave, sim, eu não quero saber nada sobre Cairo hoje, pelo menos por um dia. - Falei movendo minhas mãos para cruzar os braços contra meu corpo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Karila Aistarabaw
FanfikceRecém viúva, a monarca egípcia perseguida e endinheirada Karila Aistarabaw I sustentava títulos expressivos dentro do Oriente. Com influência e um passado tão recente perturbador e desolador, a poderosa princesa egípcia se tornou uma impiedosa perse...