009 | like Atlantis

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009, como Atlântida.

Me sinto culpada por sequer conseguir entender completamente o que está acontecendo enquanto Livie está nascendo, na verdade, não tenho certeza do que está acontecendo

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Me sinto culpada por sequer conseguir entender completamente o que está acontecendo enquanto Livie está nascendo, na verdade, não tenho certeza do que está acontecendo.

O peso da culpa não é o suficiente para me fazer conseguir agarrar o resquício de consciência que passa diante de mim.

Algo está mais errado do que o comum. Tenho certeza de que a anestesia não seria capaz de me deixar nesse estado entre a consciência e inconsciência. Talvez sim, mas não ao ponto de sequer conseguir enxergar o que acontece na minha frente.

Sinto como se estivesse flutuando, como o Peter Pan. Não é um sentimento bom. É sufocante.

Não consigo respirar. Não consigo sentir. Não consigo ouvir. Não consigo viver.

Quando um choro doce, sim, um choro consegue ser doce, corta meus devaneios, uma série de gritos e palavras proferidas com urgência o seguem.

Não consigo entender o que está acontecendo, borrões são tudo o que vejo, vejo borrões de todos as cores possíveis, mas não vejo o meu borrão. Não vejo Livie. Não trouxeram ela até mim. Me prometeram que trariam.

Estão mais preocupados em gritar ordens insignificantes do que em me deixar ver minha filha. O que seria mais importante do que isso?

— Lily! Mantenha esses olhos bem abertos, ok? — uma voz próxima demais do meu ouvido diz ao segurar meu rosto e me forçar a encará-la.

É alguém em uma roupa de hospital, uma médica? Por que raios uma médica está conversando comigo? Eu não sei.

Eu gostaria de murmurar um ok como resposta, mas não costumo fazer promessas vazias, e de qualquer forma, sinto que minha voz fugiu para algum lugar longe daqui.

Algum lugar.

Está tudo tão confuso que por um segundo, chego a acreditar que estou sonhando, mas então...

Ah.

Quanto tomo consciência do que está acontecendo, o tempo acelera.

Minha visão foca em alguém levando Louis para fora da sala enquanto diz algo que faz seus olhos se encherem de dor. Não é qualquer dor, parece ser uma dor insuportável.

Do outro lado, uma enfermeira os segue com o bebê no colo, também fugindo daqui.

Fugindo do que está acontecendo.

Ao mesmo tempo em que um pequeno ser foi presenteado com a vida, outro está sendo saudado pela morte.

E foi nesse momento, quando percebi que não conseguiria sequer ver Louis uma última vez ou segurar Livie pela primeira, que eu senti a mesma dor que Louis sentiu quando descobriu que eu estava morrendo, a dor de perder alguém.

Porque naquele momento, eu não estava perdendo só Livie, eu estava perdendo ela e a pessoa que eu mais amei em toda a minha vida, a pessoa que me mostrou o que era amor e que nem sempre ele teria um final feliz, mas que o importante, era que existiram momentos bons. Eu estava os perdendo, para sempre, estava perdendo os momentos que não vivi e nunca viverei com Livie, e estava perdendo os momentos que vivi com Louis. E acima de tudo, eu estava perdendo Livie e Louis.

A morte é diferente do que falam em livros e filmes, não existe aquela baboseira de ver a vida passando diante dos olhos. A única coisa que existe é a dor excruciante de saber que está perdendo tudo o que um dia pôde chamar de seu, e saber que não existe absolutamente nada para mudar a atual situação.

Diferente do sentimento que senti agora a pouco, não estou mais flutuando, estou afundando. De pouquinho em pouquinho, cada vez mais me afundo na imensidão da morte, exatamente como Atlântida se afundou no oceano.

 De pouquinho em pouquinho, cada vez mais me afundo na imensidão da morte, exatamente como Atlântida se afundou no oceano

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o epílogo sai hj ou amanhã

😽😽

❛𝗮𝘁𝗹𝗮𝗻𝘁𝗶𝘀❜Onde histórias criam vida. Descubra agora