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Estacionou o carro em frente a casa de paredes esbranquiçadas que se erguiam por pilastras de forma majestosa.

Tentou pensar em alguma mudança palpável entre a grama aparada do jardim e a porta negra e muito maior do que seu próprio tamanho. Não encontrou nada. Exceto pelo balanceador meio velho preso em duas árvores.

Beatrice se lembrava de todas as vezes em que se sentou ali, com um de seus vestidos longos demais para sua idade, cabelos negros caindo pelos olhos enquanto ela tinha toda a atenção voltada ao caderno no colo. Os traços eram coloridos, mas firmes, pequenos, mas leves. Lembra também de passar horas e mais horas desenhando o teixo que se erguiam em frente a janela de seu quarto, e até mesmo os passarinhos que pousavam em um bebedouro que havia feito com seu pai em um de seus finais de semana livres.

Quando percebe, os nós de seus dedos estavam esbranquiçados pela tamanha pressão que fazia no volante, mesmo que de forma imperceptível.

Tentou repassar todos os anos anteriores mentalmente. Eram quinze dias arrastados, que se dividiam entre jantares morgados com os pais dividindo a atenção entre perguntar à ela como estava as coisas na empresa e ao irmão por que ainda não conheceram nenhuma de suas namoradas secretas. Com toda certeza, teria fugido. Exceto que a senhora Sinclair - vulgo, sua mãe - sabia ser convincente quando queria.

- Certo. Vamos acabar logo com isso.

Murmura, o sotaque forte e arrastado.

Havia dirigido por três horas e meia, fato esse que fica explícito quando ela estica as pernas, passando as palmas das mãos suadas pela calça de linho. Ela suspira, pegando uma das malas quando encara as duas presenças saindo pela porta de casa com sorrisos nostálgicos e braços esticados.

Se deixou aninhar à sensação rápida de casa, pigarreando quando a mãe acaricia seu ombro em um abraço relâmpago.

- Você demorou, querida. Já estávamos achando que havia se perdido.

- Ótimo ver você também, mãe. Olá, papai.

- Oi, minha querida - com ele, Beatrice se permite descansar, deixando o queixo em seu ombro e sorrindo de lado ao sentir um beijo carinhoso no meio de seus cabelos - Sentimos sua falta.

- Também senti a de vocês - ele pega a mala e a mochila de suas mãos, educadamente - JC não chegou ainda?

- Ah, não ainda. Mas disse que estava há quinze minutos daqui. Não deve demorar.

- Bom.

- Vamos. Entre, Juniper está maluco de saudade.

Como quem relembra de uma velha saudade enterrada no meio de milhares lembranças nostálgicas, os lábios de Beatrice logo se abrem em um sorriso grande e brilhante. Ela não perde tempo, quase corre até a porta de casa, esticando os braços quando o cachorro de pelos dourados correm em sua direção, fazendo com que ela caísse para trás no chão, soltando uma risada que reverbera por toda a casa.

- Junes, garoto. Oi. Olá, meu garoto - ela murmura, enrolando os braços ao redor do cachorro peludo que parecia animado demais por vê-la para lhe soltar - Você está tão grande!

- Juniper! Céus, saía de cima dela. Beatrice, você vai se sujar inteira - ela finge não ouvir a mãe, sentando para deixar um longo beijo entre os olhinhos do cachorro - Coloque as malas dela em seu antigo quarto, querido, por favor.

O homem afirma rapidamente, lançando um último sorriso à filha antes de subir as escadas.

- Então, como vão as coisas, Beatrice?

Beatrice quase suspira.

A paz havia durado tempo demais, de qualquer forma.

Ela libera Juniper, se colocando em pé enquanto passava as mãos pela blusa social. Se sentia em uma inquisição sob os olhos negros da mãe.

Can i be him ?Onde histórias criam vida. Descubra agora