A voz de Johnny Cash ecoava ferozmente pelo pequeno rádio marrom posicionado tradicionalmente em cima da mesinha de vidro.
Ela cantarolava baixinho, balançando a cabeça de um lado para o outro Enquanto parava o punhado de moitas já grandes o suficiente espalhadas pelo jardim externo da casa. As luvas de florzinha já estavam gastas e pequenas para suas mãos, assim como as galochas e o chapéu amarelo ouro lhe cobrindo os olhos. Precisava lembrar de comprar novos materiais de jardinagem. Ao menos alguns que não a fizessem parecer uma criança de sete anos de idade!
Suas mãos tocam em uma das últimas flores avermelhadas no arbusto amarelado, meio caída, e se perguntou como o pai havia deixado isso acontecer. Aquele homem costumava cuidar de suas plantas melhor do que jamais cuidou de seus filhos.
Ela riu baixinho do pensamento.
- Então você fala sozinha...
Beatrice não jogou a tesoura em cima do invasor por pouco, mas xingou alto levando a mão livre ao coração.
- Jesus Cristo!
- Jesus, não. Ava - a outra brinca, rindo de sua própria piada - Foi mal. Não quis assustar. Talvez só um pouquinho...
- Parece que essa é a nossa dinâmica esses dias. Você me assusta, eu xingo e praguejo e então você me difama.
A menor abre os lábios em falso choque, cerrando os olhos pelo sol da tarde sobre si.
- Isso não é totalmente...bem, não sabia que você falava sozinha, de qualquer forma.
Beatrice aponta o indicador coberto pelo anel dourado para ela, arqueando as sobrancelhas.
- Viu? Difamação!
Ava ri e foi quase impossível não acompanhá-la nisso. Não quando sua cabeça caía para trás e seu pescoço ficava tão perigosamente exposto ao beijo do sol dourado. Beatrice conseguia sentir seu cheiro de Colônia, mesmo ali, alguns muitos passos distando as duas, e isso era meio perturbador.
- Não sabia que tinha um jardim aqui atrás. É bem bonito, Beatrice.
Os olhos de Ava caem para a plantação de flores coloridas em um dos canteiros do local. Flores azuis, vermelhas, rosas e todas as outras cores e aromas distintos que pudesse imaginar. Beatrice se colocou de pé ao seu lado, cruzando os braços quando seguiu seu olhar curioso e surpreso.
- Pois é. Geralmente esse é o segredo e maior orgulho do meu pai.
- Isso é grande coisa!
- Eu diria que sim.
Ava a olha.
- Adorei o chapéu - ela cutuca a aba do chapéu com um sorriso divertido.
- Você...
- E as luvas também.
- Eu vou expulsar você daqui.
- Só faltou um avental fofo e você estaria totalmente perfeita para um dia no jardim de infância, Beatrice - Beatrice bufa em resposta, tirando de Ava uma risadinha anasalada - Mas falando sério agora, esse é um bom lugar.
- Costumava alugar ele de vez em quando. Expulsava meu pai e cuidava dos brotinhos ouvindo...
- Johnny Cash - a Sinclair cerra os lábios, fazendo a outra apontar com a cabecinha para o rádio ainda ligado - Eu ouvia no orfanato, em um MP3 talvez mais velho do que essa casa.
Quem ri dessa vez é Beatrice.
- Oh, não deixe minha mãe ouvir você falar isso. Ela tem certeza que cada cômodo desse lugar é abençoado pela varinha da modernidade.
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Can i be him ?
RomanceBeatrice Sinclair decide aceitar as folgas obrigatórias e volta para casa no recesso de natal, mesmo esse não sendo um de seus feriados favoritos. Na verdade, ela meio que o odiava. Como em todos os anos anteriores, Beatrice imaginou que seriam quin...