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Véspera de natal

Beatrice havia imaginado detalhadamente como deveria ser a manhã.

Imaginado como Ava talvez a acordaria com beijos molhados pelo rosto, a voz rouca sussurrada no pé do ouvido, os dedinhos gelados do pé roçando contra a batata de sua perna, as mãos de Ava lhe tocando as costas nuas.

Mas nada disso era verdade.

Ao invés da manhã perfeita, acordou abruptamente por gritos.

Se sentou de uma vez no colchão sentindo a vertigem tomar conta da vista embaçada, apertando o lençol contra o busto ainda nu. Seus olhos estavam arregalados quando Ava acordou em seguida, gritando tão alto quanto a terceira presença ali, parada no meio do carpete com lábios abertos e olhos arregalados.

Percebendo o corpo de Ava ainda nu, Beatrice passa o edredom pela garota de uma vez só, fazendo o grito de Ava diminuir gradativamente. Seus olhos permaneceram arregalados.

- Mãe, você não sabe bater? Jesus! - solta, entredentes, escondendo o rosto entre as mãos espalmadas.

Foi a primeira coisa que saiu de seus lábios secos. No mesmo instante Beatrice engoliu o nó na garganta, percebendo os olhos em chamas da mãe a fitarem com atenção.

- De todas as coisas, é isso que você tem para me falar, Beatrice?

- Querida - o senhor Sinclair se aproxima da esposa, os olhos ainda fechados para evitar a cena na cama - vamos diminuir a voz, por favor.

- Diminuir a voz? - ela grita mais ainda, apontando para a filha deitada ao lado da suposta nora - Você está vendo o que está acontecendo aqui? - mas ela desfere um tapa no ombro do marido quando vê seus olhos fechados - Onde está JC? JC, garoto inconsequente!

Com isso, ela sai gritando pelo corredor, seguida do marido desesperado que tomava cuidado para não topar nas paredes por ter os olhos ainda fechados. Beatrice e Ava se fitam rapidamente. Ava estava tão vermelha que Beatrice ficou com medo de que ela fosse explodir a qualquer momento.

- Você está... - ela não teve tempo de completar a frase, já que Ava quebrou o silêncio com uma risada alta. Risada essa que ela tentou conter com as mãos nos lábios, arregalando os olhos para a mulher ao seu lado - Ava!

- Desculpa, desculpa! Eu só - ela leva a mão até a barriga dolorida de tanto rir - riu quando estou nervosa. Merda. Estamos nuas, Beatrice. Seus pais nos viram assim! Merda, merda, merda...

- Você acha que eu não sei?

De repente, Ava parece ter se tocado de algo. Ela puxa o edredom inteiro para si, enrolando o corpo com o tecido grosso enquanto se colocava de pé.

- JC. Merda - ela murmura, juntando as roupas espalhadas pelo carpete - Merda. Merda.

- Ok, pode falar comigo aqui? - Beatrice pede, passando a blusa de botões pelos ombros e vestindo um short que achou curto demais para ser o seu - Ava?

A Silva desponta do banheiro coberta pelo moletom preto de Beatrice e uma calça amarela de pijamas, amarrando o cabelo em um rabo de cavalo rápido.

- Ela vai saber, Bea. Ela vai questionar JC e ele ainda não está pronto para contar! Caralho, o que eu fiz?

- Hey, hey - Beatrice intervém o surto esporádico de Ava, a segurando pelas mãos - Vamos lidar com isso juntos, tudo bem? JC não vai estar sozinho, e você também não - Ava suspira - Quer dizer, você se arrepende? De ontem.

- Não! Claro que não, Bea - Ava livra seus punhos da outra apenas para acariciar sua bochecha avermelhada com carinho - Mas deveríamos ter sido mais cuidadosas.

Can i be him ?Onde histórias criam vida. Descubra agora