seis

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A noite foi uma tortura, para se dizer o mínimo.

Beatrice foi a primeira a se deitar. Vestiu o pijama mais frouxo e confortável que encontrou, se enrolou no edredom e sacou o livro, começando a ler com olhos atentos. Só percebeu que não estava sozinha quando Ava saiu do banheiro, se prostrando ali, em frente à cama com braços escondidos atrás das costas e bochechas avermelhadas. Beatrice nunca a tinha visto corar.

Ela pigarrea quando, sem querer, os olhos caem pelo corpo esguio de Ava. Corpo esse coberto por uma camisola preta que Beatrice precisou morder a língua para enterrar os pensamentos impuros.

- Eu posso sempre ir dormir no sofá, Beatrice - Beatrice nega com a cabeça para o tom de voz acuado da outra.

- Não seja boba. A cama é grande o suficiente para nós duas! - Ava cerra os lábios - Tudo bem ficar com o lado esquerdo?

- Sem problemas.

- Bom.

Ela baixa os olhos rapidamente com o desejo de deixar Ava confortável o suficiente para se deitar ao seu lado, tomando cuidado para não expor muito das coxas ao passar o edredom por cima da barriga.

Beatrice fecha o livro e estende a mão em direção ao abajur, sendo parada pela voz ecoando no quarto.

- Você não precisa parar de ler por minha causa. Consigo dormir com o abajur ligado.

Ela estende a última página do livro às vistas da outra com um sorriso contido.

- Eu já terminei.

Ava arquea as sobrancelhas em forma de surpresa pela resposta da outra, soltando uma risada tímida com os olhos de Beatrice sobre si.

- Certo...

O livro é colocado em cima da mesinha silenciosamente, assim como abajur é desligado em um clique, encobrindo o quarto com uma manta negra.

- Boa noite, Ava.

- Boa noite, Beatrice.

Ava permanecia de barriga para cima, fitando o teto esbranquiçado quando Beatrice se virou para o outro lado, balançando levemente a cama contra o movimento ansioso de seu corpo batendo contra o colchão. Ela batucava os dedos contra as costas da mão, tomando cuidado para não chamar a atenção da outra.

Tentou desligar a mente, fechar os olhos e pensar pensamentos apaziguadores, mas não conseguia. Não enquanto podia ouvir a respiração calma de Beatrice, de sentir seu perfume penetrado em sua almofada temporária. Ela acaba soltando um suspiro mais alto e mais pesado do que deveria, fazendo Beatrice se mexer ao seu lado, deitando de barriga para cima mais uma vez.

- Sem sono? - o questionamento sai em um sopro. Ava toma um leve susto, mas tenta não demonstrar.

- Algo assim.

- E o que você costuma fazer quando isso acontece? - ela pega alguns instantes para pensar.

O quarto estava silencioso, as paredes claras davam uma sensação clara de frieza indesejada, então Ava acabou apertando ainda mais o edredom contra o peito, mordiscando os lábios enquanto ponderava, sentindo as bochechas arderem pela primeira resposta que brilhou em sua mente.

- Na maioria das vezes eu desço as escadas, faço leite quente e tento compor alguma coisa.

- Certo. O violino... - a menor cantarola, sorrindo de lado.

- O violino.

- Não temos isso agora, mas podemos conversar até você pegar no sono - sugere, parecendo compreensiva.

Can i be him ?Onde histórias criam vida. Descubra agora