A noite foi uma tortura, para se dizer o mínimo.
Beatrice foi a primeira a se deitar. Vestiu o pijama mais frouxo e confortável que encontrou, se enrolou no edredom e sacou o livro, começando a ler com olhos atentos. Só percebeu que não estava sozinha quando Ava saiu do banheiro, se prostrando ali, em frente à cama com braços escondidos atrás das costas e bochechas avermelhadas. Beatrice nunca a tinha visto corar.
Ela pigarrea quando, sem querer, os olhos caem pelo corpo esguio de Ava. Corpo esse coberto por uma camisola preta que Beatrice precisou morder a língua para enterrar os pensamentos impuros.
- Eu posso sempre ir dormir no sofá, Beatrice - Beatrice nega com a cabeça para o tom de voz acuado da outra.
- Não seja boba. A cama é grande o suficiente para nós duas! - Ava cerra os lábios - Tudo bem ficar com o lado esquerdo?
- Sem problemas.
- Bom.
Ela baixa os olhos rapidamente com o desejo de deixar Ava confortável o suficiente para se deitar ao seu lado, tomando cuidado para não expor muito das coxas ao passar o edredom por cima da barriga.
Beatrice fecha o livro e estende a mão em direção ao abajur, sendo parada pela voz ecoando no quarto.
- Você não precisa parar de ler por minha causa. Consigo dormir com o abajur ligado.
Ela estende a última página do livro às vistas da outra com um sorriso contido.
- Eu já terminei.
Ava arquea as sobrancelhas em forma de surpresa pela resposta da outra, soltando uma risada tímida com os olhos de Beatrice sobre si.
- Certo...
O livro é colocado em cima da mesinha silenciosamente, assim como abajur é desligado em um clique, encobrindo o quarto com uma manta negra.
- Boa noite, Ava.
- Boa noite, Beatrice.
Ava permanecia de barriga para cima, fitando o teto esbranquiçado quando Beatrice se virou para o outro lado, balançando levemente a cama contra o movimento ansioso de seu corpo batendo contra o colchão. Ela batucava os dedos contra as costas da mão, tomando cuidado para não chamar a atenção da outra.
Tentou desligar a mente, fechar os olhos e pensar pensamentos apaziguadores, mas não conseguia. Não enquanto podia ouvir a respiração calma de Beatrice, de sentir seu perfume penetrado em sua almofada temporária. Ela acaba soltando um suspiro mais alto e mais pesado do que deveria, fazendo Beatrice se mexer ao seu lado, deitando de barriga para cima mais uma vez.
- Sem sono? - o questionamento sai em um sopro. Ava toma um leve susto, mas tenta não demonstrar.
- Algo assim.
- E o que você costuma fazer quando isso acontece? - ela pega alguns instantes para pensar.
O quarto estava silencioso, as paredes claras davam uma sensação clara de frieza indesejada, então Ava acabou apertando ainda mais o edredom contra o peito, mordiscando os lábios enquanto ponderava, sentindo as bochechas arderem pela primeira resposta que brilhou em sua mente.
- Na maioria das vezes eu desço as escadas, faço leite quente e tento compor alguma coisa.
- Certo. O violino... - a menor cantarola, sorrindo de lado.
- O violino.
- Não temos isso agora, mas podemos conversar até você pegar no sono - sugere, parecendo compreensiva.
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Can i be him ?
RomanceBeatrice Sinclair decide aceitar as folgas obrigatórias e volta para casa no recesso de natal, mesmo esse não sendo um de seus feriados favoritos. Na verdade, ela meio que o odiava. Como em todos os anos anteriores, Beatrice imaginou que seriam quin...