The Odissey

- Prólogo II -

🗓️Ano 1455, após a Grande Guerra.🗓️

"Abrindo os olhos o ambiente parecia estranho como se nunca tivesse estado ali antes mas olhando mais à fundo algo parecia peculiar, o cheiro forte de fuligem e cinzas carbonizava o ar a ponto de queimar a garganta à cada respiração. Parecia que um furacão havia passado destruindo tudo segundos atrás me soterrando sobre os escombros. Ainda podia sentir o gosto doce de sangue fresco nos lábios e espalhado pelas vestes.
Vendo um pouco mais de longe, um mar de corpos que não parecia ter fim com mais de 600 soldados de infantaria do reino inimigo remetia à uma cena de horror.

💬-"Heh, Parece que não foi suficiente não é mesmo?..."

Olhando os corpos dos oficiais de brigada dilacerados fincados na terra enquanto pilhava uma das carruagens de suprimentos parcialmente destruída e manchada de sangue a sensação de satisfação, era inevitável esconder o pequeno sorriso de canto de boca que aparecia sobressalente. Não sei o porquê mas o sarcasmo deste momento parecia risível como se lembrasse um déjà vu.

💬-Somente eu sou páreo para mim mesmo...

Como soa arrogante lembrar disso nos dias de hoje. A flor da juventude nos capacita, faz crescer e desabrochar o que há de melhor e pior dentro de nós mesmos, Sabia que desta vez, voltando para a capital meus espólios seriam enormes, uma vez que as defesas de Ziandre haviam sido dizimadas por completo. E não foi diferente.

Ao avistar de longe os grandes portões da Cidade mercante de Altíssea, que naquele tempo ainda não era tão grande e imponente. Ainda faltava cerca de meia hora de viagem quando os ensurdecedores estouros de pólvora chegaram aos meus ouvidos sinalizando que os batedores do reino já haviam relatado a esmagadora vitória que seu Brutus teve sobre o principal obstáculo para a expansão de Altíssea para se tornar uma renomada cidade portuária.

Endireitando-me na carruagem farta de bebida e mantimentos, apenas por curiosidade, pude ver através de meus olhos de tom laranjado a grande baderna que se formava em frente aos muros, os 100 soldados que haviam sido mandados junto nessa missão, os quais sequer andaram meio metro para fora dos muros da cidade selebravam como se tivessem feito algo relevante além de sentar e esperar por detrás da linha de frente.

💬-Esses bundões covardes...

Recostando novamente na poltrona dei um denso gole do grande litro de vinho que havia pilhado dos mantimentos da infantaria de Ziandre e fechei meus olhos por um breve momento para respirar fundo.

Ciente dos acontecimentos exteriores, as mesmas lembranças tomavam meus pensamentos, me lembrando mais uma vez que eu não devia e nem podia baixar a guarda, nem que por um instante mas desta vez havia algo diferente.
Meus músculos começaram a queimar de dentro para fora e minhas costas arderam forte como se correntes em ponto de brasa me restringissem, ao tentar abrir os olhos nada acontecia, parecia estar em sono profundo, e por uma fração de segundos pude vislumbrar aquilo que eu jamais esqueceria.

💬-Heh... O que temos aqui??.. Achei que veria o fim dos tempos antes que eu pudesse provar sangue fresco novamente... Vamos conversar um pouco à sós..

À medida que a voz macabra exclamava, uma sensação gélida encheu o meu corpo de calafrios e o adormeceu por completo, estava em um ambiente totalmente enclausurado que emanava um forte instinto assassino, como se minha garganta pudesse ser cortada à qualquer instante. Mãos negras agarravam forte o meu peito e rosto, de modo que as unhas cortavam facilmente a malha de ferro como se espadas perfurassem meu peito repetidamente fazendo escorrer lentamente meu sangue..

💬-"Aargh!!.."

A mesma voz horripilante falava diversas coisas ao meu ouvido mas eu não conseguia fazer nada além de urrar de dor.
Enquanto pequenos fragmentos de memórias passavam uma a uma pelos meus olhos, cenas estas de assassinato e dilaceramento de uma criatura meio homem meio besta. que de forma estranha me pareciam familiares mas me recusava a aceitar que aquilo era eu. O tormento pareceu durar aproximadamente 9 dias consecutivos até que um barulho alto me fez despertar.

💬-Ei!! Acorde!! Vamos!!

💬-BLAKE!! BLAKE!! BLAKE!!

Saindo da carruagem ainda desnorteado pude ver diversos soldados da infantaria de Altíssea parados em frente ao portão. Não pude acreditar no que acabara de acontecer. Apenas 30 minutos haviam se passado.
A multidão continuava eufórica, sendo guiado pelos oficiais adentramos a cidade em direção ao castelo, olhando ao redor ainda desacreditado tentando ligar os fatos em minha cabeça podia ver os cidadãos de Altíssea se juntando à aglomeração que acompanhava a caravana de marcha que ia pela rua central em direção à entrada do castelo.

💬-Mais uma vitória do exército real!!

💬-Ziandre caiu!!!

Podia ouvir ao longe as vozes dos soldados se gabando pela "vitória".

💬-BLAKE?.. BLAKE?? Está ouvindo filho?

Quando voltei a mim a caravana já estava em frente às portas do castelo puxada por pessoas que de alguma forma encheram a grande praça. E diante de mim estava Sir. Alaster o general de brigada a quem os anos no exército não foram tão gentis presenteando-o com algumas cicatrizes em sua face perto da barba rala já meio grisalha e o olho esquerdo parcialmente sem visão, embora sendo o único a quem eu me colocava à disposição por dever alguns favores de mentoria quando adentrei ao exército do rei.

(Alaster)
💬-Você está cheirando forte à álcool o que aconteceu? O combate aconteceu dentro de um litro de vinho?

Oferecendo-me a mão. O cumprimentei enquanto caminháva-mos em direção ao salão real.

💬-Engraçado como sempre Mentor..
Durante a volta adormeci com um galão de vinho na mão, acabei disperdiçando o seu presente.

(Alaster)
💬-É realmente uma pena.. Irei adicionar isso na sua conta!

Adentrando o grande salão uma voz ecoava pelos quatro cantos anunciando os recém chegados:

💬-Vossa alteza real!! Valcroy! Filho de Jasif III..., Eu anuncio a chegada do general de Brigada Sir. Alaster e seu Brutus: BLAKE! Fallür em sua corte. Somando mais uma vitória, desta vez contra as defesas de Ziandre abrindo caminho para a expansão de Altíssea sobre os mares do leste.

💬-Vossa alteza!
(Alaster)

💬-Vossa alteza!
(Blake)

Curvando o joelho perante o estandarte real demonstramos reverência com uma sincronia impecável...

Depois disso...

É como se a minha memória mergulhasse em um mar de memórias, até o fatídico dia da missão em paz armada que jogou o Nero contra os humanos. Apenas alguns fragmentos restam destes anos, como se houvesse uma parte de mim que foi tirada ou enclausurada até o dia em que renasci com o nome que carrego até hoje..."

(Voz de criança)
💬-Então você era um super herói? Daqueles com poder escondido que ninguém pode saber? Nem você?

A pequena pessoinha de pele negra e cabelos curtos amendoados cheia de pequenos cachos aparentando entre 3 e 4 anos surgiu abruptamente das cobertas jogando o travesseiro de linho rosado cerca de vinte centímetros no alto antes deste mesmo voltar a cair em sua cabeça fazendo-a deitar novamente.
O sorriso foi inevitável, afofando o travesseiro respondi a pergunta que havia sido feita com tanta empolgação escondendo o pesar que este assunto trazia:
💬-O pai já foi todas as coisas que você imaginar, minha pequena princesa

Com os olhos cintilantes, sem pensar duas vezes a pequena arregalou os pequenos olhinhos verdes esmeralda, se apoiando na beirada da cama e indagou:
💬-Até um príncipe???

💬-Até um príncipe...

Levantando da cadeira de balanço ao lado da cama, observei a chuva que caía torrencialmente do lado de fora.

💬-... Mas, essa história fica para outra noite.

Puxando todos os brinquedos formando um cobertor de pelúcia a pequena olha cuidadosamente de baixo da cama e sinaliza com um joinha afirmando que está tudo bem.

Balançando a mão sob a porta Sinalizando uma "mágica" eu tranco os monstros para fora do quarto fazendo ela abrir um grande sorriso.

💬-Agora sim!! Boa noite meu amor

💬-(Bocejo)Boa Noite papai..