capítulo 16

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    - Marilia , eu queria conversar sobre o que aconteceu. - senti sua mão tocar minha perna ao passo que ela se sentou na ponta da minha cama , me esquivando de seu contato larguei o celular me sentando na outra extremidade da cama.

     - Sobre o que aconteceu ontem , o que ouve na cadeia ou o que aconteceu na nossa infância? Questionei irritada , ela abriu a boca para dizer algo mas nada saiu , assim como eu esperava. - Por favor saia.

     Luiza não era mais a mulher corajosa e forte que eu achava que fosse , na verdade com o tempo percebi que ela era como eu , e estaria tudo bem , se ela não fosse tão covarde.

    - Porque foi presa , Marilia? - Olhei para sua mão que tentou alcançar a minha porém recuei novamente. - eu não tenho medo de você e nem acho que é perigosa , só preciso saber o porquê foi presa. - suspirei alto me levantando da cama perdendo minha paciência que eu se quer tinha.

     Não fazia sentido algum me chamar para morar com ela e manter sua filha e marido distantes como se eu pudesse machucá-los , e já que eu não sou horrível pelo crime  que cometi , porque ela parou de ir me visitar?

     - Por que isso é tão importante para você? Olhando no fundo do seus olhos esperei alguma resposta que pudesse me convencer de que minha própria irmã não me enxergava somente como uma criminosa.

    - Por que eu me culpo. - Ela murmurou baixinho desviando seus olhos dos meus. - Eu não te protegi o suficiente ainda mais com a sua condição e por isso você terminou na prisão , eu não consigo conviver sabendo que a minha maninha chegou a essa situação por minha causa , a verdade é que eu tive medo que sentisse raiva ao conhecer a Hannah porque eu cuido dela como nunca cuidei de você.

     Eu queria muito manter minha postura irredutível mas aquilo me quebrou de uma forma inexplicável , me sentei novamente na cama ficando a sua frente.

     - Eu me lembro que muitas vezes lhe encontrei na janela do seu quarto prestes a fugir , então quando você me via desistia de ir...

     - Eu retornava , e te abraçava até que dormisse. - ela deu um sorriso nostálgico porém em seus olhos havia tanta tristeza que era impossível não ficar triste também.

     - Você nunca foi embora por minha causa , deveria ter ido antes mas eu sempre te atrapalhei , se tivesse ido... - engoli a seco sentindo minha voz embargar , olhei para sua mão onde havia cicatrizes de queimaduras feitas por bituca de cigarro , eu sabia muito bem o que originou aquela marcas pois eu tinha iguais nas coxas.

    - Eu não me arrependo de ter saído da janela e ficado contigo nenhuma das vezes , na verdade eu me sinto culpada por ter escolhido o bebê ao invés de continuar com você. - Respirei fundo dando-lhe um sorriso compreensivo , eu não vou dizer que compreendi isso não pois não foi o que aconteceu , mas agora as coisas eram diferentes , ouvir seus sentimentos davam mais clareza aos meus.

     Quando Luiza ficou grávida , o nosso pai queria que ela abortasse para que ninguém descobrisse o que ele fazia em seu quarto todas as noites , mas o feto já tinha 6 meses e ela não queria que isso acontecesse então fugiu , e me deixou pra traz com dezesseis anos , na época eu não entendi o por que ela fez isso mas agora sendo mãe do Leo eu sabia que faria qualquer coisa pelo bem dele.

      - Eu voltei para te buscar alguns meses depois , seria seu presente de aniversário. - Ela sorriu tristemente limpando rapidamente a lágrima que deslizou pelo seu rosto sem querer. - Mas era tarde demais , você já avia sumido depois de...

      - Ter matado ele. - completei sua frase fazendo seus olhos arregalarem , Luiza ficou perplexa me encarando sem piscar , duvidava muito que ela estivesse respirando normalmente. - Eu o matei , mas não consegui ir muito longe com aquela barriga. - Olhei para minhas mãos sobre meu colo , eu não queria ver a decepção em seus olhos.

     Respirei fundo para não começar a chorar mas era inevitável , minha garganta já estava começando a embargar e meus olhos queimava.

     - Eu te amo muito Marilia , e saber disso nunca mudará o que eu sinto por você. - senti sua mão tocar a minha carinhosamente. - Você e a única família que eu tive , sinto muito por não cuidar melhor de você e ter deixado que ele te...

     - Ainda dói , eu queria muito esquecer isso , mas Aida dói. - a encarei por um instante antes de continuar. - O peso que carrego não é por ter matado nosso pai , e por ter te impedido de fugir quando pode e ter arruinado sua vida , é ver você se afastar de mim quando estava presa me deixou com medo de que você me odiasse por isso.

     Eu sabia que a Luiza não gostava do nosso pai e nem daquela casa horrível , mas  mesmo assim sempre temi que ela me odiasse por tê-lo matado e destruído tudo.

     - Como eu posso odiar você? Ela perguntou como se não ouve-se sentido naquele pensamento. - Você foi o meu anjo , me deu forças para nunca desistir de nada e me protegeu muitas vezes mesmo que nem faça ideia de que fez isso.

     Em um impulso me inclinei sobre ela envolvendo  meus braços em seu pescoço de modo desajeitado a abraçando apertado , aquilo era tudo que eu queria e precisava ouvir.

     - Podemos prometer que seremos honestas sobre tudo de agora em diante?  Murmurei contra seus cabelos enquanto sentia seus braços apertarem meu corpo retribuindo  o abraço na mesma intensidade.

     - Eu prometo. Senti um peso sair das minhas costas ao ouvi-la dizer aquilo. - Eu estou atrasada para ir ao hospital , quer ir comigo?

     - Claro. Falei enquanto me desvencilhava dela suavemente e secava a sua bochecha molhada com o polegar.

     - Saímos em 5 minutos. - Luiza falou saindo do meu quarto.

     Me levantei da cama indo ajeitar meus cabelos no banheiro , assim que retornei coloquei meu celular e carteira no bolso da jaqueta e deci as escadas para encontrá-la.

     Entramos em seu carro e ela passou a dirigir em direção ao hospital que ficava próximo.

      - O que fará lá? Questionei enquanto mexia em seu rádio em busca de alguma música legal para ouvir durante o trajeto.

     - Consulta com uma obstetra. - arquieei uma sobrancelha a encarando. - Robert e eu queremos ter a certeza de que eu não posso mais engravidar.

     - A Hannah então é...

     - Adotada. - ela forçou um sorriso. - pelo visto somente você teve a sorte de ter o Leo , a minha menina não sobreviveu. - toquei na sua coxa sem saber o que lhe dizer. - Mas me conta , o que você tem feito nos últimos dias , mal fica em casa.

      - Nem você. Respondi automaticamente mas logo percebi o quão rude soou. - Eu só... Parei um instante pensando se deveria contar que tinha um plano para recuperar meu filho e isso envolvia flertar com a mãe adotiva dele. - Tenho conhecido a cidade.

      - Bom , posso te levar para jantar qualquer dia desses , deve ter algum lugar bom por aqui. - ela estacionou o carro em frente ao hospital.

     Deci do carro me apressando em acompanhar seus Passos , assim que adentramos o local Olhei a volta , a última vez que estive ali foi presa dar a luz ao Leo , isso porque o hospital próximo a penitenciária não tinha suporte devido.

    - Prometo não demorar. - Luiza falou apontando para a cadeira na sala de espera , assenti com a cabeça indo me sentar.

    Estar de volta ali me causava sensações esquisitas , eu sempre odiei hospitais principalmente porque eu vivia neles , mas aquele era diferente , eu estava ansiosa para conhecer meu filho , mesmo que isso só durasse alguns segundos antes que ele fosse arrancando de meus braços.

       Me aconcheguei na cadeira pronta para jogar alguns joguinhos até a luiza sair de sua consulta mas meus olhos se fixaram na figura que vem caminhando no corredor.

      Carregando em seus braços de modo desajeitado o meu filho a Maiara parecia preocupada , sem nem pensar direito me levantei e passei a andar em sua direção rapidamente.

     - Maiara! - A chamei parando a sua frente mas meu olhar era direcionado a criança em seus braços que ainda tinha os olhos avermelhados  como se estivesse chorando. - O que você está fazendo aqui ?

      -Theo , vai buscar um pudim na cantina para mim ? Ela o colocou no chão , o observei se afastar ainda me olhando , ele deu um sorriso antes de voltar a olhar para frente. Oi Marilia.


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