Anahi
Meu currículo precisava de uma transformação total. Depois de passar duas horas procurando anúncios on-line de “precisa-se”, percebi que teria que embelezar um pouco as minhas habilidades.
O trabalho temporário de merda que eu tinha acabado de concluir poderia enfeitar a minha experiência administrativa. Pelo menos, ficaria bem no papel. Abri meu currículo patético no Word e adicionei meu último trabalho como assistente jurídica.
Worman e Associados. É um nome que combina direitinho. David Worman, cuja primeira sílaba do sobrenome significa “verme”, era o advogado para quem eu havia acabado de concluir um trabalho temporário de trinta dias, e ele era realmente metade verme, metade homem. Após digitar as datas e o endereço, recostei-me na cadeira e pensei no que eu poderia listar como experiência adquirida enquanto trabalhei para aquele babaca.
Vejamos. Toquei meu queixo com o dedo. O que eu fiz para o homem-verme essa semana? Hum... Ontem, retirei a mão dele da minha bunda enquanto ameaçava prestar queixa por assédio sexual. Sim, isso precisava constar no meu currículo. Digitei:
• APTA A REALIZAR MÚLTIPLAS TAREFAS AO MESMO TEMPO EM UM AMBIENTE DE ALTA PRESSÃO.
Na terça-feira, o verme me ensinou como retroagir a data da máquina de selos postais para que a Receita Federal pensasse que sua verificação fiscal atrasada ainda estava no prazo e não lhe cobrasse multa. Essa é boa. Precisava ser adicionada também.
• REALIZA COM SUCESSO ATIVIDADES COM PRAZO DETERMINADO.
Na semana passada, ele me mandou ir à La Perla para escolher dois presentes: algo chique para o aniversário de sua esposa, e algo sexy para uma “amiga especial”. Talvez eu tenha adicionado uma coisinha para mim também na conta do imbecil. Deus sabe que eu não estava podendo pagar uma calcinha fio-dental de trinta e oito dólares ultimamente.
• DEMONSTRA UMA ÉTICA DE TRABALHO MAGNÍFICA E COMPROMISSO COM PROJETOS ESPECIAIS.
Depois de adicionar mais algumas realizações cheias de balelas e palavras clichês, enviei meu currículo para uma dúzia de agências de trabalhos temporários e me recompensei com uma taça de vinho cheia até a borda.
Que vida empolgante a que eu levava. Vinte e sete anos e solteira em Nova York, numa sexta-feira à noite, usando calça de moletom e camiseta quando mal são oito horas. Mas eu não tinha vontade alguma de sair. Vontade nenhuma de beber martinis de dezesseis dólares em bares chiques, onde homens como Todd usavam ternos caros que escondiam seus lobos interiores. Então, em vez disso, abri o Facebook e decidi dar uma espiada nas vidas que as outras pessoas tinham ― pelo menos, as que elas exibiam nas redes sociais.
Meu feed estava cheio de postagens típicas de uma noite de sexta-feira: sorrisos em happy hours, fotos de comida, e os bebês que algumas amigas minhas estavam começando a ter. Fiquei rolando a tela, distraída, por um tempo, enquanto tomava meu vinho... até que cheguei a uma foto que fez o meu dedo congelar. Todd havia compartilhado uma foto postada por outra pessoa. Era dele de braços dados com uma mulher ― uma mulher que se parecia muito comigo. Ela poderia se passar por minha irmã. Cabelos loiros, grandes olhos azuis, pele clara, lábios cheios, e o olhar de adoração ridículo que eu também tive por ele, um dia. Diante do jeito como estavam vestidos, pensei que, talvez, estivessem indo a um casamento. Então, li a legenda logo abaixo:
Todd Roth e Madeline Eilgin anunciam seu noivado.
Seu noivado? Setenta e sete dias antes ― não que eu estivesse contando ―, o nosso noivado havia acabado. E ele já tinha pedido outra pessoa em casamento? Pelo amor de Deus, ela nem era a mulher com quem o peguei me traindo.
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Bilhetes - FINALIZADA
RomanceTudo começou com um bilhete azul misterioso costurado dentro de um vestido de noiva. Algo azul. Eu tinha ido vender o meu próprio vestido de casamento não-usado em uma loja de roupas antigas quando encontrei o "algo velho" de uma outra noiva. Preso...