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Anahi

    — Aqui estão os resumos dos relatórios das despesas da propriedade de Hudson que você pediu.

   Coloquei o arquivo no canto da mesa de Iris. Ela tinha papéis espalhados por todo canto. Embora já fosse quase sete da noite, não parecia que ela ia embora tão cedo.

   — Obrigada, querida.

   Assenti e virei-me para sair, mas eu precisava dizer uma coisa.

   — Iris?

   Ela olhou para cima.

   — Hum?

   — Eu sinto muito mesmo por hoje de manhã. Aquilo não foi nada profissional, e não vai acontecer novamente. Eu prometo.

   Inesperadamente, lágrimas encheram meus olhos.

   Iris retirou os óculos.

   — Feche a porta, Anahi. Vamos conversar. — Ela saiu de trás de sua mesa e sentou-se em uma das quatro poltronas estofadas enormes que ficavam de frente umas para as outras no fundo do seu escritório. — Sente-se.

   Eu nunca fiquei nervosa assim perto de Iris antes. Essa era a mulher para a qual despejei tudo sobre a minha vida três minutos depois de conhecê-la em um banheiro feminino. No entanto, as minhas palmas estavam suando, e eu tinha que lutar contra a vontade de retorcer as mãos.

   — Você quer falar sobre isso? Sabe que qualquer coisa que me disser ficará entre nós, não é?

   — Eu sei.

   — Conte-me sobre o homem que te mandou aquelas lindas flores. O seu coração está dividido? Você quer seguir em frente, mas está sendo muito difícil? Eu sei que você gosta muito do Alfonso.

   — Sim. Não. Sim.

   Iris sorriu.

   — Claro como lama.

   Respirei fundo e expirei audivelmente.

   — Eu não estou dividida, nem lutando para seguir em frente. Blake é um cara que conheci na faculdade. Eu saí com uma amiga ontem à noite e esbarrei com ele. Nós conversamos por um tempinho. Ele me convidou para sair, mas eu recusei. As flores foram apenas seu jeito de tentar me fazer mudar de ideia. Mas não expliquei isso ao Alfonso, exatamente, quando ele viu as flores. Ele entendeu errado, ficou com ciúmes, e eu gostei daquilo.

   — Entendo.

   — Toda vez que começamos a ficar mais próximos, ele ergue a barreira. — Comecei a repuxar fiapos imaginários do braço da poltrona onde eu estava sentada. — Eu tentei fazê-lo cruzar essa linha... bem, ele é seu neto, então não quero te espantar. Mas digamos que ele rejeitou todos os meus avanços, até mesmo os que fiz seminua. Até cheguei ao ponto de dizer a ele que ia sair com o Max.

   — Porque você pensou que deixá-lo com ciúmes o faria reagir?

   Balancei a cabeça afirmativamente, olhando para o chão.

   — Bem, normalmente, eu diria que um homem que não demonstra seu interesse sem joguinhos não vale o seu tempo. Mas nós sabemos que a luta do meu neto não é por ser um solteirão que não quer sossegar. Ele tem medo de ser um fardo para alguém que ama, devido à sua condição.

   — Aí é que está. Alfonso pensa que ele é um fardo. Mas a verdade é que ele tem um fardo, e é mais fácil de carregar quando se compartilha com alguém.

   Iris me encarou.

   — Você está mesmo apaixonada por ele, não é?

   Uma lágrima quente deslizou pelo meu rosto quando assenti.

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