Alfonso
Meus pensamentos estavam acelerados conforme a água do chuveiro caía sobre mim. Nenhuma quantidade de sabonete de hotel seria capaz de lavar o quão na merda eu estava me sentindo.
E ela ainda teve que me entregar aquelas drogas de Twizzlers, fazendo-me sentir ainda mais babaca.
Quem faz isso?
Que tipo de pessoa dá doces a alguém que acabou de tratá-la como lixo?Anahi Portilla é esse tipo de pessoa. Anahi Portilla, com seus olhos brilhantes, seu jeito ávido, espirituoso e cegamente otimista. E eu não tenho feito nada além de minar sua espirituosidade desde o momento em que nos conhecemos, para garantir que nem um pouco da porra do seu brilho encoste em mim.
Ouvi-la tocar no nome de Allison me forçou a erguer a guarda com mais força do que nunca. Porque a única resposta verdadeira para sua pergunta sobre o que aconteceu exigiria que eu me abrisse para ela. Somente meus familiares mais próximos sabiam a verdade sobre o que aconteceu entre mim e minha ex-noiva. Eu precisava manter desse jeito.
Esquecera de verdade que ainda tinha aquela foto guardada na carteira. Mas entendi a impressão que devo ter passado: a de que eu era um bobo sentimental. Talvez eu tenha sido mesmo, antes que Allison me fizesse perder a fé no amor. Anahi deve ter deduzido que o fato de eu carregar aquela foto lhe dava a liberdade de tentar me fazer me abrir.
Com uma toalha em volta da cintura e os cabelos ensopados, deitei-me na cama e pensei em apenas cair no sono assim mesmo. Mas eu ainda não havia comido nada além daquele pacote inteiro de Twizzlers. Eu tinha que sair do quarto para ir comer alguma coisa. Pelo menos, foi o que eu disse a mim mesmo. O motivo real por trás disso era não conseguir tirar Anahi da cabeça. Talvez eu fosse conseguir dormir melhor se me desculpasse por ter soltado os cachorros nela.
Vesti minhas roupas novamente antes de tomar a liberdade de andar até o quarto de Anahi.
Inspirei fundo e bati na porta algumas vezes. Vários segundos se passaram sem resposta alguma. Bati novamente. Nenhuma resposta.
Bom, sem um carro, ela não deve ter ido muito longe. Peguei o elevador para descer até o saguão e espiei a academia, mas não havia nenhum sinal de Anahi por lá.
O único restaurante que havia ali perto o suficiente para ir andando era um Ruby Tuesday. Quando passei pelas portas deslizantes do Holiday Inn, uma garoa atingiu meu rosto. Gotas de chuva brilhavam sobre os carros conforme eu andava pelo estacionamento em direção ao restaurante.
Assim que entrei, vi que o local onde fica a hostess estava vazio. Já era tarde, provavelmente estava perto da hora de fechar, então havia poucos fregueses. Levei apenas alguns segundos para encontrar Anahi. Ela estava sentada a uma mesa em um canto, parecendo pensativa enquanto mastigava a ponta de uma caneta. Então, ela começou a escrever algo em um guardanapo. Ri, pensando que cada palavra ali devia ser um palavrão e que ela estava me xingando.
Eu sabia que precisava pedir desculpas, mas, naquele momento, eu preferia ficar apenas observando-a sem que ela soubesse. Eu podia erguer a minha guarda o quanto fosse diante dela, mas mentir para mim mesmo era bem mais difícil; era quase impossível. Não havia uma parte de mim que realmente não gostasse dessa mulher. Eu só não gostava do fato de que ela me lembrava de todas as coisas que eu estava tentando esquecer. O que me atingia era bem mais do que sua mania de se intrometer. Sendo simples e direto, o jeito alegre que emanava de Anahi me lembrava de uma época da minha vida em que eu era feliz. Era doloroso pensar naquilo, principalmente no fato de que uma parte de mim ainda sentia saudades daquela felicidade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Bilhetes - FINALIZADA
RomanceTudo começou com um bilhete azul misterioso costurado dentro de um vestido de noiva. Algo azul. Eu tinha ido vender o meu próprio vestido de casamento não-usado em uma loja de roupas antigas quando encontrei o "algo velho" de uma outra noiva. Preso...