Bloqueio Criativo

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*Eliza*

 Eu confesso que ultimamente estou tendo problemas para continuar meu livro. Escrever não é fácil, é horrível transformar o que você mais ama no seu ganha pão. Sinto que sempre tenho que inovar e criar histórias memoráveis para todos os públicos, semana passada uma senhora me parou na Cafeteria Doce verde.

- Eliza Tavares! Reconheço seu sorriso de longe, você poderia assinar meu livro por favor? - a senhora me falou animada.

- Oi!! Sou eu mesma, o que você está lendo? - Perguntei curiosa, explorei tantos gêneros literários, pensei que era "Céu de flores e Café", mas fiquei surpreendida quando vi que aquela senhora estava lendo "Amargo Coração". Meu único romance escrito na vida, ela se empolgou muito, ficamos conversando bastante sobre o livro.

- Eu vou ser bem sincera, eu sou uma mulher clássica e quando a Amélia recusou o pedido de casamento do Jorge eu fiquei pasma - disse ela se sentando ao meu lado.

- A Amélia é uma mulher com uma personalidade forte, ela não é do tipo que aceita tudo tão facilmente - falei da minha personagem, estava olhando para a capa que a minha editora tinha feito, é uma injustiça que esse trabalho não tenha tido o reconhecimento que merecia.

- Eu a acho uma maluca, recusar um pedido daquele homem forte e bonito, sem contar com o número de fazendas que ele tinha - falou a senhora tomando o café.

- Não é certo julgar as decisões dela, sabemos bem que o Jorge só queria uma mulher de faixada, não esqueça que no final da história ele foi preso por colocar várias pessoas trabalhando em situações análogas à escravidão - falei defendendo minha personagem. É ridículo ver as pessoas atacando as atitudes da minha personagem sem nenhum motivo decente.

Se eu fosse a Amélia faria tudo igual, não me casaria com um homem só pela a aparência. Sempre defendi que um casamento sem amor não é um casamento, é apenas um contrato judicial que prejudica a vida de duas pessoas. Ridículo, eu tive que me manter calma porque sei que aquela senhora só estava expressando a opinião dela.

- Eu sei querida, concordo com o que você... - falou a senhora, mas sua fala é interrompida por uma ligação.

Acho que meu mundo caiu ali, recebi uma ligação muito inesperada de uma pessoa do meu passado. Acho que não nos falamos desde o final do ensino médio. Pedi licença para a senhora e fui até o banheiro atender o telefone.

- Maria? - perguntei surpresa

- Eliza! Desculpa te ligar sem avisar antes, você está muito ocupada agora? - perguntou a Maria

- Não, pode falar agora, como que você está? - falei um tanto animada, faz um bom tempo que não falo com minha amiga

- Eu estou bem, na verdade queria muito falar contigo agora, eu estava te observando na vitrine da cafeteria - respondeu ela sem jeito

- Você tá aqui no Rio? - perguntei

- Tô sim! Estou entrando agora na cafeteria - respondeu ela.

Assim que saí do banheiro vi ela sentada numa mesa usando um casaco verde, parecido com o moletom que ela costumava usar.

- Oi Eliza quanto tempo!! - falou ela se levantando para me abraçar

- Oi Ma! Que saudade!! - falei animada

- Desculpa ficar te observando que nem uma maluca, mas tinha uma senhora que estava conversando com você, não quis atrapalhar - disse ela se sentando na mesa

- Tá tudo bem, ela estava me chateando um pouco - falei sinalizando pro garçom vir até a nossa mesa

- O que ela fez? - perguntou a Maria

- Estava falando mal da Amélia - respondi

- Sua personagem de "Amargo Amor"? - perguntou Ma pasma

- Você conhece a minha história?? - falei surpresa

- É claro amiga! Todo mundo da cia já deve ter lido esse livro, é muito bom - respondeu ela tirando um exemplar da escobag que carregava

- Boa tarde senhoras, o que desejam? - perguntou o garçom finalmente chegando na nossa mesa

- Boa Tarde, eu gostaria de pedir um café expresso com um pedaço de bolo de chocolate amargo por favor - respondi

- Eu quero só um expresso por favor - disse a Maria

Depois de colocar a conversa em dia, senti que ela estava um pouco tensa, fiquei preocupada porque nunca vi ela daquele jeito. Então só perguntei:

- Amiga o que está acontecendo?

- Tô um pouco nervosa - respondeu ela

- Por quê? - perguntei novamente

- Ai vou falar, eu vim aqui porque eu tenho um convite para você - falou a Maria

- Convite? - perguntei curiosa

- Você se lembra da Halana? Ela disse que queria reunir todo mundo da cia em uma casa na praia lá no Espírito Santo. Disse que passamos muito tempo separados e que queria curtir umas férias com a gente - disse a Maria

- Você quer saber se eu quero ir? - falei sorrindo

- Sim, mas a gente sabe que está ocupada com os seus livros, só queremos saber se você quer e pode ir - respondeu ela

- Claro! Só preciso avisar ao meu chefe, a editora camello é um pouquinho burocrática, mas é tranquilo - falei animada

Essa era a oportunidade perfeita para eu desbloquear minhas ideias, uma viajem para reencontrar amigos queridos em um lugar no litoral, tenho certeza de que meu mais novo livro estará nas livrarias do próximo ano.

CIA, CIA, CIA - O reencontro Onde histórias criam vida. Descubra agora