Carro Quebrado

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*Tamires*

Inferno de estrada! Universo com todo respeito, vai se ferrar! Como que a porcaria desse motor vai quebrar logo hoje? Essa droga poderia ter dado problema na minha casa, mas não! Eu sou uma fodida lascada mesmo, tem que quebrar bem no meio da estrada, ai que ódio meu deus, antes eu tivesse sofrido um acidente e morrido log, pelo menos não estaria sentindo tanto calor. 

Para piorar a minha situação meu celular está quase descarregando, ô promessa desgraçada, parece que hoje eu me acordei pra sofrer mesmo, por isso que eu odeio fazer plantão em outra cidade, esse governo lascado do Piauí que não faz uma manutenção que preste nas rodovias, que inferno meu deus eu vou apodrecer aqui no meio do nada. Tentei ligar para o reboque, disseram que iria me custar R$ 8.000,00 para tirar meu carro de lá, quase infartei, mas na minha situação, eu não tinha muita escolha. 

Fui passar a noite em uma pousada de posto, minha cabeça estava doendo, não queria contato com ninguém. Tive que pedir um carregador emprestado para o cara que trabalhava de recepcionista, a vergonha meu deus, eu só queria morrer ali. Quando voltei para o meu quarto e carreguei meu celular, vi as 40 ligações perdidas de um número desconhecido. Pensei na possibilidade de ser alguém dentro do presídio de São Paulo, mas era o mesmo número, então retornei na curiosidade.

- Tamires? - ouvi uma voz familiar

- Alô, você ligou para mim umas 40 vezes, posso ajudar? - perguntei desconfiada

- Tamires, aqui é a Maria, eu tentei te ligar porque queria te fazer uma proposta - ouvi a Maria falar no telefone

- Bicha tu já começa ligando pra pessoa assim? Não tem nem um oi decente - falei 

- Desculpa, é que estamos fazendo isso nas pressas - falou ela

- Estamos? Quem? O que você quer? - perguntei já me estressando, minha cabeça estava doendo muito naquela hora

- Você gostaria de vir passar um tempo aqui no Espírito Santo? A Halana alugou uma casa na praia muito bonita, é toda rústica, moderna e tem uma piscina bem legal com vista para o mar - disse ela tentando me convencer

- Maria tua acha que eu sou desocupada mulher? Eu fiquei 5 horas presa na BR 343, gastei muito dinheiro para sair de lá e vou passar a noite em uma pousada duvidosa - falei de saco cheio 

- Ahh tudo bem, desculpa - falou ela, senti que ela ficou um pouco chateada - qualquer coisa pode ligar.

- Tudo bem, vou indo lá, tchau - falei, me senti um pouco culpada de ter tratado ela mal, mas minha cabeça está doendo muito para falar com algum ser humano agora. 

Tentei pegar no sono, mas me acordei 30 minutos depois com alguém batendo muito forte na minha porta. Me levantei para abrir e me surpreendi da pior forma possível. Vi o mesmo recepcionista que me atendeu sem camisa, ele olhou para mim com um olhar tosco.

- Eu sei que você não pediu só o meu carregador - disse ele me olhando de um jeito estranho

- Meu filho pelo amor de Deus se preserve, eu realmente tava precisando, mas agora pode levar relaxe - falei 

- Deixa eu te dar energia - falou ele tentando passar pela porta

- Valha meu Deus, você usou o que? Eu hein, se respeite pelo amor de Deus - falei tentando fechar a porta

- Então você é do tipo difícil? - ele falou colocando muita força para abrir a porta, percebi que não iria conseguir com ele, então fui para trás e peguei uma garrafa de vinho que a pousada dava de brinde para me proteger. 

- O que você tá fazendo? Tá maluco? - perguntei com raiva

- Eu estou fazendo o meu trabalho respondeu tentando se aproximar 

- Fique bem aí, se der mais um passo eu transformo sua cara horrorosa em papa - falei puta da vida, nem dormir eu podia mais. 

- Deixa de ser bravinha, solta logo essa garrafa - falou ele

- Senhor Meu Deus, se eu for queimar no inferno por isso... - falei, mas ele me interrompeu, tentou se aproximar mais de mim e recuei. ele tinha trancado a porta, peguei toda a força do meu ódio e quebrei a garrafa de vinho na cabeça dele. 

Não demorou muito para aquele otário cair no chão, melou o tapete inteiro com sangue, me desesperei na hora. 

- Minha Bolsa!!! Vai ficar toda manchada!! - falei desesperada, eu devia ter calculado onde eu iria derrubar aquele idiota no chão. Acho que essa situação inteira foi um sinal, liguei para a Maria novamente.

- Alô Ma, desculpa ter recusado, acho que tô precisando de umas férias - falei olhando para janela

- Ué? Mudou de ideia tão rápido assim por quê? - perguntou ela, olhei para o cara desmaiado no chão, não parava de sair sangue da cabeça dele, voltei minha atenção para Maria e respondi:

- Eu ando muito estressada, acho que seria legal ter umas férias, reencontrar os velhos amigos.

- Ahh, tudo bem então, vou te passar o endereço, ok? - falou ela

- Claro, manda tudo pra mim, te vejo em breve - falei 

- Ok, boa noite - disse ela

- Boa - falei desligando o telefone, automaticamente pensei, preciso excluir qualquer vestígio meu nessa pousada. Fui até a recepção e excluí as gravações que eu apareço entrando, entrei no sistema falido deles e excluí meu nome e minhas informações. Quando encontrarem o corpo daquele desgraçado, não vão saber que eu estive aqui. 

- Siri - falei para o meu celular

- Boa Noite Tamires Kelle - falou a assistente de voz do meu celular

- Tocar "No Body, No Crime" da Taylor Swift - falei, enquanto estava desconectando todas as câmeras de segurança. Depois de limpar qualquer vestígio da minha presença e ter apagado minhas digitais de qualquer lugar que eu toquei, peguei minha linda bolsa e saí para pegar meu carro que estava na oficina do posto. 

Se eu passar um tempo longe daqui, nunca vão pensar que eu matei esse cara. Eu até pareço uma psicopata pensando nisso, mas se aquele cara não tivesse tentado violar o meu espaço pessoal, agora ele estaria de boa vivendo a vida dele. A culpa não é minha, mas as pessoas gostam de criar a narrativa mais condizente para o que elas defendem e se eu confiar nelas, vou passar muito tempo no presídio.   

CIA, CIA, CIA - O reencontro Onde histórias criam vida. Descubra agora