✩Pista de skate

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(Os capítulos 3 e 4 se passam no mesmo dia, mas com perspectivas diferentes)

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Xande e Guizo chegam no parque, que, para a felicidade do primeiro, não tem quase ninguém. O céu está limpo e o clima agradável. A barriga de Guizo ronca.

— A gente podia ter tomado café, né? — ele diz, enquanto liga sua câmera.

— Não tinha nada pra comer lá — Xande fala, olhando para as árvores que balançam suavemente.

— Então a gente podia ter comprado alguma coisa no caminho, pra fazer tipo um piquenique aqui, ou sei lá — Guizo limpa a câmera em sua blusa. — Caraca, que lente suja.

— Mas nem tá todo mundo do grupo aqui pra fazer um piquenique, Gui.

— Ah… é, verdade — Guizo desvia o olhar, gravando takes aleatórios da paisagem.

Eles chegam na pista de skate, para onde Xande logo corre. Guizo se encosta em uma árvore próxima, espera o amigo se posicionar para começar a gravar, e faz um sinal para Xande, que começa a andar pela pista, fazendo manobras.
O skatista, para Guizo, era praticamente um espetáculo. Não só pelas manobras legais que ele sabia fazer, mas sim por tudo. Os cabelos loiros voando no ar e brilhando; os olhos azuis com dificuldade de ficarem abertos por conta do sol; a expressão de concentração em seu rosto; a forma poética que seus movimentos o fazem… sair da gravação?

— Quê? — Guizo é puxado de volta para a realidade, e ouve um grito de dor vindo de Xande. — Ah, puta que pariu.

Ele corre até o amigo, que está deitado no chão.

— Xande? O que houve? — Guizo pergunta, ofegante. — Você tava mandando mó bem.

— Tinha uma… uma pedra ali — Ele aponta para onde seu skate parou.

— Ai, cara — Guizo se agacha. — Você se machucou muito?

— Meu braço tá doendo, e acho que rasguei minha perna inteira.

Guizo olha para a perna de Xande, que não tem muito mais que alguns arranhões e poeira.

— Cara, cê só se arranhou — Ele volta a olhar para o rosto do loiro.

— Mas tá doendo muito, Gui.

— Quer voltar pra casa e deixar a Dara ver isso, então?

— Será que ela já acordou?

— Não sei. Até a gente chegar lá, talvez — Ele se levanta e estende o braço para Xande. — Consegue levantar?

— Levantar sim, mas… ai — Ele segura na mão de Guizo e se puxa para cima. — Acho que não consigo andar.

— Por causa dos arranhões? — Guizo diz, debochando.

— Também porque eu tô cansado, bobão.

— E quer que eu faça o que? Leve a princesa no colo?

— Sim, quero.

Guizo fica sem reação por alguns segundos e cogita em realmente tentar pegar Xande no colo, mas o garoto põe a mão em seu braço.

— Tô brincando, não tô tão mal assim. Só preciso de apoio — Xande coloca o braço nos ombros de Guizo. — Mas seria bom se tivesse alguém que conseguisse me levar no colo.

— Cê tá falando que eu não consigo? — Guizo diz, segurando o amigo com seu braço.

— Sim — Xande balança a mão na direção do skate. — Agora pega meu skate ali, vai.

Guizo suspira e balança a cabeça, indo até o skate.

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O de cabelos vermelhos já não aguenta mais ouvir o outro reclamar. Xande já reclamou da dor, da distância, do barulho da buzina de um carro, e algumas coisas mais que Guizo não prestou atenção. Estava mais focado em coisas como segurar o amigo, a proximidade que estavam agora, e…

— Guizo, guizo, guizo, guizo, guizo — Xande cutuca o amigo.

— Que foi? — Eles param de andar.

Xande aponta para o lugar logo à frente. Uma sorveteria. Eles já viram aquele lugar, mas nunca compraram nada ali. Parecia ter umas coisas boas.

— Compra um sorvete pra mim? — Xande pede, com os olhos brilhando.

— Não sei se o dinheiro que tenho aqui vai dar.

— A gente vê lá, Gui. Por favor.

— Ai, tá bom.

Xande grita "uhul", e corre até a sorveteira. Surpreendente, pra quem estava reclamando de dor na perna há 5 minutos atrás.

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O dinheiro no bolso de Guizo era exatamente o preço do sundae que Xande queria. Era meio grande, então pediu outra colherzinha para dividir com o bom samaritano que comprou.
Chegaram no prédio com o sundae na metade, então terminam de comer antes de subir.

— Guizo, é… — Xande começa, olhando para as escadas. — Agora você pode me carregar mesmo?

— Cê não tava andando mó bem sem apoio, já? Você até correu pra sorveteria.

— Mas é escada, e a gente mora longe… — Xande faz cara de sofrido.

— É no segundo andar, Xande. E você mesmo falou que eu não te aguentava.

— Por favor, idiota — Ele segura os ombros de Guizo. — Eu tava brincando naquela hora, juro. Te pago 2 sundaes daquele depois.

— Você nem tem dinheiro pra isso —Guizo suspira. — Mas tá bom. Sobe nas minhas costas.

Xande sobe nas costas de Guizo, com nenhuma dificuldade pra quem estava tão cansado assim. O de cabelos vermelhos começa a subir as escadas, todo desengonçado, enquanto o loiro ri.

— Se a gente cair aqui, a culpa vai ser sua — Guizo diz, curvado com o peso do amigo.

— Se a gente cair, eu que vou te salvar.

E assim continuam subindo os degraus, de uma forma extremamente lenta e perigosa.

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