Capítulo 6 [Parte 1]

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Aviso: Esta obra contém/menciona comportamentos tóxicos, quadro depressivo, familiares abusivos e tentativa de homicídio.

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Morena ficou aliviada quando entrou na cabana e percebeu que Ivan não estava lá. Queria ficar sozinha pelo menos alguns minutos, com tempo para organizar os seus pensamentos e sem precisar falar com ninguém sobre o dia que tivera. Ivan sempre a respeitava quando precisava de espaço, mas desde que se formaram, ela sempre se sentia culpada por não conseguir ceder a mesma atenção de antes. As obrigações na Corte ocupavam grande parte dos seus dias e Ivan sempre parecia tão deslocado, tão sem jeito com aquela vida, que quando sobrava tempo, tudo que podia fazer era dedicá-lo ao marido. Querer algum tempo para si sempre parecia uma traição ao compromisso que ele fizera para estar ao lado dela.

Preparou um banho e se afundou na banheira, suspirando pesadamente, sentindo cada centímetro das pernas e dos seios doloridos. Ir à caçada fora um erro do qual se arrependera no momento em que subiram nos cavalos e adentraram a mata, a cólica e a dor nas costas que sentia quase todo mês se misturando com a cabeça latejante, fruto de uma noite mal dormida.

Se não fossem os anéis que Ivan lhe dera, tinha certeza que não teria aguentado vinte minutos em cima de um cavalo. Ao menos usufruía de uma liberdade vinda do desprezo, podendo ficar ao final de todo o cortejo, depois de serviçais e cachorros e carroças, seguindo em seu próprio ritmo. A égua que forneceram também era dócil e tudo parecia tolerável a princípio. Não demorou muito para o Príncipe Poroshenko se juntar a ela ao fim do cortejo, informando em um tom um pouco contrariado:

— Eles não estão encontrando nada.

— Com essa papagaiada toda, é claro que não — comentou Morena. — Mas a culpa, obviamente, será nossa.

— Já é — disse Poroshenko, com os ombros encurvados. — A Baronesa Tsereteli fez questão de me mandar aqui para trás porque disse que minha má vibração espanta os animais.

— Talvez seja a cara feia dela que espante todo mundo — Morena retrucou, fazendo o homem gargalhar. — Ou então os animais pressentiram que vão virar troféus bregas na sala desse povo e saíram correndo desesperados para evitar tal triste destino.

Poroshenko riu mais uma vez e olhou para ela com um sorriso tão largo que acabava por estreitar seus olhos e marcar as pequenas rugas de expressão que possuía. Morena engoliu em seco, sabendo exatamente qual assunto ele traria à tona.

— Não conversamos muito, não é? — apontou ele. — Mesmo na viagem até aqui você dormiu durante quase todo o percurso. Aleksey fala muito de você, estava curioso em te conhecer.

— Bom, muito prazer. — Morena forçou um sorriso, tentando não deixar transparecer a forma como seu coração acelerara com a mera insinuação de que Aleksey ainda falava dela. — Ivan igualmente elogiou as conversas que tiveram. Também estava curiosa para te conhecer melhor.

Poroshenko se iluminou tanto com o comentário que Morena quase se sentiu envergonhada por mentir assim, descaradamente. Quase.

— Achei que ele tinha me achado chato, a maioria das pessoas fica entediada rápido quando eu entro... nos assuntos que eu gosto.

— Ivan ficaria entediado se você falasse de coisas banais, então não se preocupe. Ele pode ficar horas ouvindo alguém falar sobre os próprios interesses pessoais, por mais diferente que o tema seja.

Poroshenko sorriu novamente, mas com uma postura que ainda parecia pedir desculpas por ser estranho.

Ela conseguia ver exatamente por que Aleksey se sentira atraído por Vladislav Olgaevich. O príncipe de Khostovinist' era um homem agradável, de conversa fácil e riso bonito, extremamente atencioso. Sempre tratava todo mundo com quem conversava como se aquela conversa fosse crucial, prestando atenção de forma genuína. Além disso, a posição relativamente poderosa que possuía na Corte também ajudava, assumindo um papel semelhante ao de Morena.

Estudo sobre Amor e outros venenos letaisOnde histórias criam vida. Descubra agora