Capítulo 11 [Parte 2] - Fim da Temporada

53 7 5
                                    

Aviso: Esta obra contém/menciona comportamentos tóxicos, quadro depressivo, familiares abusivos e tentativa de homicídio.

--

Ela sabia de tudo.

Ivan tinha duas opções: a primeira era fingir que não compreendera o que estava acontecendo, fingir que não conhecia sua esposa bem o suficiente para reconhecer o misto de confusão e raiva em sua expressão, fingir que não desconfiava a causa. A outra era encarar o problema de frente, como deveria ter feito meses atrás, até mesmo anos, quando Yakov fizera a oferta que ele deveria ter ignorado todas as vezes. Tomar vergonha na cara e resolver tudo antes que se tornasse um problema maior, antes que colocasse tudo a perder por bobagem, como acusara Aleksey de fazer na manhã que passaram na praia.

A primeira opção se parecia demais com uma traição para o seu gosto.

— Morena?

O coração de Ivan parecia querer sair pela boca nos segundos que ela demorou para responder, ainda o encarando com os lábios pressionados em uma linha fina e uma pequena ruga alojada entre suas sobrancelhas, o punho apertado até a pele marrom ficar pálida ao redor dos nós dos dedos.

— Ivan Irinin.

Ivan sentiu o estômago revirar, e o olhar da esposa parecia queimar sua pele. Ele agarrou a cesta com mais força, sentindo as mãos tremerem. Conseguia ouvir o rugido do sangue nos ouvidos e precisou fincar os tornozelos no chão para não obedecer a vontade dar meia volta e fazer de tudo para adiar ainda mais aquela conversa. Não haveria um depois se ele não conversasse com ela agora. No entanto, nunca tinha ficado do lado errado do olhar pelo qual a esposa era famosa, e agora que estava, as pernas estavam trêmulas e ele queria desaparecer, queria ajoelhar e pedir perdão, queria voltar no tempo e tomar decisões mais espertas. Era como se ela conseguisse ver sua alma, pesando todos os pecados e erros, e ponderando qual seria o melhor castigo.

Se arrependimento matasse, Ivan teria caído morto naquele instante. Aquele era o pior dos cenários, um que ele nunca considerara, um que ele não sabia calcular todas as variáveis — Morena descobrindo sozinha, antes que ele pudesse contar; Morena furiosa por Ivan ter escondido algo dela; Morena considerando se valia a pena continuar sendo sua esposa. O último pensamento provocou um calafrio na espinha, os olhos ardendo enquanto seus pensamentos se embaralhavam com o nervosismo. Deveria ter muito cuidado com o que falaria porque, com um passo em falso, ele a perderia — e só a hipótese de perder Morena causava uma dor física no peito.

Na ausência de palavras, Morena falou:

— Você tem algo para me contar?

No entanto, Ivan criara coragem o suficiente para dizer, ao mesmo tempo:

— Como você descobriu?

Por um instante, um sentimento que Ivan não foi capaz de identificar passou pelas feições da esposa, algo que lembrava muito decepção. Ivan sentiu um gosto amargo ao perceber que ela ainda esperava que fosse mentira, que aquilo fosse um engano. Mesmo sabendo da mentira, ela ainda confiava nele, e ele fechou os olhos, levando uma mão à ponte do nariz. Quando abriu os olhos novamente, Morena o encarava com a mesma expressão de antes, agora com as mãos na cintura. Ela deu um passo para se aproximar mais.

— Como eu descobri o quê, Ivan Irinin? — perguntou ela com um tom sobrenaturalmente calmo. Ivan mordeu a parte interna da bochecha por nervosismo, agradecendo silenciosamente por estar segurando a cesta e ter o que fazer com as mãos. — Eu vou perguntar de novo: você tem algo para me contar? Eu quero ouvir da sua boca.

— Meu bem... — começou ele, e ela ergueu uma mão com impaciência, interrompendo-o.

— Não me faça ficar ainda mais irritada me chamando assim, Ivan. — Morena deu outro passo, e ele precisou de toda a sua força de vontade para não dar passos para trás, para se afastar dela, para não largar a cesta e tatear os bolsos à procura de um cigarro para se tranquilizar. — Eu quero ouvir da sua boca, agora que você confirmou minhas suspeitas. Tem algo para me contar ou não tem?

Estudo sobre Amor e outros venenos letaisOnde histórias criam vida. Descubra agora