Capítulo 10 [Parte 2]

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Aviso: esta obra contém/menciona comportamentos tóxicos, quadro depressivo, familiares abusivos e tentativa de homicídio.

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Em algum momento daquela manhã, Aleksey se perguntou como Ivan e Morena conseguiam ser membros funcionais da sociedade e sair em público sem cometer pelo menos três atentados ao pudor por hora. Ficar ali entre os dois, com Morena usando o peito de Aleksey como travesseiro enquanto Ivan se apoiava na barriga dele era uma sensação inebriante, as pequenas carícias que trocavam acalmando-o, os três oscilando entre adormecer e acordar para recomeçar o ciclo. O cansaço da noite anterior finalmente parecia tê-los alcançado, mas enquanto Aleksey acariciava o cabelo de Ivan descuidadamente como sempre desejara, a fibra grossa acariciando a pele entre os dedos, ele começava a formular planos que os manteriam ali pelo resto do dia.

Depois de algum tempo, Morena bufou, apoiando-se em Aleksey para olhar para ele e Ivan, passando a outra mão no cabelo para controlar alguns fios rebeldes que escapavam dos seus cachos.

— Eu preciso muito, muito, muito fazer xixi. — Morena revirou os olhos, parecendo contrariada com o fato de ter um corpo humano e precisar cumprir suas necessidades físicas, e Aleksey a puxou para mais um beijo antes de soltá-la do abraço.

Ela saltou da cama como uma gata, cobrindo parcialmente os seios como se Aleksey não tivesse gozado pelo menos duas vezes neles na noite anterior, e abaixou-se para pegar a camisola no chão. Com a luz do sol que entrava entre as frestas das janelas, a pele dela parecia reluzir como bronze e o movimento dos quadris ao andar o fez morder os lábios inconscientemente. Morena parou na porta do banheiro e olhou por cima do ombro antes de entrar, comentando como quem não quer nada:

— Se vocês quiserem começar qualquer coisa sem mim, sintam-se à vontade.

A gargalhada de Ivan ressoou contra a pele de Aleksey e foi seguida de um beijinho na barriga. Depois, Ivan se desvencilhou de Aleksey e sentou-se na cama, bebericando um pouco da água que trouxera para a mesa de cabeceira mais cedo e oferecendo um pouco para Aleksey, que recusou, virando-se na cama para observá-lo em silêncio. Também conseguia vê-lo sob a luz do dia: o cabelo preto completamente bagunçado, o nariz reto, as bochechas altas e as sobrancelhas bem-marcadas tornando seu rosto inesquecível; os músculos que desciam pelo antebraço só servindo de complemento para o rosto bonito e acabando em dedos longos. Talvez Aleksey devesse se sentir culpado pelos arranhões vermelhos onde a barba roçara contra a pele de Ivan, mas eram um lembrete delicioso do que tinham feito, e ele nunca se arrependeria de nada da noite anterior.

— Ela é tão fofa, não é? — disse Ivan baixinho, com um tom um pouco sonhador, quase num suspiro.

— Essa seria a última palavra que eu usaria para descrever Morena nessa manhã, mas sim, ela é fofa. — Aleksey riu, e Ivan pareceu constrangido, desviando o olhar para o próprio colo, e Aleksey conteve a vontade de puxá-lo para um beijo e murmurar que ele também era fofo. Ele pressentia que Ivan não receberia aquele elogio muito bem.

— Mas é isso, no fim das contas. Não é algo que você esperaria que ela fosse. Não é algo que ela pode ser normalmente — explicou Ivan, tentando mexer nos anéis que normalmente levava nos dedos, e parando no meio do gesto ao perceber que os dedos estavam nus. — É uma pequena bênção, vê-la assim. É uma pequena bênção poder dar espaço para que ela fique assim.

Aleksey estendeu a mão para segurar a mão agitada de Ivan, erguendo-se na cama para ficar sentado ao lado dele, tendo a impressão distinta de que qualquer comentário que fizesse poderia destruir aquele momento. Ivan olhou para Aleksey parecendo assustado, a dificuldade que ele tinha em entender os próprios sentimentos clara em seu rosto, e Aleksey beijou as costas da mão dele. Ivan suspirou, levando a outra mão ao rosto.

Estudo sobre Amor e outros venenos letaisOnde histórias criam vida. Descubra agora