Capítulo 12: Amor gelado.

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" —Anna?— Minha irmãzinha estava sentada na sala da nossa antiga casa com suas bonecas.
—Oi!— Ela sorri para mim e parece estar desenhando algo.
—O que está fazendo?— Ela continua concentrada.
—Uma carta!— Ela pega o giz de cera amarelo.— É sobre você!
—Sobre mim?— Tento olhar mas ela esconde o papel.
—É segredo. A mamãe disse que como eu fui boazinha, posso escrever uma carta ao Papai Noel fazendo um pedido e eu pedi pra que você voltasse pra casa.
—Então você já contou o segredo.— Sorri pra ela que parecia estar brava.
—É, mas eu não pedi só isso.— Ela volta a desenhar usando o giz vermelho dessa vez.
—Eu não posso voltar Anna, ainda não.— Me encostei no sofá com a cabeça levantada.
—Se você não fizer isso... eles vão te pegar.— Ela parecia choramingar.
—Eles quem?— Olhei para o corredor e tinham dois homens lá mas não pude ver seus rostos.
—Eles estão vindo...AAAAAAAA!"

—Que porra é essa?— Ouço gatos transarem ao lado de fora da minha janela.—FORA DAQUI!!!— abri a janela e acertei algo que estava em minha cabeceira.
—Que barulho foi esse seu retardadooo?—Necrobutcher grita pela sua janela.
—Eram gatos transando na minha janela, seu idiota!— Gritei de volta.

Deitado de volta na minha cama me pego pensando, será que é uma boa ideia escrever uma carta para a minha família. Sinto falta deles, sinto falta da Anna, do Anders e minha mãe, mas não do meu padrasto. Eu nunca vou esquecer o que ele fez.

Por causa daqueles malditos gatos miseráveis não consigo mais dormir. De qualquer jeito isso não importa mais, daqui a algumas horas será de manhã e quero ir ao restaurante do Mhanuel. Tenho um plano em mente há alguns dias.

—Rita, preciso falar com o Mhanuel.— Me pus em frente a irmã dele que limpava a bancada, são sete da manhã e acabaram de abrir.
—Não é uma boa ideia fazer isso ho...— A interrompi assim que vejo Mhanuel com um rosto um tanto triste.
—Mhanuel preciso de ajuda, sua ajuda.— Ele arregala seus olhos e faz gesto de silêncio para mim.
—Mhanuel!!! Cosa ci fa questo dannato ragazzino qui? Lo voglio fuori dal mio ristorante in questo momento!!!

O pai dele Sr Giuseppe que é um senhor careca e baixinho aparece esbravecido e gritando coisas em italiano.

—Cara, é melhor você vazar daqui. Depois conversamos.— Ele olha para o chão, como se estivesse envergonhado e murmura.
—Seu Giuseppe, eu não sou como meus amigos, vim em paz e olhe...— mostrei a ele meu cofre velho.— Trouxe dinheiro.
—Hum.— Ele me olha pensativo enquanto Mhanuel está abaixado do outro lado da bancada roendo suas unhas.— E o que queres?
—Preciso reservar o restaurante para sexta à noite, quero pedir minha garota em namoro aqui.— Ele me olha ainda apreensivo.
— 200 Kroner.— Ele responde sem pestanejar, aquele homem tinha uma certeza tão grande em sua resposta que me deixava confuso.
—Dou 125 Kroner.— Sentei em uma cadeira.
—170 Kroner porque estou de boa vontade a te atender.— Ele se senta em uma cadeira à minha frente.
—150 Kroner e não falamos mais nisso.— Mhanuel estava na mesma posição de alguns minutos atrás enquanto Rita olhava atentamente os movimentos de seu pai.
—Está bem garoto. Você venceu.— Rita e Mhanuel bateram palmas mas se esconderam embaixo do balcão ao olhar de Giuseppe para com eles.— Mas comerão apenas o que eu preparar.
—Não se preocupe, é pela comida que eu sempre volto aqui.— Lhe dei minha mão e com uma certa negação no olhar, ele apertou-a.
—Mhanuel, occupati delle finanze e dei preparativi per la richiesta del tuo miserabile amico.— Ele se levanta da cadeira e sai em direção a cozinha.
—Grazie Giuseppe.— Ele me olhou um tanto espantado.
—Cara, como você conseguiu fazer isso? Meu pai é extremamente difícil de conversar.— Mhanuel se senta na cadeira a minha frente.
—Eu levo jeito com as pessoas. —Sorri e dei de ombros.
—Il tuo amico è un completo idiota, Mhanuel.— Rita resmunga lá da cozinha e Mhanuel lhe olha um tanto bravo.
—Mas de onde você vai tirar todo esse dinheiro?— Ele me olha de braços cruzados.
—Eu não sei, acredito que dentro desse porquinho velho deve ter menos do que 100 Kroner.— Balanço o triste e velho porquinho.
—Eu não tenho dinheiro até meu pai fechar as contas no fim do mês e depois de hoje, acho que ele vai me dar menos do que sempre.— Ele coça a cabeça.
—Já sei o que vou fazer.— Olhei para o buraco no canto da parede feito por ratos.
—E o que seria?— Mhanuel me ouve atentamente.
—Vou pegar dinheiro dos caras lá em casa sem eles saberem.— Ele me olha espantado.
—Mas isso não seria roubo? Você sabe do que eles são capazes de fazer? Se tentar roubar qualquer coisa de Varg por exemplo, ele pode te dar uma facada.— Ele me empurra.
—Foda-se, eles já tiraram muita coisa de mim, isso não faria falta para nenhum deles e você sabe disso. Especialmente o Euronymous que adora se esnobar com a maldita família rica dele.— Me levanto.
—A Sigrid não vai gostar de saber disso.— Ele nega com a cabeça.
—Ela não vai saber.— Sorri.
—Falando nisso, como vai ser seu plano de pedir ela em namoro? Você sabe que teria que comprar um anel, certo?
—Você vai vir comigo até uma joalheria e vamos comprar dois colares com relicários. — Encostei em seu peito com meu dedo indicador.
—Eu? Mas eu estou de servi...
—Seu Giuseppe, eu e Mhanuel vamos sair por um momento e depois voltamos. — Puxei a mão de Mhanuel e seu pai acenou resmungando alguma coisa muito bravo.

É quase natal, as ruas estão cobertas por neve, as famílias andam juntas para se aquecerem e os casais apaixonados andam de mãos dadas com o amor exposto em seus olhos...blegh, que bobagem.

Mhanuel e eu passando os últimos 40 minutos procurando um par de relicários que fosse perfeito, Sigrid merece o melhor. Espero que ela aceite meu presente e principalmente meu pedido de namoro.


Vovó e eu ainda não estamos nos falando direito, mas hoje é dia de montar a árvore de natal e não há nada que eu mais ame no mundo que montar uma árvore de natal

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Vovó e eu ainda não estamos nos falando direito, mas hoje é dia de montar a árvore de natal e não há nada que eu mais ame no mundo que montar uma árvore de natal.

—O que quer de presente esse ano?— Vovó pergunta sem dirigir o olhar a mim, mas sim a caixa com pisca-piscas.
—Ainda não decidi. Estou entre chocolates Teuscher e... aceitação.— Respondi cabisbaixa, tentando desenrolar os pisca-piscas.
—Por que aceitação? O que quer dizer com isso?— Ela solta a caixa.
—A senhora sabe...— Olhei para os lados e recostei na parede.— Gostaria que meus pais não tivessem me mandado pra cá, eu nunca quis ser advogada.
—O que te impede de voltar ou mudar sua vida com a realidade que tem?— Ela me pergunta sem pestanejar.
—Eu não posso fazer isso, meus pais me matariam. Eu não gosto do que faço, mas posso me acostumar.— Ela retira seus óculos e olha no fundo dos meus olhos.
—Seu pai está aqui? Não! Você já é adulta? Sim. Voltando a segunda pergunta que fiz, já que está aqui, por que não muda sua vida com a realidade que tem? Sigrid, você tem 18 anos, ninguém pode decidir por você a vida toda. Acha mesmo que se eu tivesse deixado isso acontecer comigo, eu estaria aqui? Eu teria cortado meus cabelos como são? Eu sairia para beber vinho com minhas amigas? Nem todas as mulheres podem fazer essas coisas, mas se todas se unissem, a vida de muitas seria melhor!— Abaixei minha cabeça.
—O que eu deveria fazer então, vovó?— Limpei minhas lágrimas.
—Faça você mesma feliz!— Ela tocou em meu queixo e sorriu.
—Eu quero começar com uma coisa, mas preciso da sua permissão antes.— Ela me olha com certa dúvida.— Posso trazer o Per para o jantar de natal?
—É o que?— Ouvi Manfred derrubar alguns enfeites de natal no chão.
—Manfred, está ouvindo nossa conversa?— Minha avó se vira e lhe pergunta com seriedade em sua voz.
—Não senhora. Estava falando com Dušan, ele disse algo que não ouvi muito bem pois está do outro lado da janela.— Dušan estava a pelo menos 2 metros tirando neve do quintal.
—Bem, voltando, acho que é uma boa ideia. Talvez aquele rapaz não seja tão...—Manfred a interrompe.
—Rude?— Vovó o olha com os olhos arregalados e os lábios franzidos como se resmungasse algo.—É o que? Dušan, fale mais perto, não estou te ouvindo.
—O que eu quero dizer, é que talvez ele não seja tão rústico e mereça uma segunda chance. Talvez você possa fazer a diferença na vida dele, aquele rapaz possui uma melancolia em seu olhar profunda, mas entenda que você não pode decidir por ele, apenas ajudá-lo.
—Tudo bem vovó, obrigada.

Montamos o resto da árvore por horas, ela era gigante mas parecia menos tediante quando falávamos sobre minha infância, o vovô, meus pais e o meu antigo esconderijo por entre o jardim de roseiras espinhentas da vovó.

Amo-te morteOnde histórias criam vida. Descubra agora