Ele não prega o pessimismo

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Minha sessão de exercícios é interrompida no meio do dia, quando mamãe desce a escada e diz que eu tenho uma consulta com o Dr. Kim. Pergunto se posso ir mais tarde, à noite, depois da minha série diária de levantamento de pesos, mas mamãe diz que terei de voltar ao lugar ruim em Melbourne se não comparecer às consultas com o Dr. Kim e ela chega a fazer referência à decisão do tribunal, dizendo que posso ler a papelada caso eu não acredite nela.

Então tomo banho e mamãe me leva de carro até o consultório do Dr. Kim, que fica no primeiro andar de uma casa enorme em Voorhees, perto da estrada Haddonfield. Quando chegamos, eu me sento na sala de espera enquanto mamãe preenche mais papelada.
A essa altura, dez árvores já devem ter sido derrubadas só para documentar minha saúde mental, coisa que Lana detestaria ouvir, uma vez que ela é uma ambientalista entusiástica que me dava pelo menos uma árvore da floresta tropical todo Natal — na verdade era apenas um pedaço de papel atestando que eu possuía a árvore —, e agora eu me sinto mal de verdade por ter zombado desses presentes e, quando Lana voltar, eu nunca mais vou debochar do desmatamento das florestas tropicais.

Enquanto estou sentado folheando uma revista Sports Illustrated, ouvindo uma estação de música ambiente que o Doutor sintoniza em sua sala de espera, subitamente começo a escutar acordes sensuais de sintetizador, pratos suaves ao fundo, a caixa marcando um erótico batimento cardíaco, o rebrilhar de poeira de fada, e, então, o devasso saxofone soprano. Você conhece a música:
“Songbird”.

Então eu me levanto da poltrona, berrando, chutando cadeiras, derrubando a mesa de centro, pegando pilhas de revistas, jogando-as contra as paredes e gritando:

— Não é justo! Não tolerarei nenhum truque! Não sou um rato de laboratório emocional!

Então um homem magro que parecia ser maior que eu — com cerca de um metro e setenta e oito — calmamente me pergunta o que há de errado.

— Desliguem essa música! — grito. — Desliguem isso! Agora!

O homem é o Dr. Kim, logo noto, porque ele manda a secretária desligar a música, e, quando ela obedece, Kenny G sai de minha cabeça e eu paro de gritar. Cubro o rosto com as mãos para que ninguém me veja chorar, e, após alguns minutos, minha mãe começa a afagar minhas costas.

Muito silêncio… Então, o Dr. Kim me pede para acompanhá- lo até o consultório. Eu o sigo, relutante, enquanto mamãe ajuda a secretária a arrumar a bagunça.

O consultório dele é agradavelmente estranho. Duas poltronas reclináveis de couro, uma de frente para a outra, e plantas parecidas com aranhas — longas trepadeiras repletas de folhas brancas e verdes — penduradas no teto, emoldurando uma grande janela voltada para uma banheira de pedra para pássaros e um jardim repleto de flores coloridas. Mas não há mais nada na sala, exceto uma caixa de lenços de papel no estreito espaço entre as duas poltronas.

O chão é de madeira de lei amarela e o teto e as paredes foram pintados para parecerem o céu —nuvens bem realistas flutuam por todo o consultório, o que tomo por um bom sinal, já que adoro nuvens. Uma única luminária ocupa o centro do teto, e parece um bolo brilhante com cobertura de baunilha de cabeça para baixo, mas o teto em torno da luz foi pintado para parecer o sol. Raios amigáveis projetam-se do centro. Devo admitir que me sinto calmo assim que entro no consultório do Dr.Kim, nem me lembro mais de ter ouvido a música de Kenny G.

O Dr. Kim pergunta em qual poltrona eu gostaria de relaxar. Escolho a preta em vez da marrom e imediatamente me arrependo, pensando que escolher
a preta me faz parecer mais deprimido do que se eu tivesse escolhido a marrom e, na verdade, não estou nem um pouco deprimido.
Quando o Dr. Kim se senta, puxa uma alavanca no lado de sua poltrona, o que faz o apoio de pés se erguer. Ele se recosta e entrelaça os dedos atrás de sua cabeça, como se estivesse prestes a assistir a um jogo de futebol.

The good side of life - HyunchanOnde histórias criam vida. Descubra agora