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   Acordei com dores.

   Talvez eu tenha passado o horário dos meus remédios. Eu não queria tar sentindo tanta dor assim, mas eu ainda não estava tão consciente. Minha cabeça pulsava tanto. A dor chegava a ser tão forte que me dava sensação de enjoo. E para piorar tudo o meu celular começou a tocar. Com o seu toque comum, ignorei ele, mas ele tocou pela segunda vez. O que não deu para ignorar, porque já estava me causando mais dores.

   Eu queria aproveitar os meus dias de atestado. Afundei o rosto no travesseiro soltando um gemido de dor e estiquei a mão para pegar o celular e sem sequer ler o nome da pessoa na tela eu atendi.

   — Filha, bom dia. — A voz doce e animada da minha mãe preenche meus ouvidos.

   — Bom dia mãe.

   A minha voz quase não saiu, ainda faltava ar para eu conseguir falar em bom tom. Além do fato de que eu não sou muito fã de falar de manhã, e muito menos fã de falar com minha mãe de manhã. Eu amo ela, amo meus pais, mas infelizmente recentemente as ideias dela não vem sendo as melhores, ou ela sempre foi assim e o mal humor simplesmente me corrompeu. Talvez seja o trabalho.

  — Filha, eu vou ser direta. — Respirei fundo já sabendo que não seria direta, ela quase que não consegue fazer isso. — A moça que contratamos para dar uma limpeza lá em casa, que deve estar cheia de poeira, sabe tem tanto tempo que não pisamos naquela casa. Então direto ao ponto, ela não pôde limpar ontem então vai ter que ser hoje. Sendo assim não vai dar para fazer um almoço lá em casa...

   Respirei fundo sentindo o meu peito relaxar. Eu não iria precisar sair de casa hoje, mesmo eles vindo para cá.

   — ... então ninguém viu sua casa querida.

   Droga, eu tinha me esquecido que eu tinha falado da minha casa para ela. Eu respirei fundo e já afundei o rosto no travesseiro, ela queria vir aqui hoje e queria que eu fizesse o almoço, coisa que eu não sei fazer. Posso ter muitas habilidades, mas a da culinária não é uma delas. Sei cozinhar coisas básicas.

   As ideias passam pela minha cabeça, eu posso pedir comida por aplicativo. Eu não sei o que eu pediria. Poderia sair para comprar algo para fazer uma sobremesa ou qualquer coisa. Meus pais claramente não esperariam muito de mim na cozinha. Eu não sei se eu conseguiria fazer tantas coisas para eles, a dor estava me matando.

   — Tudo bem se almoçássemos ai? — ela perguntou do outro lado da chamada, murmurei um sim. — Ah que bom, eu mal posso esperar para ver Nanami novamente, tem tantos anos que eu não o vejo. Só que agora vai ser diferente, não é? Agora que ele é seu namorado. Tem tanto tempo que eu não te vejo também.

   — Mãe eu...

   — Desculpa filha, ele está ai? — Tentei dizer que não, mas ela não parou. — Vocês estão morando juntos, ou ele passou a noite ai? Que noite ein, com Nanami. Seu irmão morreria se soubesse que vocês estão juntos.

   — Mãe, para pelo amor de deus. Eu... tenho coisas para fazer. Tenho que arrumar a casa, está uma bagunça.

   — Então nos vemos uma hora.

   — Ok — sussurrei.

   Quando desliguei o telefone eu levantei da cama em um pulo. Senti que minha alma sairia do corpo com a sensação da dor das minhas costelas. Olhei para o meu remédio em cima da mesa de cabeceira, como se fosse uma luz divina, e do lado deles um post-it amarelo. 

"Duas capsulas para dor de seis em seis horas até sua dor parar. O para dor tem embalagem rosa. O outro uma vez por dia, ele vai ajudar, não lembro direito como, mas vai. Todos os dias durante uma semana, as sete da noite. Espero que esteja melhor."

𝐌𝐲 𝐦𝐚𝐧; Nanami KentoOnde histórias criam vida. Descubra agora