8. Kenma

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Hoje é quinta feira, e Kuroo não fala comigo desde o dia da festa.
Não sei o que aconteceu de errado nesse meio tempo, tudo parecia perfeito quando nos despedimos em frente à minha casa, ele até mesmo curtiu minha foto. Mas nunca me seguiu de volta ou voltou a falar comigo na faculdade.
Estudamos em prédios diferentes, o que seria um motivo para não nos falarmos tanto, mas sempre almoço na mesma mesa, e ele sempre passa na minha frente para entrar na fila de salada. Algumas vezes o pego olhando para cá, mas desvia o olhar quando o vejo e não retribui nem um sorriso meu.
Detesto toda essa situação. Queria poder conversar com ele como conversávamos antes, queria conhecê-lo e chamá-lo para sair, estava ate mesmo considerando entrar em seu time de vôlei. Mas talvez ele só me veja como um caso de uma noite e não queira estender assunto, mas poderia ter me falado.
Nesse momento observo ele na fila do trailer de doces, me pergunto a quem ele vai mandar hoje, ou talvez seja para si mesmo.
Uma ideia quase perfeita surge na minha mente e Oikawa percebe a minha animação. Hoje é o segundo dia que ele se senta comigo no almoço, contei à ele sobre Kuroo, mas o fiz jurar que não falaria nada com o mesmo.

— O que foi? — Ele pergunta assim que percebe a minha mudança de postura.

— De qual doce Kuroo gosta? — Pergunto à ele.

— Não sei, nunca vi ele comprar nada para si mesmo. — Ele dá de ombros. — Parece que ele tem uma prova hoje. — Comenta olhando o próprio celular.

Esse é um fato que tem me ajudado um pouco. Kuroo, Tsukishima, Oikawa e Bokuto têm um grupo que servia para treinar vôlei nas horas vagas, mas hoje é mais como um grupo de amigos.
Oikawa me passa as informações que Kuroo tem falado no grupo, sei que ele está frustrado e chateado com algo, mas não disse com quem ou o que. Também sei que a mãe dele tem lhe dado bastante apoio, pois sempre manda foto de alguns mimos que ela tem feito pra ele.
Eu queria poder conversar com ele para mostrar apoio, talvez o ajudar como ele me ajudou com as caixas. Não sei se o problema tem a ver comigo, mas tenho certeza que eu não sou nem de longe uma solução.

— Seria uma ótima oportunidade pra dar um docinho à ele, ele sempre dá alguma coisa quando temos alguma prova difícil. — Oikawa comenta.

— Melhor que doce, Tooru! — Tenho outra ideia.

— Não acho que ele vá querer algo tipo um boquete antes da prova, ele não é assim.

— Credo! Não estou falando de boquete, não sou igual você.  — O repreendo. — Estou falando de uma caneta.

— Kenma. — Oikawa olha para mim paciente. — Eu sei está buscando soluções, mas eu acho que Kuroo já tem canetas.

— Não é qualquer caneta. — Digo tirando-a da mochila. — É essa aqui! — Mostro.

— Ótimo, uma biq preta resolveria todos os meus problemas também, tem mais uma aí? — Ironiza.

— Não é qualquer caneta, é a caneta que emprestei pra ele no dia em que começamos a nos falar, que ele me devolveu com um bilhete e depois disse que deveria ser a minha nova caneta da sorte. — Falo rápido demais.

— Finalmente uma boa idéia. — Oikawa diz se levantando. — Vou comprar um doce pro Iwa-chan, quer algo?

— Não, obrigado.

Enquanto Oikawa vai até a barraca começo a vasculhar os bolsos da minha mochila afim de achar meus post-its, encontro alguns azuis. Escrevo uma mensagem "Cuide bem da minha caneta da sorte <3 ".

— Aqui. — Oikawa volta e me entrega um saquinho com quatro balas de menta.

O olho confuso, não pedi nada e não gosto de bala de menta.

— Perguntei a atendente o que ele costuma comprar para si, ela disse que compra balas de menta. — Ele diz se sentando. — Escreve um post-it pro Iwa-chan também. — Me pede.

— O que quer que escreva? — Pergunto.

— "Espero que me ame tanto quanto ama essas malditas balas de iogurte", e faz uma carinha chorando.

— Dramático. — Caçoo enquanto faço o que ele pede.

— Vou colocar no armário do Iwa-chan, coloco o seu no de Kuroo.

— Perfeito!

Coloco a caneta no saquinho transparente junto das balas e grampeio o post-it fechando-o. Entrego à Oikawa e deito minha cabeça na mesa enquanto espero.
Ele não demora a voltar.
Quando retorna vamos até o gramado na frente do refeitório, não tem como Kuroo não passar por aqui.
Ficamos o restante do intervalo juntos, até Iwaizume chegar e se sentar ao lado de Tooru.

— Obrigado pelas balas. — Iwaizume agradece dando um selinho no recente namorado. — Eu te amo mais que elas. — Conclui entrelaçando os dedos no do outro.

— Assim espero. — Tooru brinca. — Eu te amo. — Ele deita a cabeça no ombro do outro.

— E aí Kenma? — Iwaizume pergunta e não precisa usar mais palavras, sei que ele está perguntando sobre Kuroo. Oikawa o contou no dia anterior, não consegue esconder coisas de Iwaizume desde que eram melhores amigos, e isso não mudou quando oficializaram o namoro há três dias.

— Ainda não falou comigo. — Digo com o olhar fixo na grama.

— Mas Kenma teve uma ideia ótima e agora estamos aguardando resultado.

— Certo, e qual resultado estamos aguardando?

— A expressão de Kuroo quando encontrar o bilhete que ele deixou com balas e uma caneta.

— É fofo entregar doce com bilhetes pra ele, geralmente é ele quem manda, não costuma receber. — Iwaizume comenta.

— Prometo mandar por uma semana completa se ele pelo menos voltar a falar comigo. — Digo sem perceber realmente o que disse.

— Fofo. — Os dois dizem juntos.

Observamos em silêncio quando o sinal bate e Kuroo passa pelo refeitório com o saquinho na mão e uma expressão séria no rosto.

— Nem um sorriso. — Não consigo deixar de comentar.

— Bom, ele pode estar nervoso para a prova. — Iwaizume diz.

Observamos quando Kuroo para no pátio ao encontrar Bokuto, que o pergunta algo que não conseguimos ouvir nem decifrar. Kuroo responde algo que também não ouvimos e abraça Bokuto.
Eles ficam abraçamos por algum tempo, não me parece um abraço "que bom te ver hoje" ou "boa sorte na prova" e sim um "vai ficar tudo bem" ou "tudo vai se resolver".
Respiro fundo quando Kuroo tira o saquinho do bolso e o mostra ao amigo, que comenta algo e ri, o moreno não retribui o riso, dá de ombros e os dois se despedem.

— Bom, tentamos. — Oikawa se levanta do chão junto com o namorado e estica a mão para mim. — A conclusão que se tira é que eles são babacas.

— Talvez a gente esteja interpretando errado. — Iwaizume tenta melhorar a situação.

— Mas não vimos errado. — Digo aceitando a ajuda de Oikawa para levantar. — Bokuto riu do meu gesto e Kuroo deu de ombros, ele não liga. Está tudo bem.

Não digo exatamente o que sinto, a verdade é que estou decepcionado e chateado. Pensei que fosse uma boa idéia, talvez ele viesse me devolver a caneta depois da prova e nós conversariamos, mesmo que para ele me dizer que não queria mais nada comigo e se afastar.
Mas pela reação que observamos, é provável que ele só jogue a caneta no primeiro lixo que encontrar. Não é uma atitude que eu esperaria do Kuroo que conversei durante alguns dias, mas não consigo prever as atitudes do Kuroo que está me ignorando desde aquele sábado.

— Te encontro no final da sua aula. — Oikawa diz me dando um abraço.

— Certo.  — Digo.

— Vamos te dar uma carona. — Oikawa diz sorrindo.

Me despido dos dois e sigo em direção ao meu prédio, afasto os pensamentos para poder focar na aula.

Post-it - kurokenOnde histórias criam vida. Descubra agora