9. Kuroo

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Passei os últimos quatro dias ignorando a presença de Kenma na faculdade. Ou pelo menos tentando ignorar.
Sei que ele se senta na mesma mesa todos os dias e odeio o fato de que a fila da salada é em frente à mesa, mas me recuso a comer mal por conta dele.
Algumas vezes o observo comer ou mexer no celular, mas desvio o olhar quando ele olha de volta e ignoro todos os seus sorrisos. Ele é confuso.

Eu não comento isso com muitas pessoas, mas fujo de pessoas confusas, me envolver com elas significa inconstância, e eu odeio estar sempre inseguro e incerto das coisas. Já me envolvi com algumas pessoas confusas, e não foram boas experiências.
Por isso a minha decisão no momento é ignora-lo, mas fica mais difícil quando Oikawa se senta com ele todos os dias. Não é como se eu quisesse que ele ficasse sozinho, não desejaria isso à ele. Mas ver um dos meus melhores amigos totalmente do lado dele me faz questionar se realmente estou fazendo a coisa certa.

Mas eu não posso pensar em nada dessas coisas hoje, preciso fazer uma prova decisiva de final de semestre, e é só nisso que quero focar no momento.

A

bro meu armário quando faltam exatos cinco minutos para a minha prova começar. Quero deixar meus livros aqui, só preciso do meu estojo. Encontro um pacote dentro do armário, é uma caneta, balas e um bilhete "Cuide bem da minha caneta da sorte", sinto um peso no estômago, sei exatamente de quem é o bilhete, e a caneta.
Automaticamente lembro do dia em que ele me emprestou a caneta ou do dia em que conversamos no gramado, as coisas eram tão leves que sinto vontade de voltar no tempo. Falho na missão de não pensar nele hoje. Ele age como se não tivesse compromisso algum, e isso me deixa confuso. Ou ele não se importa de ser um tremendo babaca, ou ele acha que eu não sei do seu namoro. As duas opções parecem horríveis.

Quando o sinal bate percebo a minha respiração descontrolada, certamente pelo fato de estar lutando contra a minha própria mente.
Atravesso o corredor com um pouco de pressa, mas encontro Bokuto.

— Eu quero fazer uma boa prova, mas eu não consigo parar de pensar em como ele me usou e finge que não está acontecendo nada. — Desabafo rápido demais assim que estamos próximos. — Eu odeio relações confusas, com ele estou sempre em uma montanha russa. E também odeio o fato de que parece que para ele está tudo normal, ele e aquele maldito sorriso dele.

Bokuto me olha com surpresa e preocupação, acho que nunca cheguei a comentar sobre como essa situação estava me incomodando nesses últimos dias, e agora acabei de falar tudo de uma vez, sem tempo para que ele pudesse digerir nada.

— Respira e tenta focar nas coisas boas. — Ele diz calmo. — Eu lamento que esteja se sentindo assim, mas estou aqui pra você. Prometo que vamos descobrir por que ele parece ainda estar querendo uma aproximação mesmo depois de tudo. — Me abraça. — Pelo visto ele está preso em uma relação tóxica, o namorado beija outro na sua frente e ele se vinga, mas continua com ele.

Afasto o abraço e mostro à Bokuto o saquinho que recebi de Kenma, ele analisa por um instante.

— Caralho, qual o problema desse garoto? — Bokuto ri indignado.

Dou de ombros e nos afastamos. Sigo para minha sala de aula. Tento seguir os conselhos de Bokuto e pensar no lado bom das coisas.
Kenma certamente está preso em uma relação extremamente tóxica e conheceu alguns gestos simples que fiz, e Hinata certamente
não fazia. Como o enviar bilhetes, ajudá-lo ou simplesmente se sentar com ele para conversar e mostrar interesse em ouvir o que ele tem a dizer.
Nada disso justifica o que ele fez, mas também consigo de alguma forma sentir certa empatia por ele. Não me arrependo por ter tido a oportunidade de mostrar o que Hinata deveria fazer por ele, embora ainda esteja chateado com Kenma.

Post-it - kurokenOnde histórias criam vida. Descubra agora