Enrolo meu dedo no fio do telefone, esperando que Edwina conclua sua frase. Ela está há 10 minutos me dando motivos para conversar com Jack.
Faz apenas alguns dias de que eu falei com ele pela primeira vez, e desde aquele dia, não consigo tirá-lo de minha cabeça. Seu sorriso está marcado em minha mente, posso ouvir sua risada ao me deitar na cama à noite.
Estou estudando por pelo menos 5 horas por dia. Preciso saber todas as matérias, pois há muitos testes surpresas e eu estou tirando notas baixas em todos.
Estamos no intervalo de estudo. Kas deitou-se no sofá, as pernas cruzadas. Kelly está deitado no mesmo sofá, porém de cabeça para baixo.
— Por que você está deitado assim? — Questiono.
— Ah, sei...
— Não mude de assunto. — Ed confronta-me novamente.
— Eu não estou mudando de assunto. — Digo rindo.
— Ela está mudando de assunto, não está? — A moreno pergunta, se virando para nossos amigos. Eles confirmam com a cabeça, sem mal saber do que estamos falando.
— Vocês são um bando de idiotas. Sabiam não é? — Falo enquanto me levanto e caminho até a geladeira.
— Sim, sim, claro. — Kelly se senta no sofá, agora do jeito certo.
— Eu mal o conheço. — Contesto, alcançando o suco de maçã.
— Você mal conhece noventa e nove por cento da escola. — Ailyn rebate, olhando minhas anotações no meu caderno.
— Se eu começar a me aproximar, ele vai me achar super boba. — Encaro o teto novamente. — Ele é mais velho, deve ter várias garotas aos seus pés.
— Ter ele tem, mas rejeita todas. — Kas comenta.
— Viu? — Olho para Ed.
— E daí? Você vai ser quem vai conquistar ele.
— Ah claro, até porque eu sou uma princesa de um conto de fadas. A escola está cheia de garotas bonitas. Até eu preferiria sair com elas.
— Inclusive, menina, você ficou sabendo que a Claire do terceiro ano do ensino médio fez rinoplastia? — Ailyn comenta no meio do assunto.
— Sério? — Viro-me para ela.
— Hurum. — Ela murmura, fazendo que sim com a cabeça.
— Chega! — Ed vocifera. — Nós vamos sair.
— Quê? — Ailyn solta o caderno no
— Agora? — Aponto para o chão.
— Eu não vou sair agora, meu cabelo está feio. — Kas rebate, indignada.
— Não ligo, vamos! — Ela bate palmas, nos obrigando a nos levantarmos.
Levanto-me, o corpo pesado. Damos passos pesados até meu quarto, onde nossas coisas estão.
Tento fazer um coque, mas ele sempre desmancha, então deixo meu cabelo solto.
— Eu não quero sair. — Kasey se joga na minha cama.
— Vamos na lanchonete de sempre. Não é como se estivéssemos indo para uma festa.
— Exato. É a lanchonete mais famosa da nossa região. Pensa comigo. Comida boa mais preço baixo igual à adolescentes lá a todo momento.
— Kasey, confie em mim. Ninguém vai se importar se o seu cabelo estiver bagunçado. — Ed segura a mão da garota.
Kelly fica nos esperando na sala enquanto nos arrumamos no quarto. Ele estava usando suas roupas desde que chegou, então só precisou colocar seus tênis.
Visto uma calça jeans azul e um moletom preto. Não pretendo ficar muito tempo lá. Vamos fazer o de sempre. Pedir lanches e milk-shakes e ficar conversando.
Assim que nos vemos prontas, pego minhas chaves e saímos do quarto. Caminho até o quarto de meus pais e bato na porta.
— Pode entrar! — Minha mãe anuncia.
Abro a porta.
— Mãe, nós vamos sair. — Aviso.
— Sair? Agora? — Meu pai olha para o relógio e depois para mim, se apoiando nos próprios cotovelos.
— Aonde vocês vão? — Minha mãe questiona, preocupada.
— Nós vamos naquela lanchonete de sempre. A que fica perto do mercado.
— Ah, tudo bem. — Minha mãe se deita na cama, aliviada.
— Achei que você fosse a uma festa. — Meu pai suspira. — Quer que eu te leve?
— Não precisa, nós vamos andando.
— E dinheiro? — Minha mãe questiona.
— Nós temos. — Edwina aparece ao meu lado, sorridente.
— Tudo bem... Não voltem tarde. Se vocês não estiverem de volta antes das 22:30h, vamos buscar vocês.
— Ok, ok. — Saímos do quarto, fecho a porta.
Kel abre a porta e nós saímos.
— Está frio. — Ele comenta, soltando o ar pela boca, o mesmo sai branco.
— Estamos chegando em outubro. Daqui a pouco começa a nevar. — Edwina começa a andar para longe da casa.
A acompanho, encarando-a sem que ela perceba.
Acho que ela notou que eu não estou tão bem. Agora noto o que ela está fazendo. Está tentando me aproximar de Jack porque quer que eu fique feliz e acha que Jack pode resolver tudo. Não a culpo, mas me sinto estranha ao lembrar que o conheço há quase 1 semana.
Apresso o passo quando noto que meus pensamentos começam a tomar conta de min.
Observo meus amigos como se eu fosse um fantasma ao lado deles. Não me sinto excluída, pelo contrário. Sinto que esse é o lugar que devo estar, mas mesmo assim...
Esse sentimento sempre está pela metade, nunca inteiro. O sentimento de pertencimento. Eles se tornaram o significado de lar.
Queria que a minha família dominasse esse sentimento, mas infelizmente não posso ter tudo o que quero.
Lembro-me de quando meu pai bebia todos os dias. Lembro-me das brigas com minha mãe. Os mínimos barulhos o irritavam nas manhãs em que ele acordava de ressaca.
Agradeço à Deus todos os dias por ele ter se recuperado.
Minha família não é o único problema.
Há dias em que eu acordo com sombras negras aos meus pés. Os olhos brilhantes e o corpo mais escuro que a escuridão.
Sinto-me observada, como se houvessem milhares de pessoas nas minhas costas, olhando tudo o que eu faço.
É como se eu nunca estivesse sozinha.
Observo a lanchonete de longe. As grandes janelas de vidro me dão uma boa vista de dentro do lugar. A visão é boa o suficiente para que eu veja quem está lá.
Empurro a porta da lanchonete e espero que meus amigos entrem. Ailyn a encosta já que é a última a entrar.
Caminhamos até a mesma mesa de sempre. Sento-me de costas para a porta de entrada. Kasey se recosta na janela, olhando para o cardápio. Edwina se senta entre nós enquanto eu me sento na ponta do sofá booth. À nossa frente, Kelly se apoia na mesa e Ailyn fica à minha frente, também na ponta de seu sofá.
Não demora para que uma garçonete caminhe até nós.
— Alice! Oi, como você está? — Me levanto, indo abraçá-la.
— Oi, estou bem e vocês?
— Estamos bem. — Respondemos uníssono.
— Faz tempo que eu não vejo vocês juntos. — Ela comenta, pegando seu caderno de anotações de seu bolso.
— Eu me mudei para a escola deles. Tínhamos perdido o contato por estudar em escolas diferentes. — Kas explica.
— Ah, faz sentido. — A morena sorri. — Então, vão querer o mesmo de sempre?
Nos entre olhamos e depois fazemos que sim com a cabeça.
— Ok... — Ela anota os pedidos no caderno. — Eu já volto com a comida. — Ela faz carinho no ombro de Ailyn e sai.
Conhecemos Alice desde quando éramos pequenos. Esta lanchonete é nosso ponto de encontro desde os 10 anos.
Levanto a cabeça e observo o estabelecimento. Meu corpo estremece quando seu olhar encontra o meu.
Aqueles olhos azuis inconfundíveis fazem com que eu queira me levantar e ir embora imediatamente.
Os cachos loiros estão presos para trás em um coque. Só percebo minhas mãos tremendo quando minha garganta começa a doer.
— O Problema está aqui... — Edwina sussurra, deitando-se no banco.
— Ugh. — Kasey murmura, encostando sua cabeça na mesa.
— Aquele garoto é insuportável. — Kelly diz. — Você tem sorte que você conhece ele a pouco tempo. — Ele aponta para mim.
Quero concordar, mas lembro que não posso. Lembro-me de que eu conheço ele há mais tempo do que eles pensam.
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𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒: Before.
FanficA Lily Oliv's fanfic. Enquanto tenta deixar suas visões perturbadoras de lado, Mary explora o novo mundo de uma adolescente sociável. Antes que tudo possa desabar, Mary reencontra seus melhores amigos, que a ajudam a passar por seus piores m...