(Alerta de Gatilho:
O relato a seguir possui uma alusão ao suicídio)Pássaros da Morte.
Eles sempre gostaram de me observar.
Desde que era criança costumam vigiar os meus passos, cronometrar minha existência.
Espiando minha vida através das asas negras, e usando de sua beleza etérea para me hipnotizar; me fazendo olhar para os céus como se a qualquer momento fossem sobrevoar minha mente, e me fazer sentir alguma coisa além do vazio que ecoa junto com o bater silencioso de suas asas.Porém eles nunca chegam perto o suficiente, não importa o quanto deseje isso.
Vão e voltam como ondas do mar
e a cada volta se aproximam um pouco mais.
Mas
Nunca
Perto
O suficiente.Diante disso me vejo deitada no chão, com as costas pressionadas contra a cerâmica fria.
As sombras dos Pássaros refletem no meu corpo, fazendo o sol se tornar um borrão, que vez ou outra cega meus olhos, me impedindo de vê-los com clareza. Poderiam ser confundidos com anjos que descem dos céus para buscar as almas há muito tempo perdidas; a luz no fim do túnel que guia aqueles que precisam de descanso para a vida eterna.Ou apenas Ceifadores que arrastam suas vítimas em direção ao Inferno.
Os vejo como uma junção de ambos.
O bem e o mal juntos
formando uma instância
de equilíbrio
que apenas pode resultar
na explosão do caos.É mágico e cruel.
Como se perder no universo do seu livro favorito, e depois de tanto saborear, precisar dizer adeus, deixando um gosto amargo na boca ao perceber que a realidade de seu mundo é tão decepcionante quanto a própria vida.É a última tentativa.
Me fiz essa promessa,
depois de tentar
tantas outras vezes.
É a última tentativa
de tentar alcança-los.A dor que sentia começa a desaparecer, é apenas um incômodo distante; tão longe que minha visão se torna turva, e os pássaros desaparecem e reaparecem em um piscar de olhos. São manchas sem forma nos céus. Meus pensamentos escorrem pelo meu pulso, sujando o chão de vermelho vibrante. Pela primeira vez, consigo sentir a vida pulsando dentro de mim. Como um farol que guia o navio em segurança. Tentando permanecer por mais tempo, afastando os Pássaros inimigos que mesmo assim, teimam em continuar longe.
O que estão esperando? Será que ainda não perceberam que é o que desejo?Continuam voando, mas não se aproximam.
A Morte sempre gostou
de se esconder de mim.
E agora não parece
ser diferente.Um zumbido constante
corta os meus ouvidos.
As batidas no meu peito
se tornam mais lentas.
Tudo fica devagar...
Sinto a calmaria
antes da tempestade.
E me preparo para
o momento seguinte
em que direi adeus a toda
a existência e abraçarei
o outro lado sem nenhum
remorso.Mas a Morte não me abençoa com seu beijo.
Entao continuo ali, sentindo a inércia da irrealidade; presa entre dois mundos e sem pertencer a nenhum deles.

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CAÓTICO
PoésieCaótico: situação sem contorno, e sem controle, sem volta, caótica. Escrever é minha terapia, sempre que preciso desabafar ou "colocar pra fora" o que estou sentindo é para uma página em branco que recorro. "Caótico" nasceu de uma necessidade intr...