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Sagrada blasfêmia.

Parte I

Se tudo o que existe
é obra de um deus,
o quão quebrado
ele estava para
nos criar?

O quão grande
era o vazio de
sua existência
para preenche-la
com o infinito de
um Universo?

Seria deus tão humano ao ponto de se sentir sozinho no imenso nada que existia antes de tudo?

Seria deus vítima da mais poética das solidões?

"Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" - disse ele, e colocou dentro de nós todos os tormentos que não o deixavam descansar, nos cobrindo com medos, inseguranças e angústias.

Pequenas criações veladas de questionamentos sem respostas, com o único propósito de servir de âncora ao um deus limitado por seu egoísmo.

Personagens, apenas personagens

criados para disfarçar o abismo de solidão da alma de um deus quebrado.

O que difere o Criador de sua Criação?

Parte II

"O homem, em seu orgulho, criou deus a sua imagem e semelhança" - Nietzsche.

Pensar que somos filhos de deuses é mais divertido do que acreditar que viemos de uma explosão cósmica.

Que graça teria nascer apenas para sofrer dentro de um sistema que só nos tortura? Fadados a repetir o mesmo dia infinitas vezes até que o cansaço apodreça nossos ossos, recebendo como recompensa a oportunidade de comprar objetos dos quais não precisamos, em uma tentativa fútil de preencher um vazio incurável em nossos corações.

Que graça teria nascer se não existisse algo a mais esperando por nós no pós-vida?

Algo mágico.

Algo grandioso.

Algo preparado especificamente para nós.

É deveras tentador imaginar que aos olhos de um ser divino temos algum tipo de importância, mesmo que mínima.

A Grande Criação.

A única relevante diante de todo o universo.

A única com uma real conexão com um deus.

O quão poderosa são essas sentenças para aqueles que realmente acreditam nesse poder...

Às vezes desejo acreditar.

A existência é solitária para aqueles que desistem de buscar respostas.

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🥀

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