Antonella marcou um encontro com a corretora de imóveis logo após sacar quase todo o dinheiro de sua conta bancária num caixa eletrônico dentro do próprio campus.
O apartamento ficava a 3km da universidade, e Antonella não poderia ir a pé como pensava que podia ir. Era um bom prédio: possuía elevador social e a garota não precisaria descer as escadas com seus saltos altos, a recepção era ajeitada e segura, e a vizinhança parecia calma.
Eram 19h e Drummond esperava calmamente pela corretora de imóveis, em frente ao apartamento com porta azul de madeira e o número 21, tão calmamente que quase dormia em pé.
A albina estava exausta, a rotina de estudos da faculdade de medicina não era o que as blogueiras pintavam no Instagram, muito pelo contrário: de 24 horas de um dia, ela precisava estudar quase 18 horas. O cansaço já tomava conta de seus olhos, que pesavam como se tivessem levantado concreto, e os saltos não eram muito indicados para um rotina de correria entre as salas de aula teórica e prática.
Finalmente exsurgiu pela porta do elevador social, uma mulher trajada de roupas sociais: um conjunto de alfaiataria composto por um blazer e uma calça, ambos na cor menta, também uma camiseta branca lisa, que era da mesma cor de seu scarpin.
ㅡ Ah, aí está você! ㅡ exclamou a mulher, que tinha pelo menos 40 anos. ㅡ Me perdoe o atraso. Podemos começar?
A mulher que se dizia ser da família Jun, avançou pelo corredor, abrindo a porta do apartamento.O apartamento era exatamente da maneira que Antonella esperava: mobiliado e aconchegante.
No pequeno vestíbulo, uma sapateira baixa, em frente a um banco colado na parede, com um cabideiro logo acima de si. E um espelho sobre a sapateira.
Ao lado esquerdo uma cozinha com uma bancada de mármore que ocupava quase toda a extensão do cômodo, uma geladeira prata com duas portas, e um cooktop sobre a bancada. Armários aéreos e embaixo da bancada, uma janela média de frente para a pia e uma mesa que separava a cozinha e o corredor principal.
Na sala, uma televisão de 40" em frente a um sofá retrátil e reclinável de linho com 5 lugares. No centro, uma mesinha baixa de vidro e pernas de ferro fundido e envernizado. Atrás do sofá, uma estante vazada feita com o mesmo ferro e madeira envernizada.
Logo atrás da estante, uma escrivaninha e nichos na parede, próprios para colocar livros.Paralelo à estante de ferro, o banheiro, onde havia um box com chuveiro, uma bancada com cuba acoplada, um vaso sanitário e uma pequena máquina de lavar.
Ao lado do banheiro, no fim do corredor, um quarto com guarda-roupa e uma cama de casal, logo à frent, um quarto exatamente igual.
Ao lado do sofá de linho, o acesso para a sacada, onde havia uma mesa de vidro e duas cadeiras de ferro, envernizadas com tinta branca.
A vida de possível herdeira de uma rede de hospitais no Brasil, havia ensinado a Drummond que toda locação ou compra, deveria ter um contrato assinado por ambas as partes. Mas aquela mulher que se chamava Jun Mi, dissera à garota que não precisaria assinar um contrato e que as coisas na Coreia do Sul não eram assim.
ㅡ O apartamento é realmente muito bom ㅡ disse Antonella, frase que fez com que uma chama de esperança se acendesse no coração da corretora de imóveis. ㅡ Existe a possibilidade de eu pagar 6 meses adiantados?
Antonella havia sacado dinheiro o suficiente para pagar os seis meses logo no primeiro dia, e ainda utensílios de cozinha e produtos de limpeza. Seu cargo de meio período na administração da rede Drummond de hospitais, conjugado com sua mesada, a davam uma boa renda anual.
ㅡ Quer pagar 6 meses de aluguel agora? ㅡ a mulher estava perplexa, se perguntando o porquê de uma moça tão rica querer um apartamento tão simples.
ㅡ O aluguel é barato ㅡ justificou a albina, tirando de sua bolsa dois envelopes gordos, recheados de cédulas coreanas.
ㅡ Está fechado o negócio ㅡ a mulher apertou a mão de Antonella, esboçando o sorriso mais sincero que provavelmente tinha dado em sua vida toda. E logo após entregou as chaves.
Não deu tempo de a garota curtir o apartamento, ela desceu junto com a corretora, e foi então que tomaram um rumo diferente na vida. Antonella, o da faculdade; Jun Mi, o do escritório.
Suas colegas de estudo se arrumavam para mais uma das festas universitárias quando a garota chegou, abrindo a mala que até então nem havia desfeito. Drummond jogou o resto de suas coisas dentro da mala.
ㅡ Quem morreu? ㅡ tudo o que saía da boca de So Yeon era ousado.
ㅡ So Yeon! ㅡ advertiu Ji Soo, enquanto a loira deu de ombros.
ㅡ Estou me mudando.
ㅡ Você... trancou a faculdade? ㅡ indagou Kim Ji Soo, acanhada, temendo estar entrando num assunto sensível para a loira.
ㅡ Não, jamais. Estou me mudando para um apartamento, fica a sete quilômetros daqui.
Aquilo era uma mensagem forte o suficiente para que as meninas entendessem que ela estava se mudando por causa do barulho e bagunça que faziam. No fundo, Ji Soo se incomodava por Antonella ter tomado uma decisão tão drástica sem antes comunicar ou reclamar de sua baderna, mas se sentia aliviada por Drummond sentir a sensação de liberdade para ir e vir quando bem entendesse. O assunto encerrou ali, pois o ar ficou cheio de verdades silenciadas e palavras não-ditas. Antonella deixou o quarto sem olhar para trás, mas com a ciência de que poderia voltar se um dia precisasse.
Àquela hora, alguns mercados ainda estavam abertos, de modo que a garota comprou um prato, dois talheres, módicos produtos de higiene pessoal e uma tigela de lámen. Drummond comeu o lámen no local, e iniciou sua jornada a pé até em casa.
Quando a garota jogou a bolsa sobre o sofá, seus pés já faziam calos devido ao salto alto. O dia não fora nada fácil, mas pelo menos ela agora tinha uma casa, mesmo que alugada.
Foi um deleite tomar banho num chuveiro quente, este que não teria que disputar e dividir com mais três meninas. A água quente escorrendo por sua nuca fez com que escapasse um leve gemido de sua boca, Antonella havia esquecido o quão bom era um banho quente após um dia longo.
Ela vestiu seu pijama de ceda, mesmo sabendo que estava frio demais, e que só o pijama não a esquentaria durante uma noite inteira.
Não demorou muito até que pegasse no sono quando caiu na cama, exausta e com o corpo dolorido.
E também não demorou muito até que uma série de barulhos no interior do quarto fosse ouvida: alguém revirando o armário.
Tudo o que Antonella pôde ver antes de começar a gritar desesperadamente, foi uma silhueta masculina corpulenta, iluminada pela iluminação pública que entrava pela janela.
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Apartamento 21 - Lee Know
RomanceTalvez recomeçar a vida em outro país, vendendo flores para pagar o aluguel de um apartamento dividido com o pior garoto do mundo, fosse a coisa mais ousada que uma herdeira mimada pudesse fazer.