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  Antonella chegou à faculdade antes mesmo que Lee Minho abrisse os olhos.

  A ideia de dividir somente o apartamento com aquele ser nefasto, parecia, de longe, muito melhor do que ter que dividir a cama. No quarto que sobrara para Antonella, não tinha nada além de uma cama e uma mesinha de cabeceira perfeitamente quadrada com duas gavetas.

  As luzes da sala de aula ainda estavam desligadas, mas assim que Drummond teve a ousadia de estender o braço para o interruptor, viu que Jeong In dormia sobre a carteira atrás da carteira que a loira costumava sentar-se. Estava indiscutivelmente cedo, talvez fosse 6h da manhã, e mesmo assim Yang dormia sobre papéis espalhados por toda a mesa.

  ㅡ Jeong In? ㅡ indagou ao ver que ele levantava a cabeça povoada por fios negros desordenados e cheios de frizz.

  O garoto franziu o cenho e apertou os olhos diante da luminosidade repentina e da visão da garota albina, que brilhava sob a luz fria das lâmpadas da sala:

  ㅡ Antonella? O que faz tão cedo aqui? ㅡ Yang se esforçou para recolher os papéis sobre a mesa, mas não demorou muito até que desistisse de organizar a bagunça.

  ㅡ Eu que deveria estar fazendo essa pergunta, mas está bem ㅡ a loira largou a bolsa e os cadernos sobre sua carteira habitual na frente do garoto coreano. ㅡ Digamos que estou fugindo de casa ㅡ ela se apoiou na mesa, encarando os rabiscos de caneta que se debruçavam sobre os papéis do amigo. Ele já tinha letra de médico.

  ㅡ O que tem em casa? Uma ratazana rabugenta da qual você não consegue livrar?

  Ela pensou e pensou. Em ambas as casas haviam ratazanas rabugentas das quais ela não conseguia se livrar: no Brasil, Hortência; na Coreia do Sul, Lee Minho.

  E mesmo que nenhum desses lugares fosse sua casa, ainda eram os únicos lugares onde ela tinha um teto e comida.

  ㅡ Bem, sim ㅡ depois de um longo tempo encarando o teto de gesso, ela voltou os olhos para o garoto.

  ㅡ Eu posso matá-la para você ㅡ ele se prontificou, mostrando o bíceps minimamente grande. Em seguida dirigiu-lhe um sorriso descontraído.

  Antonella esboçou um sorriso triste, encarando os sapatos de salto pretos de bico fino com um laço na tira, da marca Jimmy Choo. Não era como se ela desejasse a morte de Minho, isso chegava a ser crueldade, mas queria se ver livre de toda a sua idiossincrasia e índole duvidosa.

  ㅡ Não é tão simples quanto parece.

  Aquilo foi o suficiente para que Jeong In entendesse que a albina não estava falando de um rato propriamente, mas de uma pessoa. Então emitiu um "ah" constrangido.

  Num segundo, Drummond se recompôs, cruzando os braços de maneira despretensiosa à frente do corpo:

  ㅡ E você? Por que está aqui tão cedo?

  ㅡ Não tenho conseguido dormir direito, então vim para cá estudar, assim que os portões abriram.

  ㅡ E o final eu já sei, você acabou dormindo ㅡ ponderou Antonella, cruzando os braços à frente do corpo coberto por uma camisa social de seda azul ciano.

  ㅡ É... ㅡ um sorriso comedido tomou seus lábios conforme ele encarou o material espalhado pela mesa, tímido. ㅡ O que achou da Camélia? ㅡ indagou, elevando a cerviz ao mudar de assunto.

  Drummond se sentou sobre o tampo de sua carteira, cuidando para não a derrubar.

  ㅡ Confesso que não sou a maior fã de floriculturas, mas aquela me tocou de verdade.

Apartamento 21 - Lee KnowOnde histórias criam vida. Descubra agora