O início dessa vida

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A vida é cheia de altos e baixos, uma hora estamos bem e na outra estamos no fundo do poço. É assim que me encontro, sem dinheiro, casa e o que comer. Apenas a minha vida normal de sempre, a forma precária que vinha vivendo me afetou mais que o normal nessa semana me fazendo ter que ficar na rua.

Andando na chuva com a minha mala, me pego pensando na possibilidade de me jogar no rio Han — talvez seja menos doloroso morrer logo — digo a mim mesma a caminho da ponte que atravessava o rio, vejo um anúncio em um poste na calçada que andava.

" Aceitamos trabalho como forma de pagamento por moradia. "

Franzi o cenho sem acreditar em tal anúncio, contudo, é melhor do que morrer.

Pego o celular e disco para o número do anúncio e escuto uma voz feminina atender. Pergunto sobre as condições de trabalho e ela me explica tudo direitinho e acabei por aceitar a oferta.

Pediram para ficar onde estava que viriam me buscar, sentei em minha mala e esperei minha carona — bom, se pelo menos não me matarem está no lucro, iria fazer isso de qualquer jeito! — vejo uma luz me cegando e um carro preto parou ao meu lado.

— Senhora Sun? — pergunta uma senhora no banco do carona.

— Sim, sou eu — digo olhando para dentro do veículo e vendo pessoas normais, pensei que seriam tipos agiotas ou criminosos a buscarem.

— Ótimo, entre por favor, vamos te levar para sua nova casa — assenti e entrei no veículo sendo levada.

Sn - Pov.

Iria visitar a minha mãe no trabalho dela hoje, desde que perdi o emprego tenho tempo de sobra e resolvi ver com meus próprios olhos, a casa de que tanto fala.

Desde pequena escuto as histórias da minha mãe sobre a mansão dos setes. Sempre contava sobre como as pessoas que não enxergavam saia vendo tudo ou o mais pobre coitado saia rico, uma história mais mirabolante que a outra. Por um tempo pensei ser tudo invenção da mais velha para me entreter, porém, ela nunca deixou de contar essas histórias, mesmo eu sendo adulta agora.

Agora parada em frente onde ela trabalha vejo que uma parte das loucuras dela, é real. Gramado verde a se perder de vista, uma entrada elegante e ao mesmo tempo rústica em pedra. Jardins bem cuidados e a mansão imponente ao fundo da visão, um verdadeiro conto de fadas — Pelo menos não está totalmente louca — resmungo ao entrar na propriedade. Vejo bastante gente trabalhando nos jardins, assim como dentro da mansão e, por incrível que pareça, todos felizes.

Paro na entrada da casa admirando a linda decoração do ambiente, um lustre se fazia notar antes mesmo de entrar na casa. Grande, brilhante e imponente, fiquei hipnotizada até ser retirada do meu transe.

— É a filha da Senhora Sun? — pergunta um senhor vestido com um terno estilo pinguim.

— Sim, eu mesma — me abaixei cumprimentando o mais velho que sorriu assentindo.

— Sim, sim, ela deixou sob aviso a sua vinda, é por aqui minha jovem — Esticou um braço apontando a direção que deveria ser seguida, assenti o seguindo pelo longo corredor repleto de quadros com um lindo tapete estendido no comprimento do cômodo. Passei por repletas pessoas trabalhando e algumas cantarolando felizes.

— Deve ser maravilhoso trabalhar aqui!? — Disse mais a mim mesma do que com o senhor que me guiava, mesmo assim ele fez questão de responder.

— É sim, menina, todos aqui trabalham felizes por não se preocuparem com nada o ano todo, apenas pensando no desejo que poderá pedir — Continuei andando, seguindo o pequeno senhor até avistar minha mãe na cozinha, junto com outras mulheres de diferentes idades.

— Sn querida, não é que veio mesmo — Estava tão surpresa que foi quase como um susto me ver ali.

— Disse que viria, mãe — A mais velha sorriu limpando as mãos cheias de farinha no avental, me abraçou sem jeito voltando para sua bancada, onde sovava pão — Se me der alguns minutinhos, já te levo para um passeio mostrando tudo por aqui.

— Tudo bem, te espero — fiquei de pé vendo ela terminar seu serviço, assim como todas as outras mulheres presentes, apenas um homem tinha entre elas, só que o homem não me olhou a nenhum momento. Continuei a olhar para todos os lados até escutar minha mãe chamando.

— Acabei, vamos? — Assenti segurando firme minha bolsa no ombro. Andamos pela casa, ela cumprimentava todos que via com um sorriso recebendo o mesmo, era tanta felicidade em um só lugar que me fazia estranhar tal alegria.

Paramos em uma biblioteca gigantesca de dois andares, para onde olhava só se via livros e mais livros — Aposto que da casa inteira foi o lugar que mais gostou — a mais velha falou me fazendo olhar para ela.

— É realmente linda, gostaria de passar meus fins de noite enfiando a cara nos livros aqui — Admirei por uma última vez antes de sair do cômodo. Passamos por mais alguns corredores, até sair em uma porta nos fundos dando de cara com o belíssimo jardim.

Era repleto de flores de todas as cores e tipos diferentes, cada uma mais bela que a outra fazendo parecer um sonho.

O perfume era extasiante, o cheiro doce de cada flor misturados na brisa leve que passava dava ainda mais certeza de que era um sonho esse lugar. O pior é que de tudo que vi nesse lugar, nem de longe era a coisa mais linda do que a pessoa caminhando no meio das flores.

Alto de pele branca e cabelos pretos, olhos misteriosos e afiados, com uma expressão séria, recatada. Apenas seguia em frente sem nem se importar com quem o olhasse, apenas olhava para frente até que percebeu meus olhos em sua pessoa, como imã os seus encontrou os meus.

E juro que vi as estrelas dentro das orbes negras que nem à noite.

A casa dos DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora