Os desejos

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Sua pessoa era tão hipnotizante que não conseguia desviar meus olhos dele, acompanhei o caminho todo, vendo ele se aproximar. Como um efeito sobrenatural, minha respiração ficou presa sentindo o nervosismo de sua presença.

Fiquei paralisada vendo ele parar a minha frente e me olhar com um quê de dúvida.

— Quem é você? Nunca te vi aqui... é sua filha Senhora Sun? — mirou a mais velha que assentiu sorrindo, voltou a me olhar e sorriu de jeito carinhoso — Dá para notar a semelhança entre as duas.

— Não é linda a minha menina? — após a pergunta da mais velha, ele inclinou o corpo para frente abaixando levemente até ficar da minha altura, o que me deixou com a visão detalhada de cada traço do seu rosto.

— É linda sim, tão linda que parece um desejo meu, tem certeza que escolheu felicidade? Temo que tenha escolhido beleza para a sua filha — franzi o cenho com tal conversa, felicidade? Beleza? Como assim desejo? Minha mente ficou repleta de perguntas.

— Escolhi felicidade sim, jovem patrão, tenho certeza que o senhor Jung me agraciou com seu dom — passou a mão em meu braço — minha menina é linda por que fui feliz e bem cuidada, nasceu linda por conta de vocês, meus sete anjos — ele sorriu se afastando, ajeitou seu cabelo liso para trás me olhando pela última vez.

— Espero que seu tempo aqui seja tão belo quanto o da sua mãe, só entra por aquele portão quem precisa e vejo que é a sua vez de fazer um desejo — se virou e foi embora, pelo mesmo caminho que veio.

— Desejo? Que desejo? — Me virei para a minha mãe confusa, tudo aqui me deixou tão confusa.

— Vou te explicar tudo querida, como ele disse, só entra nessa casa quem precisa e é trabalho seu descobrir isso... não me olhe assim, não sou louca! Vou te explicar melhor, vem, vamos sentar.

Andamos até um banco de pedra no meio das flores, o sol fraco e a brisa fresca dava um ótimo lugar para conversar.

Mirei os olhos da mais velha vendo uma pequena dor crescer, sentia que ela iria finalmente me contar sobre seu passado, algo que nunca falou e também não tive coragem de questionar.

— Há exatamente vinte e cinco anos atrás, estava sozinha e desamparada, tinha acabado de descobrir que estava grávida. Meus pais me colocaram para fora de casa e seu pai desapareceu quando descobriu, fiquei na rua, sem ter o que comer, dinheiro e um teto para morar — estava de cabeça baixa olhando para as mãos.

— Mãe, se não quiser contar tudo bem.

— Não, eu preciso para você entender as coisas — respirou fundo — estava indo me matar, nós matar Sn, eu... eu... eu não queria sofrer daquele jeito e você também sofreria comigo quando nascesse... só pensei em me matar para acabar com o sofrimento.

A abracei de lado vendo as lágrimas caindo de seus olhos, já estava ficando igual a ela quando a mesmo continuou.

— No caminho para o rio Han vi um papel dizendo aceitar trabalho como forma de pagamento por moradia, pensei que seria perigoso ou algo relacionado a tráfico, não sei, apenas pensei o pior. Liguei e me buscaram lá mesmo, e me surpreendi quando cheguei aqui — limpou o rosto, abriu um sorriso limpando meu rosto em seguida.

— Então veio morar aqui? Tipo, trabalha aqui desde que eu nasci? - ela assentiu e fiquei surpresa.

— No começo fui arisca, ainda pensava ser algo errado e aos poucos fui vendo que se tratava de um lugar especial, onde as pessoas que precisam veem e nos achamos aqui. É um lugar de cura ,filha, um lugar mágico onde nós mesmos nos conhecemos e vemos o que mais precisamos.

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