O Martelo de Aço

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     O trotar dos corcéis tollserianos rasgava a silenciosa noite, a equipe encabeçada pelo assíduo espadachim real avançava velozmente rumo ao encontro do misterioso caso descrito pelo pastor mambrenense. Drake ia a frente, dando, vez ou outra, instruções aos seus companheiros de viagem, logo atrás galopavam lado a lado Sophie e George, a garota tremia de empolgação, ansiava como nunca por aquela ocasião, à medida que passava pela estreita vereda, a figura paterna tornava-se mais viva e tangível, imaginava consigo o que seu pai faria naquela ocasião, sentia seu estômago gelar e sua respiração ficar mais ofegante, queria que de alguma forma seu pai pudesse vê-la e sentir orgulho. O filho de Édipo seguia calado, com um olhar vago no horizonte, sua feição escondia uma angústia densa, saíra mais cedo de casa sob xingamentos e cusparadas, o pai, desde que fora abandonado pela esposa, atribuíra a ele seu infortúnio, o que tornara a vivência daquele lar insuportável. Por último, vinha James, desajeitado sobre um cavalo pardo de crina trançada, queria por um segundo que fosse, distanciar-se do grupo para meter no mato mais próximo seu lenço azul-escuro.

     Assim que a manhã surgiu no horizonte, a comitiva parou junto a um grotão para dar de beber aos animais, mais que depressa, George se adiantou e fez uma fogueira, onde posteriormente se achegariam os demais inquisidores para se aquecer do frio matinal e tomar um pouco de café. Alguns pássaros começavam a cantar timidamente, o ar úmido enchia os pulmões de um agradável aroma refrescante, o sol já emitia seus primeiros raios, e quem entendia de clima sabia que o dia seria ensolarado e de poucas nuvens.

- Caríssimos, preciso que se organizem rápido, não é prudente atravessar a estrada dos Montes Om'rai à noite. – Advertiu o mosqueteiro. – Mesmo em um grupo seleto como o nosso, deve-se evitar confronto direto com os assaltantes que rondam estas regiões.

- Des-desculpe, Drake, mas por que a Milícia de Toll não faz nada pra impedir esses ladrões? – perguntou J.D. enquanto bebia um gole de leite de cabra. – Desde criança escuto minha mãe falar sobre esses malditos, e muita gente já morreu nesses assaltos.

- É uma questão complexa, mister Dragon.

- Complexa? Que nada! – cuspiu George. – Rapaz, você é muito ingênuo, não sabe que esses ladrõezinhos de meia pataca são apenas piões de um jogo maior?

- Eu já havia pensado nisto. – Apontou Sophie. – Provavelmente algum senhor feudal, ou mesmo alguma autoridade clerical deve estar por trás disto. Certa vez escutei meu tio dizer a Henry que não poderia enviar ninguém para essas estradas pois um tal de "Embargador" estava na região.

- Eu também já ouvi esse nome. Ontem na taverna, aqueles debiloides que eu soquei estavam pronunciando pragas a esse Embargador. Provavelmente são escória desse homem.

- Mas caríssimos, isso não cabe a nós. Vejam, além do mais, não temos autoridade para nos envolver em crimes desta estirpe. Somos inquisidores, nossa legislação é restrita apenas para as criaturas e atividades sobrenaturais. Diante desses casos, cabe a jurisdição de cada vila se impor.

- Você fala muito bonito Drake, mas isso me cheira à covardia. – Retrucou a garota com olhar de desaprovação.

- Hahaha... ex amore et oboedientia, Sophie! – gargalhou George.

     A língua da herdeira de Slock coçou, mas ela a prendeu ao céu da boca, nunca o rosto de George Crann lhe fora agradável, sobretudo quando perdeu uma queda de braço para ele há alguns meses.

- Bem, precisamos ir, mas antes preciso propor algo a todos. – Anunciou Drake, sentindo a tensão dos dois inquisidores.

     A fogueira já estava em brasas, James que havia se levantado a pouco para estalar a coluna, sentou-se novamente junto ao demais, enquanto disfarçadamente escondia o lenço azul-escuro debaixo de um pedaço de madeira.

Inquisição - Crônicas do ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora