Fogo, Suor e Lágrimas

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- Mas, mãe... Eu não quero ser um inquisidor! – Replicou J.D., enquanto caminhava ao lado de sua mãe trazendo um feixe de lenha.

- Filho, por que você não quer ser inquisidor? É uma profissão tão bonita! – Apontou Dona Rose, parando para colher algumas frutinhas silvestres à beira do caminho. – Aliás, seu pai foi um inquisidor muito forte! Você não imagina como ele vai ficar feliz na hora que acordar e ver que o filho dele virou um baita de um inquisidor!

- A senhora ainda tem esperança de o papai acordar?

- Claro, filho, todos os dias rezo a Deus que cure seu pai. A gente não tem dinheiro, mas isso não significa que não devemos ter fé. – Assentiu com um sorriso.

- Mas, mãe, eu não levo o menor jeito com isso! – Disse James, voltando a ficar chateado. – Isso tudo deve ser ideia da Sophie, é sobre isso que vocês duas tanto ficam conversando, né? – Questionou, enquanto sua mãe sorria, achando graça.

- Hoje você não entende, filho, mas logo logo vai entender, vai criar juízo... Escute... – Dona Rose falou, com um olhar terno e meigo, segurando a bochecha de seu filho. – Um homem deve fazer o que deve ser feito, mesmo que isso seja difícil ou doloroso. O caráter de um homem não está no quanto ele ganha, mas está no quanto ele é capaz de se esforçar para fazer o que é certo!

     Este diálogo ficou se repetindo diversas vezes na memória de J.D. no momento em que descia os montes Om'rai com a pequena criança em seu colo. Algo o fazia sentir que estava sendo seguido, os pelos de seu braço começaram a se ouriçar, e ainda faltavam vários metros até que chegasse ao lugar em que tinham amarrado os cavalos.

- Um homem deve fazer aquilo que é para ser feito... Um homem deve fazer aquilo que é para ser feito... – Ficava repetindo para si mesmo, até que uma neblina, já conhecida, envolveu a floresta em que estava.

     James notou instantaneamente do que se tratava, o medo, novamente dominou-o. Parou de correr por um instante, segurou o bebê com firmeza, mas com delicadeza. Olhou para o céu, só conseguia enxergar as folhagens exuberantes da mata fechada. Andou mais um pouco em meio à densa neblina, a cada segundo que se passava, o caminho parecia sumir paulatinamente em frente aos seus olhos. Continuou tateando por alguns instantes às cegas, temendo cair e machucar a pobre menininha.

     O rapaz estava ofegante, seu suor escorria pela sua face, um suor frio, com odor de preocupação. O bebê havia começado a chorar novamente, estava com fome e com dor. Nada do que James tentara para acalmá-la obteve sucesso, de repente, em meio ao silêncio sepulcral da mata, James ouviu o estalar de folhas secas e pequenos galhos se quebrando. A bruxa estava chegando.

- O-o que eu faço? Meu Deus, me ajuda! – Sussurrou o calouro do Santo Ofício. – Calma, bebê, fica quietinha... por favor... por favor...

     Quanto mais o rapaz chacoalhava a recém-nascida em seus braços, mais a pequena chorava. O odor fétido da morte começou a impregnar o lugar, J.D. passou a ouvir com maior precisão e mais intensidade os passos pela floresta. Abraçou a menina, e pôs-se a correr, não sabia como, mas mesmo sem enxergar, sentia seus sentidos guiando onde pisar e os lugares em que devia desviar, correu muito até que chegou a uma parede de pedra, na verdade, ele não podia enxergar, mas estava bem em frente a uma grande rocha. Estava encurralado, do lado esquerdo havia uma queda de altura que não dava para se medir, do lado direito, a mata era muito fechada, e vegetação agreste e espinhosa representava um perigo iminente em meio àquela névoa. Encostou suas costas na parede rochosa, e virou-se para o lugar de onde havia vindo, em direção aos sons que o perseguiam.

- Bom, fim da linha... Como vou lutar sem meu machado, e ainda segurando este bebê? – Pensou. – Seja lá quem estiver aí, cuidado! Eu estou armado, vou matar quem quer que seja! – Gritou o rapaz, tentando manter o tom desafiador.

Inquisição - Crônicas do ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora