BAD BOY, GOOD LIPS #1

dois: lugares que não nos pertecem

ALINA AUDREY

MEU CORAÇÃO QUERIA saltar pela boca ao entrar na sala de aula. Muitas pessoas já estavam em seus lugares e minha mente começava a girar em insegurança. Não ajudou nada para minha timidez que as pessoas me encarassem assim que eu passei pela porta.

Me sentei no meio da classe, para não ficar nem tão no fundo, nem tão na frente. Os alunos estavam em silêncio. Talvez fosse porque era começo de semestre e quase ninguém se conhecia. Aos poucos, murmúrios eram soltados e até mesmo risadas.

Ao meu lado, uma menina de cabelos pretos lisos estava mexendo no celular, queria falar com ela, mas não sabia nem por onde começar.

Ela podia — ou não — fazer o mesmo curso que eu. Por ser obrigatório, a aula de antropologia estava cheia, e não só por estudantes de artes cênicas, mas por muitos outros cursos para cumprir grade.

Quando ela se virou para mim, me peguei observando-a atentamente, notei que seu corpo era totalmente cheio de tatuagens, conseguia ver seu outro braço fechado de desenhos, até mesmo seu pescoço tinha algumas figuras desenhadoras. Mas o que me impressionou, foi pequenas sardas embaixo de seus olhos que estavam pesados de maquiagem, quase escondendo os pequenos olhos puxados.

— Acabou de me analisar? — Perguntou-me, minhas bochechas ferveram e eu senti minhas mãos começando a suar.

— Desculpe-me. — Virei para frente, disposta a ignora-lá. Provavelmente ela estava estressada por ser o primeiro dia da faculdade, quem sabe. Porém lembrei que eu estava duas semanas atrasada, ou seja, apenas eu e outras pessoas teriam seu primeiro dia hoje. Odiava estar em um lugar novo, sem conhecer ninguém. Eu podia não ter amigos na minha cidade natal, mas todo mundo se conhecia, ninguém era realmente um estranho por lá.

O professor chegou um pouco atrasado, mas pelo seu andar lento e descontraído, ele não se importava. O professor de Antropologia parecia estar no auge dos cinquenta anos, com cabelos grisalhos e vestido com um terno marrom meio gasto. Sua mão tremia um pouco quando escreveu seu nome na lousa: Donald.

Confesso que mesmo sendo estudiosa, eu odiava assistir as aulas, o sono me pegava desprevenida ou começava prestando atenção e, quando percebia, minha atenção estava em alguma mosca que voava através da sala.

Conforme a boca do professor foi mexendo, mais perto da distração eu estava, me peguei pensando no menino da escada, com seus cabelos escuros, algumas mechas cacheadas caiam pela sua testa, suas sobrancelhas mostraram algumas expressões em seu rosto que eu queria saber o que significavam, provavelmente ele deve ter pensado que sou uma louca que não sabe andar sozinha, e realmente eu não sei andar sozinha, me perco facilmente se não tiver placas óbvias indicando a direção correta de tal lugar. Pensei novamente na forma como suas mãos me seguraram, se eu fechasse os olhos, podia sentir suas mãos fortes e cheias de veias segurando meus braços para me impedir de cair. A camisa de alguma banda de rock e a calça um pouco justa demais que quando ele se virou, consegui ver — não que eu quisesse — sua bunda apertada. Lambi meus lábios pois eles ficaram secos do nada. A forma como meu corpo reagiu foi tão estranho. O que tinha de diferente no menino da escada que o fazia se destacar por onde andava?

Mal percebi quando todos se levantaram e começaram a sair da sala. Estendi meus braços, me espreguiçando, apesar de não ter prestado atenção em nada que o professor de Antropologia falou. Me arrependi de ter pensado no garoto da escada, ele deveria me achar nojenta igual os outros garotos da minha cidade natal pensava. Balancei a cabeça e parecia que havia chumbo nas minhas costas.

Normalmente eu tentava me convencer de que pessoas são diferentes, mas é difícil pensar nisso quando todas as pessoas ao seu redor falaram a mesma coisa para você.