cinco: fight club

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Seu carro parecia ser algum daqueles clássicos, nunca fui fã de carros, então não fazia a mínima ideia de que carro era aquele, mas era semelhante ao que o Dean da série Supernatural tinha. Seus dedos batucavam no volante enquanto uma música — também clássica — passava em seu rádio.

— Não gosta de The Beatles? — Perguntou, depois de um tempo em silêncio. Tinha ficado completamente sem reação ao ver Jaeden me oferecer carona, não queria ter que voltar a pé para o dormitório à noite, mas fiquei com vergonha de estar incomodando-o. Lembro-me de colocar a mão no coração pelo susto que ele me deu, em seguida, caminhei à passos lentos até o carro, sempre sentindo os olhos de Jaeden sob mim.

— Gosto, embora essa não seja minha música favorita da banda — respondi, causando um silêncio, que logo foi preenchido pelo seu tom grave.

— Então, qual é sua música favorita?

Let it be — falei, começando a sentir minhas bochechas pegando fogo. Me achava estranha por só gostar de coisas antigas, durante o ensino médio, as pessoas estavam ocupadas falando sobre músicas da atualidade e eu, ouvindo músicas de décadas atrás. Talvez tenha sido por isso que meus colegas não chegavam perto de mim, mas eu sabia que era por causa de minha aparência. Meu jeito de ser só mostrava que eu era muito mais estranha. Jaeden me encarou, com seus olhos amendoados e intimidantes. Ele nem ao menos percebia que eu queria me encolher por causa de seu olhar? Ao mesmo tempo que era fascinante, era completamente intimidante. Não sabia sobre o que conversar com ele, parecia que não tínhamos nada em comum, e isso me deixava com hesitação ao conversar com ele. — Eu gosto, sempre que ouço a melodia do piano, penso que estou em paz. — Olhei para seu rosto que estava focado na estrada em sua frente, um vinco se formava em sua testa.

— Tem razão. — Parou em um farol vermelho. Retirando uma fita de dentro do rádio, e pegando outra, logo colocando no compartimento.

— Uau, seu rádio é de fita cassete? — perguntei, mesmo sabendo da resposta. — Meu pai tinha um desses em casa, lembro que quando eu era criança, sentávamo-nos na sala e colocávamos a fita, ouvindo muitas músicas antigas. — Abri um sorriso, quase me arrependi de ter ido embora e deixado meu pai, mesmo que eu soubesse que ele ficaria bem. A saudade era o pior veneno existente. Nós sempre fomos mais próximos, ele me tratava como seu bem mais precioso, não foi surpresa quando cresci com gostos semelhantes ao dele: lia livros e ouvia músicas de décadas passadas.

Jaeden olhava para mim com brilho nos olhos, e um sorriso de lado estava começando a aparecer em seus lábios avermelhados.

Logo, a música do Beatles começou a soar, e não pude me controlar ao cantarolar baixinho junto com Paul McCartney. O carro voltou a andar, e às vezes me pegava olhando para Jaeden no canto dos olhos, vendo seu sorriso transformar seu rosto. Era bom vê-lo sorrindo ao invés da sua expressão que refletia sua raiva. Mesmo que eu não soubesse do que ou de quem ele sentia tanta raiva.

Me vi perdida ouvindo as músicas que fizeram parte de minha infância. Para mim, não era comum alguém gostar de música antigas como eu, embora Jaeden tenha até mesmo um compartimento para fitas cassete, o que eu achei que tinha sido extinto há algum tempo.

— Sempre gostei de músicas antigas. Como não gostava muito do meu tutor e nós éramos bem pobres, comecei a pegar objetos do lixo, um desses objetos era uma vitrola, com alguns discos de vinil e uma bolsa com inúmeras fitas cassete. — Começou a contar, o olhei curiosa, querendo saber como foi a vida dele antes de ser adotado.

— E seus pais? — perguntei cautelosa, não sabia como Jaeden reagiria quando falavam sobre esses assuntos com ele.

— Não me lembro deles, eu era uma criança, tinha cerca de três anos quando morreram em um acidente de carro. Tenho fotos deles, mas não me lembro de nada. — Talvez o sentimento que ele esbanjava fosse de decepção, não era nem tristeza, e sim decepção. Como se estivesse decepcionado por não conseguir se lembrar de seus pais. — Depois, minha tutela foi para o meu tio, ele era um alcoólatra horrível, não demorou muito para que eu fugisse de casa. Fiquei nas ruas durante um tempo, até que me pegaram roubando e me levaram para um orfanato.

BAD BOY, GOOD LIPS #1Onde histórias criam vida. Descubra agora